O Tribunal de Contas dos Municípios de Goiás (TCM-GO) mandou suspender a licitação da venda da folha de pagamento dos servidores de Goiânia. A decisão, do conselheiro Sérgio Antônio Cardoso de Queiroz, acolhe o pedido de medida cautelar do Ministério Público de Contas (MPC) do tribunal, que questiona a previsão de que o Instituto de Previdência dos Servidores do Município de Goiânia (GoiâniaPrev) destine 30% de seu patrimônio líquido para aplicações financeiras no banco que vencer a licitação.O pedido de suspensão do certame, por meio de medida cautelar, foi apresentado pelo procurador de Contas Henrique Pandim Barbosa Machado na terça-feira (23). O conselheiro acolheu a representação nesta quinta-feira (25), às vésperas da data prevista para realização do pregão presencial, marcado para esta sexta-feira (26), a partir das 9 horas da manhã. O POPULAR vem mostrando os imbróglios do certame, que incialmente ocorreria no dia 8 de novembro. Três dias antes, porém, a Secretaria Municipal de Finanças (Sefin) publicou um aviso de adiamento, para fazer ajustes no edital. Com isso, o pregão foi reagendado para o dia 26. No dia 16 de novembro, então, a Prefeitura publicou o novo edital, com diversas alterações. A principal delas foi a previsão de que o GoiâniaPrev teria de investir 30% de seu patrimônio líquido no banco que vencesse a disputa. No primeiro edital, previa-se apenas que a empresa faria a gestão das aplicações financeiras do instituto.RepresentaçãoNo pedido apresentado pelo MPC, o procurador chama atenção para o fato de que, antes, o texto era genérico. Já no novo documento, além de definir a porcentagem do investimento, a Prefeitura inclui a palavra "investirá". "Que, literalmente, expressa uma obrigatoriedade no direcionamento das aplicações dos recursos financeiros do GoiâniaPrev, a despeito da expressão ao final do parágrafo “sem exclusividade”, escreve Henrique Pandim.O procurador utilizou dados do dia 31 de agosto para calcular quanto essa destinação significaria em dinheiro. Ele levantou que o GoiâniaPrev possui patrimônio líquido de R$ 832.177.617,67. Ou seja, o instituto investiria R$ 249.653.285,30 na instituição financeira vencedora.Henrique também destaca a autonomia que o GoiâniaPrev deve ter para administrar seus recursos financeiros. "De modo que somente a ela compete a condução da gestão financeira dos recursos previdenciários. Logo, viola a autonomia financeira do GoiâniaPrev qualquer ingerência, por parte da Administração direta, sobre os recursos do RPPS (Regime Próprio de Previdência)", diz.Para o procurador, essa destinação, no edital de venda da folha de pagamento, é uma afronta a essa autonomia do GoiâniaPrev. Ele frisa que a medida vai contra, inclusive, o que diz a Constituição Federal. Ele lembra, ainda, que o instituto deve realizar suas aplicações financeiras com base em uma política de investimento, que preserve as condições de segurança, rentabilidade, solvência, liquidez e transparência. Essa política de investimento, explica, deve ser definida pelo Comitê de Investimento, que tem, segundo ele, a sua função "usurpada" neste caso, em que já se destina 30% a uma empresa específica.O conselheiro, então, acolheu o pedido de medida cautelar para suspender a licitação até que o tribunal decida quanto à legalidade ou não do termo do edital que destina 30% do patrimônio líquido do GoiâniaPrev à empresa vencedora.Argumentos da PrefeituraSegundo o presidente da comissão especial da licitação, Cleyton da Silva Menezes, a inclusão dessa cláusula no edital se baseia no próprio contrato que a Prefeitura possui, hoje, com a Caixa Econômica Federal, atual responsável pela gestão da folha de pagamento dos servidores. Ele cita, em especial, o trecho que prevê a manutenção da Caixa "de maneira concorrencial como instituição financeira de destinação de recursos do Regime Próprio de Previdência Social dos servidores do município de Goiânia". O texto, no contrato, ainda continua da seguinte forma: "(...) comprometendo-se também a dar ciência prévia quando da destinação de novos recursos e caso tenha cotação de outras instituições reavaliar com a Caixa."Para ele, portanto, a forma com que a Sefin pretende fazer a partir dessa nova licitação dá mais autonomia ao GoiâniaPrev. "Se olhar a cláusula do contrato atual, o instituto está nas mãos da Caixa, ao ponto de ter que submeter a essa instituição as outras propostas recebidas", argumenta.Quanto à suspensão da licitação, Cleyton diz que a Sefin aguarda a notificação do TCM-GO.A licitação tem o objetivo de contratar um banco que vai processar a folha de pagamento dos servidores municipais. Em abril, a Prefeitura desistiu de considerar as ofertas da Caixa Econômica e do Banco do Brasil (R$ 100 milhões e R$ 120 milhões, respectivamente). Na época, contratou, com dispensa de licitação, o Instituto Brasileiro de Tecnologia, Empreendedorismo e Gestão (BR TEC) para precificar a folha. Esse contrato, porém, já foi suspenso pelo TCM-GO.A expectativa da Prefeitura é conseguir vender a gestão da folha a um banco privado por mais de R$ 200 milhões. O lance mínimo do pregão é de R$ 165 milhões.