O Tribunal de Contas dos Municípios de Goiás (TCM-GO) não consegue informar como as prefeituras aplicaram os recursos das transferências especiais federais, conhecidas como “pix orçamentário”, recebidas em 2020.O POPULAR solicitou à corte que discriminasse a destinação dada por 68 cidades aos aproximadamente R$ 29 milhões que receberam na modalidade há dois anos, quando ela começou a valer.Secretário de Contas de Governo do TCM-GO, José Lucindo diz à reportagem que as secretarias da corte atuam por demanda e não mantêm o levantamento detalhado dos gastos em todos os 246 municípios.“Na análise, se a gente encontrar alguma irregularidade, olhamos. Se não, passamos ao próximo município.” Segundo ele, por falta de estrutura, um levantamento do tipo “demoraria semanas para ser feito, o que atrasaria demais serviços.”Ainda em 2020, o Ministério Público de Contas recomendou ao TCM-GO a elaboração de uma norma para disciplinar o controle e recebimento desses recursos federais por cidades goianas, mas a representação ainda está em tramitação no tribunal.Desde aquele ano, a soma de recursos públicos recebidos pelas prefeituras goianas via “pix orçamentário” federal chega a R$ 211 milhões, contados os mais de R$ 105 milhões das emendas deste ano.Além das “emendas pix” federais, as cidades goianas passarão a receber também, a partir de agora, esse tipo de repasses feitos pelos deputados estaduais. Como o POPULAR tem mostrado, apenas em 2022, o volume de dinheiro transferido pelo estado aos entes municipais na modalidade pode chegar a R$ 110 milhões — em 2023, deve ser R$ 130 milhões.ASFALTOParte das prefeituras que mais vão receber recursos de “emendas pix” federais, neste ano, deve usar o dinheiro em obras de infraestrutura, principalmente asfalto. É o que dizem os prefeitos ao POPULAR. Nesse tipo de emenda parlamentar, o gestor municipal pode decidir como gastar o dinheiro enviado à sua cidade.Juntos, os oito municípios mais beneficiados com esse tipo de recurso somam R$ 21,3 milhões em repasses, sendo Santa Helena o que mais receberá dinheiro na modalidade (veja quadro na página 4).A cidade lidera esse tipo de indicação em Goiás desde 2020, quando a modalidade de emendas foi criada, devido às indicações do deputado federal e ex-governador Alcides Rodrigues, pai do prefeito João Alberto Rodrigues. Ambos filiados ao Patriota.Em 2020, o deputado destinou R$ 5,8 milhões à cidade via “emendas pix”; em 2021, R$ 3,3 milhões; e, neste ano, R$ 5,4 milhões. A reportagem tentou contato com o prefeito de Santa Helena para saber como deve ser aplicado o dinheiro, mas não obteve retorno.A segunda cidade mais beneficiada com a modalidade em 2022 é Terezópolis de Goiás, que receberá R$ 4 milhões de uma emenda de Glaustin da Fokus, que é do mesmo partido do prefeito Uilton Pereira, o PSC.Pereira afirma que os R$ 2,8 milhões destinados a investimentos serão usados para obras de infraestrutura, como asfaltamento, recapeamento e meios-fios, além de reformas de escolas e postos de saúde. Já R$ 1,1 milhão de custeio “vai todo para a área da saúde.”Em Ipiranga, cidade de 2.892 habitantes, os R$ 2,5 milhões de emendas de Célio Silveira (MDB) — R$ 2,3 milhões — e Delegado Waldir (UB) — R$ 200 mil — devem ser usados para a construção de um salão de velório, uma praça ao lado do estádio de futebol da cidade, uma garagem municipal, o portal de entrada da cidade e pavimentação asfáltica.Questionado se os recursos são suficientes para todas as obras, o prefeito Alex de Queiroz (PSD) diz que sim. “O município é pequeno. Vamos usar em torno de R$ 500 mil para fazer a garagem municipal, R$ 500 mil para o salão de velório, R$ 500 mil na praça, R$ 250 mil no portal e R$ 750 mil em pavimentação.”Em Cavalcante, cidade turística no Nordeste goiano, o prefeito Vilmar Souza (PSB) vai usar R$ 1,4 milhão de emendas de Elias Vaz, presidente de seu partido em Goiás (R$ 1,1 milhão), Delegado Waldir (R$ 200 mil) e Rubens Otoni (PT) — R$ 150 mil — para revitalização do lago da cidade e na reconstrução de asfalto e redes pluviais. A cidade foi uma das mais atingidas pelas fortes chuvas no fim de 2021.Em Abadiânia, o prefeito Zé Diniz (PP) afirma que R$ 1,7 milhão será usado na construção de pontes e pavimentação asfáltica. Via assessoria, a prefeitura de Caldas Novas informa que “boa parte (dos recursos será usada) para custear as despesas causadas pela pandemia na saúde, e outra parte será investida para recuperar a malha asfáltica da cidade, que sofre há mais de 20 anos sem revitalização”.A reportagem buscou contato com os prefeitos de Davinópolis e Jaraguá, mas não teve retorno até o fechamento desta edição.