Ao encerrar o primeiro ano de mandato marcado por ações dos órgãos de controle contra contratos e projetos da Prefeitura de Goiânia, o prefeito Rogério Cruz (Republicanos) disse que os questionamentos são “questão de interpretação” e negou falhas na transparência do município. Em entrevista coletiva de balanço, no 6º andar do Paço Municipal, na manhã de quarta-feira (22), ele também fez críticas à Lei de Licitações, afirmando que há muitas “brechas” que atrapalham a gestão pública e dificultam a realização de obras.“A lei não nos permite fazer o que gostaríamos. É triste, mas ela não permite avançar em muitas coisas que queremos fazer, principalmente no que diz respeito a infraestrutura”, afirmou, ao citar a desistência de empresa em trecho da obra do BRT. Ele citou como exemplos a obrigatoriedade de contratar a oferta de menor preço, afirmando que em muitos casos é possível identificar a impossibilidade de realização da obra em valor mais baixo, e a limitação de aditivo de 25%. “Quando assumimos, tivemos várias conversas com representantes de empresas e a maioria solicitou ajuste de preços, aditivos. Vou citar exemplo de obra pequena, a UPA do Jardim Guanabara. A empresa já tinha feito de 22%, só restavam 3%, e fizemos para concluir a obra. Fizeram limpezinha básica na UPA e abandonaram de novo a obra”, contou, ao responder sobre atrasos em obras viárias, conforme mostrou O POPULAR na edição desta quarta-feira (22). “A lei de licitações nos causa alguns problemas em decisões como essa”.No caso de oferta de baixos valores, ele sugeriu que a lei deveria ter opção de escolher entre os três menores. “Você sabe que não vai dar (para fazer a obra), mas tem de pegar porque é o menor valor. Lá na frente, eles pedem aditivo e também não se chega ao valor real da obra. É uma questão que o Poder público enfrenta que é desafio de qualquer gestor trabalhar com questões de licitação. É muito difícil. É um caso pequeno, agora imagina os casos grandes de infraestrutura.”O prefeito garantiu que não houve falta de dinheiro por conta do contrato não renovado com a Caixa Econômica para obras de asfaltamento de vias. “Não nos fez falta. O cronograma apresentado pela gestão passada foi concluído e gastamos pouquíssimo dinheiro do erário para completar”, disse, reafirmando que a não renovação ocorreu por conta da elevada cobrança de juros.Conforme mostrou O POPULAR em outubro, os gastos com dispensas de licitação da Prefeitura mais que dobraram nos nove primeiros meses deste ano.Quanto aos questionamentos feitos pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO) e Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) sobre contratos e projetos da Prefeitura, Rogério Cruz afirmou que o TCM recuou em muitos casos, sem citá-los, e que está aberto a receber “sugestões”. “São questões de interpretações. Temos apresentado todos os detalhes dos projetos e contratos ao tribunal. E o TCM existe na verdade para colaborar com o Executivo, não para criar problemas para uma gestão, para um governante. O TCM, no caso em Goiás, existe para colaborar com o Executivo. Eu estive com o presidente do TCM no início da gestão e disse que estaria aberto a qualquer decisão e sugestão”, afirmou o prefeito.Ele também disse não ver falhas por parte da Prefeitura na transparência sobre o Plano Diretor de Goiânia. Disse que, a partir do momento que devolveu à Câmara o projeto, não se envolve mais na discussão. O POPULAR mostrou nesta quarta-feira, no entanto, que o Executivo entrou com recurso no Tribunal de Justiça de Goiás contra a liminar que suspendeu a tramitação do PDG na Câmara. O pedido foi negado pelo presidente Carlos Alberto França.“Todo o trabalho que foi feito pelo Grupo de Trabalho e pela Prefeitura está junto com o projeto (enviado à Câmara). O GT teve inclusive participação de representantes do MP. Se o MP quer falar qualquer coisa do plano, eles que vão lá e estudem como está lá. Se a Justiça impede o trâmite, quem tem de responder não é o Executivo, mas a Câmara. Se chegasse no Paço, nós responderíamos. Câmara é Poder separado. São dois Poderes”, afirmou o prefeito.Ele também comentou o leilão para venda da folha, marcado para o dia 28, alegando que optou pela possibilidade de receber maior volume de recursos. “Quanto mais alto o valor, mais dinheiro teremos em caixa para prestar serviços à população. Ninguém gosta de perder dinheiro. Eu opto pelo maior valor. E acreditamos que o valor vai auxiliar e muito a nossa gestão.”Ao ser questionado sobre perspectivas para os anos seguintes da gestão e marcas que pretende deixar, o prefeito disse que “muitas coisas boas estão por vir” e citou que a Prefeitura apresentou demandas de 40 projetos a diversas pastas do governo federal. Segundo ele, são recursos para investimentos em pontes, saúde, educação e esportes.Ele disse que o plano de governo apresentado por Maguito Vilela (prefeito eleito, morto em decorrência da Covid-19 em janeiro) na campanha está sendo seguido e será cumprido integralmente até o fim do mandato. “Concluímos algumas obras e iremos concluir as demais. Pode até demorar, mas vamos concluir todas.”2022Sobre a posição do Republicanos em 2022 em Goiás, o prefeito disse que a decisão caberá aos dirigentes da sigla, mas admitiu desejo de aliança com o governador Ronaldo Caiado (DEM). “O partido tem, sim, os seus interesses de andar junto com aquele que já tem o poder na mão, que é o governo, mas são conversas mais pra frente. Quem coordena (o diretório) no Estado é o deputado João Campos. Eles vão sentar e chegar a um acordo.”Rogério afirmou que o governador tem sido “um grande parceiro” do município. “Há muitos anos não havia esse bom relacionamento entre governos municipal e estadual para fazer trabalho conjunto. Um ponto positivo é o transporte público”, disse.Caiado foi um grande aliado ex-prefeito Iris Rezende (que morreu no mês passado em decorrência de um AVC), mas eles não chegaram a acordo sobre o transporte coletivo.O prefeito disse que o novo modelo vai garantir qualidade no serviço, com ônibus novos e mais veículos. “Haverá mais qualidade e ônibus novos porque as empresas terão condições, já que haverá contrapartidas dos governos. Elas poderão e deverão colocar novos ônibus. O novo sistema nos permite pensar em 2022 com transporte público verdadeiramente com qualidade”, prometeu.