Com a desfiliação já certa do MDB, a ser anunciada na próxima semana, o prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha, aposta na insatisfação de aliados do governador Ronaldo Caiado (DEM) para fortalecer um grupo de oposição nas eleições de 2022. Depois da cúpula do MDB divulgar na quinta-feira (16) a decisão de 146 dos 160 diretórios municipais em favor da aliança com o democrata, com o acerto para que Daniel Vilela seja candidato a vice-governador, Gustavo deixará o partido, mas não tem pressa para escolher a nova sigla.Embora ainda não se coloque publicamente como pré-candidato ao governo, ele dá sinais do entusiasmo para a disputa. “Talvez Caiado queira ser candidato único e isso não vai ocorrer”, disse ontem ao POPULAR. “Nos últimos anos, MDB e DEM estiveram na maioria do tempo em posições opostas. Eu continuo do mesmo lado, combatendo as práticas que ele representa. É um governo atrasado, que não fez obras, distante do povo, analógico, que dá muitas desculpas e não tem resultados. De fato estarei do outro lado, lutando para que tenhamos alternativa para as pessoas votarem, para que elas inclusive façam comparações”, completou o prefeito.O grupo de Gustavo começou a discutir como será a despedida do MDB na semana que vem, com possibilidade de desfiliar um grande número de pessoas e ainda de já contar com a presença de atores políticos - inclusive da base do governador - que podem reforçar o projeto de oposição. Conforme mostrou ontem O POPULAR, Gustavo disse que tem disposição para apoiar outro nome. “Ninguém é candidato de si próprio. Mais do que meu nome, meu interesse é construir um projeto. Eu poderia, por exemplo, apoiar o Lissauer (Vieira, do PSB) para governador”, afirmou, citando o presidente da Assembleia Legislativa, um dos insatisfeitos com a aliança governista.O anúncio da desfiliação deve ocorrer depois do evento que o MDB fará na semana que vem para oficializar a aliança com Caiado. A expectativa é que o governador já sinalize mais claramente sobre a vaga de vice para Daniel, o que deve reforçar insatisfações de grupos de dentro da base. Desde que o democrata esteve no diretório estadual do MDB, no dia 20 de agosto, para oferecer oficialmente ao partido uma vaga na chapa, diversos pré-candidatos e partidos aliados do governador demonstraram insatisfação. Como mostrou ontem o Giro, passado quase um mês, a não aceitação ao nome de Daniel para a vice segue forte. Lissauer era um dos cotados para a vaga.Nas conversas com governistas, Gustavo tem dito que defende um projeto que siga “o oposto do manual de Caiado”, com “ampla consulta, decisões em conjunto e sem passar por cima dos companheiros”.Na quarta-feira (15), ao comentar as queixas de aliados e possibilidade de defecções na base, Caiado disse não ver justificativa para racha e nem mesmo para oposição ao governo. “Não tem espaço hoje que não seja para trabalhar de forma conjunta. As dificuldades são muitas. Não dá para ficar fazendo oposição sendo que não há um objetivo. Você não vê um escândalo no governo, você vê a boa aplicação do dinheiro público, vê a capacidade que tivemos de renegociar as dívidas. Onde é que está a falha? Se você analisar bem, para que oposição neste momento se estamos fazendo tudo de mãos dadas?”, afirmou.PolarizaçãoAliados do prefeito afirmam que ele não tem pressa em definir um novo partido, mas já é certo que será de centro, para “fugir da forte guerra ideológica do País”. É provável que a escolha só ocorra no ano que vem, justamente para possibilitar negociação com partidos da base. Ele também demonstra preocupação com a confiança que precisa ser estabelecida dentro da nova legenda, para evitar “surpresas” que inviabilizem seu projeto.Já citado como possível nome para representar palanque em Goiás tanto para o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que hoje polarizam a disputa presidencial, Gustavo afirma que não existem apenas as duas opções. Segundo ele, há espaço para terceira via e vitória de qualquer dos dois mais bem colocados hoje nas pesquisas representaria mais divisão e instabilidade do País. “Acho que, para pacificar o País, o melhor é ter uma alternativa que pudesse unir.”Ele reconhece, no entanto, a maior ligação com eleitorado de centro-direita, especialmente do segmento evangélico e do setor produtivo.Página viradaDepois da decisão anunciada pelo MDB, o prefeito de Aparecida repetiu que não houve uma escolha democrática, mas tem dito a interlocutores que “vai virar a página” sobre o partido. “O MDB não realizou um processo amplo e democrático, que seria consultar todos os filiados, depois de reuniões regionais como solicitei, em que o contraditório pudesse se manifestar, cada um defendendo a sua tese, com respeito. As pessoas que têm mandato de fato são importantes de ser ouvidas, mas aquelas que não têm também deveriam ser ouvidas. Acho que o que o ex-prefeito de Quirinópolis Gilmar Alves falou na reunião (da Executiva estadual do MDB, na quinta-feira) representa a voz de muitos que estão nos quatro cantos do Estado. A vontade demonstrada pela cúpula não representa de fato a vontade da maioria. Será a primeira vez em 40 anos que o MDB não tem candidato”, diz. Gilmar se manifestou contra a aliança.A assessoria do MDB estadual informou ontem que lideranças do partido querem buscar contato com Gustavo Mendanha para pedir que respeite a decisão da maioria, em uma consulta que, segundo eles, “foi ampla, democrática e provocada pelo próprio Mendanha”. Daniel já havia tentado conversar com ele antes da reunião da Executiva, conforme mostrou o Giro, mas o prefeito alegou que tinha compromissos. “Temos de compreender que, na democracia, prevalece desejo da maioria e temos de entender que somos menores que o partido, dependente das forças políticas e de suas lideranças”, afirmou Daniel após o encontro.Gustavo insiste que o resultado poderia ser diferente se fossem ouvidos todos os filiados. E rebate as acusações de interesse pessoal. “Não era um projeto pessoal de candidatura própria, mas um projeto em defesa de que o partido pudesse ser a alternativa que os goianos esperam em fazer oposição ao Caiado, que ajudou a derrotar o MDB nos últimos anos.” O episódio do podcast Giro 360 desta semana trata dos bastidores que envolveram a decisão do MDB de se alinhar ao projeto de reeleição de Ronaldo Caiado no ano que vem.