A vereadora Camila Rosa (PSD) teve o microfone cortado pelo presidente da Câmara Municipal de Aparecida de Goiânia, André Fortaleza (MDB), em meio a discussão sobre as cotas de gênero nas eleições proporcionais. Os ânimos se exaltaram e, sem deixar a parlamentar responder, o vereador pediu respeito por ser presidente e cortou sua fala.Abalada, Camila chorou durante a sessão, realizada na manhã desta quarta-feira (2). A parlamentar é a única mulher na Câmara de Aparecida. Além dela, também foi eleita Valéria Pettersen (MDB), que se licenciou para ocupar cargo na Prefeitura de Goiânia.Tudo começou um dia antes, na terça-feira (1º), quando André discursou contra as cotas de gênero. "Nós temos que parar com esse país nosso, onde tudo tem que ter uma vantagenzinha (sic), é mulher, é o deficiente, é o negro. Eu sou contra cotas, pra mim tinha que acabar com tudo. A mulher é igual ao homem e o ser humano tem que ser igual, tem que ser avaliado pelo caráter e não se é masculino ou feminino", disse. No fim da sessão, então, Camila pediu a palavra e discursou pela ocupação de mais cargos políticos por mulheres. "O esforço para que mais mulheres ocupem lugar na política é uma pauta mundial e vemos também que quanto mais os países são evoluídos, mais mulheres a gente tem com cargos na política, em cargos de direção nas empresas, e ir contra isso é preconceito", disse a parlamentar, que continuou defendendo as cotas tanto para mulheres quanto para outros grupos marginalizados, como pessoas negras e indígenas.Ainda na terça-feira (1º), a vereadora publicou em suas redes sociais uma foto sua na sessão com a legenda: "Usei meu espaço de fala para defender a importância da mulher na política e os direitos de todas as minorias que são rejeitadas e discriminadas na sociedade. Não toleramos mais preconceitos! Vou lutar até o fim pela igualdade e o respeito. O espaço político é de todos", escreveu.Nesta quarta, então, André decidiu rebater a postagem. Ele alegou que suas palavras teriam sido distorcidas, em referência ao discurso do dia anterior contra as cotas. "Eu não sou contra a classe feminina, eu sou contra cota, eu sou contra oportunismo, ilusionismo e, por mim, não adianta, pode ser mulher, pode ser homem, pode ser homossexual". O presidente ainda citou a postagem da vereadora e disse: "Eu não sou machista, eu sou contra fake news, isso aqui pra mim é fake news". O parlamentar chegou a usar argumentos como o fato de ter mãe ou irmã. "Eu não vi eu sendo preconceituoso ou machista porque falei que sou contra cotas."A vereadora pediu a fala para responder e destacou que em nenhum momento se referiu ao parlamentar. "Eu não disse que o senhor era contra cota, agora se o senhor entendeu isso, a carapuça pode ter servido, porque o senhor sempre fala de caráter, de transparência, parece que o senhor tem algum problema com isso", disse.CorteFoi quando os dois começaram a exaltar, enquanto a vereadora pedia respeito. André rebateu alegando que a parlamentar teria faltado respeito com ele ao dizer que a carapuça lhe serviu e mandou cortar o microfone de Camila. O vereador continuou falando, enquanto Camila tentava se fazer ouvida, sem o direito ao microfone. André alegou que só devolveria a fala à parlamentar quando ela "o respeitasse". Quando finalmente o presidente deixou a vereadora falar, ela já estava aos prantos."É isso que fazem com as mulheres na política, é por isso que a gente precisa procurar os nossos direitos. O que eu disse foi justamente isso. Não é uma questão de querer correr atrás de cota, a política, desde a sua existência, vem de um espaço machista. É necessário que nos espaços de poder estejam mulheres, negros, índios e pessoas da comunidade LGBT, que representam essas classes que sofrem a dor do preconceito", disse Camila, visivelmente abalada.Ela também reforçou que em nenhum momento falou que o vereador era contra cotas. "É o senhor que está dizendo". Camila ainda disse que o presidente estava fazendo isso não para atacá-la, mas para atingir o secretário de Articulação Política, Tata Teixeira. "Eu não quero estar nessa briga de vocês. Não venha o senhor querer me desmoralizar. Não vou aceitar isso."André respondeu dizendo que não tem nada contra o secretário citado e alegou que a vereadora, que ainda chorava, estava encenando. Ela se defendeu negando a fala do presidente. A vereadora, depois, publicou nas redes sociais que iria cancelar sua agenda do dia, devido ao abalo causado pelo episódio na Câmara. A reportagem tentou contato com Camila, mas ainda não obteve sucesso. Ela chamou coletiva para a tarde desta quarta, às 17 horas, no 1º Distrito Policial de Aparecida de Goiânia. A ideia é prestar esclarecimentos à imprensa e informar as medidas que serão tomadas. André disse ao POPULAR que não foi autoritário e insistiu nos argumentos apresentados no plenário. "A vereadora começou a se exaltar e eu pedi pra ela me respeitar. Quando ela acalmou, eu retornei a fala para ela."Ele ainda se defendeu: "Eu não humilhei a vereadora, mas o debate na Casa de leis é válido. A hora que ela fala que a carapuça serviu, eu recebi como uma falta de respeito". Para ele, o caso só ganhou repercussão porque uma mulher chorou.