Nomeada há duas semanas para o comando do Pros em Goiás, a jornalista e cantora católica Talitta Di Martino é alvo de críticas internas e de especulações sobre influência do padre Robson de Oliveira Pereira na definição. O único deputado estadual do partido, Zé Carapô, pré-candidato a deputado federal, não aceita a nomeação e deve deixar o partido.Também interessada em disputar vaga na Câmara dos Deputados, Talitta, que é casada com o ex-vereador por Goiânia e pré-candidato a deputado estadual Tayrone Di Martino (Brasil 35), diz que a escolha de seu nome para o comando do partido foi “inspiração divina” e “encaminhamento de Deus” e nega qualquer participação de padre Robson.Ela afirma que filiou-se ao Pros no início de abril e, ao notar as divisões internas e insegurança dos pré-candidatos, pediu audiência com o presidente nacional do partido, Marcus Holanda - que ganhou na Justiça o direito de comandar a sigla, em briga interna com o ex-presidente Eurípedes Júnior.“No dia seguinte, ele então me convidou para assumir, afirmando que foi até por inspiração divina. Ele confiou em mim e eu nele”, conta Talitta, que estava acompanhada de Tayrone no encontro.Leia tambémFiliação a partido não empolga eleitor goianoA cantora diz que, na definição da comissão executiva, buscou contemplar vários grupos do partido, mas que “infelizmente o deputado está magoado” com a decisão. “Eu estou aberta para conversar e negociar. Entendo a mágoa e sei que ele contribuiu muito para a composição das chapas, mas eu não fui buscar a presidência. Foi algo que aconteceu, eu acredito no encaminhamento de Deus.”A comissão executiva anterior tinha como presidente Leonardo Batista, aliado de Carapô. O deputado reclama do atropelo e de “muita sede ao pote” do novo comando. Ele também acredita em participação do governador Ronaldo Caiado (UB) na intervenção local. A comissão presidida por Leonardo havia sido destituída antes do encontro de Talitta no diretório nacional.A presidente diz que o partido não tem ainda posição definida sobre apoio para candidato a governador, que vai conversar com todos e bater o martelo em conjunto com a direção nacional. Marcus Holanda admitiu que conversou com o governador, mas sem definições, e deu respaldo para o diálogo com outros pré-candidatos.A nova dirigente afirma que houve afastamento dela e de Tayrone em relação a padre Robson desde que ela saiu da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), antes da deflagração de operações das quais ele foi alvo. Diz ainda que o líder católico não tem nenhuma relação com a definição do destino partidário.“Não converso há muito tempo com ele. A articulação no Pros eu fiz diretamente. Não houve briga, apenas um afastamento natural. Não tivemos mais o que conversar”, diz.Tayrone e Talitta apareceram em gravações apresentadas pelo Fantástico em fevereiro, em que o padre afirmou ter pago R$ 350 mil ao ex-vereador por “extorsão” em contexto de suposto romance entre o padre e Talitta. À época, Tayrone acusou montagens e interesses políticos nas divulgações.No fim de abril, a Justiça determinou o arquivamento da ação penal contra o padre Robson e a inutilização de todo o material coletado em investigação do Ministério Público de Goiás.DisputaTalitta afirma ainda ter dúvidas sobre a candidatura a federal, embora a aposta no partido seja de que ela disputará. “Tenho um grau de conhecimento no Estado pelo trabalho que faço com o meu pai (o cantor e compositor Walter José), mas converter isso em voto é ainda duvidoso.”Carapô está com dupla filiação (Pros e PMN) e tem de prestar esclarecimento à Justiça Eleitoral em prazo de 15 dias. Ele diz que, se não houver devolução do comando - e desta vez com nomeação de diretório em vez de comissão provisória -, decidirá pelo PMN. “Mas a chapa ficará desfalcada porque levo uma parte (dos pré-candidatos)”, afirma. No entanto, no outro partido ele desistiria do projeto de federal e disputaria a reeleição.Talitta cita outros nomes do partido na chapa que tentará cadeira na Câmara, como Julio Proarmas, de Anápolis, o ex-vereador Roni Ferreira, de Trindade, o ex-deputado Vinicius Cirqueira e o coronel Edson Melo, ex-chefe da Segurança de Caiado, e diz que a sigla sairá competitiva.Sobre o fato de estar em partido diferente do marido, Talitta afirma que pesou a questão das chapas. Para Tayrone, o Brasil 35 dava mais segurança de vitória e, para o projeto dela, era melhor o Pros, justifica. “Tayrone também me incentivou pelo fato do protagonismo feminino, que é importante.”Ambos eram filiados ao PSDB. Tayrone também foi do PT, quando teve cadeira na Câmara de Goiânia.Talitta afirma ainda não saber quanto o partido vai reservar de fundo eleitoral para a campanha deste ano em Goiás. Isso será definido após a confirmação das chapas, segundo ela.A comissão provisória é composta pelos vice-presidentes Rodolfo Valente e Dhone Rodrigues, por pastor André Custódio como tesoureiro e Carlos Pedrosa como secretário-geral.Dupla filiaçãoA dupla filiação de Carapô coincide com de outros membros do Pros. Segundo informações de bastidores, Leo Batista é ligado ao presidente do PMN, Paulo Daher, e, com a destituição da comissão do Pros, teria levado a lista de novos filiados também para o outro partido.A sigla deve pedir na Justiça a permanência daqueles que assinaram a ficha de filiação do Pros.Segundo o professor de direito eleitoral Alexandre Azevedo, a legislação estabelece que, em caso de dupla filiação, torna-se válida a mais recente e cancela-se a anterior. No entanto, por erro dos partidos ou por manobra de alguns pré-candidatos, há filiações em dois partidos com a mesma data. Assim, os filiados são notificados a apresentar explicações à Justiça e, se houver justificativa, podem escolher o destino partidário. Desse modo, o deputado Carapô terá a opção entre as duas siglas diante dos desentendimentos com a direção.