Responsável pela articulação política entre Executivo e Legislativo em Goiás, o secretário de Governo, Ernesto Roller (sem partido), afirma que, após a exoneração de comissionados ligados a deputados estaduais que se posicionaram contra projetos do governo, como reforma da Previdência e novo Estatuto do Servidor Público, votados no fim do ano passado, apenas o tempo poderá levar a algum tipo de reconciliação. O auxiliar do governador Ronaldo Caiado (DEM) diz ainda que a base iniciará o ano na Assembleia Legislativa menor, com 26 deputados. Na avaliação de 2019, o secretário afirma que a Assembleia foi, por meio da base, aliada do governo. Para 2020, a equipe de Roller trabalha para ampliar número de prefeitos e vereadores que dão sustentação política ao governo Caiado.Deputados que eram considerados aliados do governo votaram contra projetos do Executivo no fim do ano passado. Diante disso, como deve ser a configuração da base em 2020? Tivemos diversas matérias com número expressivo de votos, algumas com até 31 favoráveis. Neste pacote de matérias enviado ao final do período legislativo do ano passado tivemos a consolidação da base com 26 parlamentares que se mantiveram firmes no projeto político e administrativo do governo. Às vezes, uma ou outra medida é entendida como amarga e dura, mas elas colaboram para a correção de rumos da administração pública goiana, que chegou ao seu colapso financeiro. E graças a essas medidas, o governador pôde pagar 14 salários e meio no ano passado. Foram os 12 mensais, o 13º salário e um mês e meio deixado pelo governo passado. No mês de dezembro de 2019, o salário foi pago para o servidor antes do Natal. Isso é resultado de esforço, articulação e compromisso da nossa base parlamentar na Assembleia com a governabilidade e com as medidas que nos permitiram alcançar esses resultados. Nós trabalhávamos no horizonte de ter (na base) aqueles deputados que faziam parte do nosso projeto votando as matérias do governo. Mas nós restringimos a 26 parlamentares, e é com esta base que o governo inicia o ano de 2020.Major Araújo (PSL), que fez duras críticas à PEC da reforma da Previdência e aos estatutos do Servidor e Magistério, ainda é considerado aliado? Não colocamos a coisa no campo de ser aliado ou oposição. Temos uma base com a qual o governo pode contar nas votações que são necessárias. Nós sabemos que um ou outro deputado defende este ou aquele setor econômico, social ou funcional do nosso Estado. Não é justo e possível que o cidadão goiano como um todo pague por certos privilégios que só existem no setor público. Isso já foi discutido e demonstrado, até pela própria necessidade de uma reforma da Previdência nacional que foi feita, e com maioria da população entendendo a necessidade. Precisamos corrigir esses rumos. O deputado Major Araújo é uma pessoa que respeitamos, assim como todos os parlamentares. Respeitamos seu posicionamento, mas é importante dizer que o governo precisa tomar essas medidas. E ao tomar, precisa contar com aqueles que apoiam politicamente o projeto de administração do governador Ronaldo Caiado.Como avalia a decisão do governador Ronaldo Caiado de exonerar comissionados ligados aos deputados Eduardo Prado (PV), Karlos Cabral (PDT), Virmondes Cruvinel (Cidadania) e Humberto Teófilo (PSL), que eram considerados da base, mas votaram contra a PEC da reforma da Previdência e o novo Estatuto do Servidor? Isso foi objeto de discussão dentro da própria base parlamentar, que trouxe ao governo o pedido de definição sobre quais deputados eram da base e quais não eram porque não votaram com o governo. Para eles não valeria estar na base enfrentando desgastes e medidas, que muitas vezes são tidas momentaneamente como impopulares, sendo que outros não passavam pelo mesmo, tendo participação dentro do governo.É possível a reconciliação do governo com estes deputados que eram base e votaram contra projetos do governo?A boa prudência nos lembra que o tempo é que cura queijo. Vamos aguardar. É importante deixar claro que o governo não leva essas questões a ferro e fogo e não coloca que o deputado cegamente deva votar a favor. Nós sabemos que foi aprovada a Emenda Constitucional federal (da reforma da Previdência) e ela foi replicada no Estado. Isso foi muito discutido e demonstradas quais eram as consequências para o Estado. As pessoas precisam compreender que não é desejo de nenhum governante, muito menos do governador Ronaldo Caiado, tomar medidas que pareçam amargas a este ou aquele setor. Mas hoje o Brasil vive uma interligação maior entre as exigências do governo federal, da Secretaria do Tesouro Nacional e da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho. Em certas situações, se o Estado de Goiás não tomar determinadas medidas, ele perde o certificado de regularidade previdenciária, e, com isso, deixa de receber recursos federais para investimentos, e transferências voluntárias. Isso significa que nós não somos uma ilha em que podemos ter aqui uma realidade diversa daquela que é implementada no País. Por isso, algumas medidas são tomadas visando a adequação da legislação, afim de que o Estado possa recuperar sua capacidade de investimento, melhorar sua nota de classificação fiscal e, com isso, possa captar empréstimo para fazer frente às demandas do cidadão.Como avalia o ano de 2019 quanto à articulação política na Assembleia Legislativa e seus resultados? Foi extremamente satisfatório. O governo teve todas as suas matérias aprovadas pela Assembleia Legislativa, textos de grande importância para a administração pública, especialmente para o momento fiscal vivido pelo Estado de Goiás. O balanço do ano de 2019 é absolutamente positivo no que diz respeito a esta articulação coordenada pelo governador Ronaldo Caiado junto à Assembleia, ao presidente, Lissauer Vieira (PSB), ao líder (do governo), Bruno Peixoto (MDB), e aos deputados integrantes da nossa base parlamentar.A exoneração de comissionados ligados a deputados é uma prática antiga que vai contra um discurso de ‘nova política’ muito comum hoje no Brasil...Eu, particularmente, nunca fiz esse discurso de nova ou velha política. O que existe é política. Por que um parlamentar, seja ele federal, municipal ou estadual, vai abraçar um governo, se dele não participa? A representação política regional é absolutamente legítima. Isso faz parte da política. Em um passado recente, essas indicações foram transformadas em instrumento para captação de recursos de origem ilícita e superfaturamento, o que não acontece no governo Caiado. O parlamentar enfrenta desgaste, mas ele tem representação regional e política. Portanto, é legitimo. Toda cidade gosta de ter representante no governo. Estando ali, participando do conjunto de decisões, ele pode ajudar a resolver os problemas da sua região. Cito o exemplo da representação regional, como posso falar também da partidária e parlamentar. Então, é preciso desmistificar isso. Muito se falou sobre o toma lá dá cá. Mas quando assistimos, no começo do ano passado, as dificuldades vivenciadas pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) por não estabelecer medidas de articulação com o Congresso Nacional, muitos setores da imprensa o criticaram porque faltava articulação do governo. Isso é articulação política. O que não pode é desvirtuar a finalidade. O primeiro fim é servir à população, com qualidade técnica, qualificação, aptidão que são próprias para o exercício daquela função e, prestando bom serviço à comunidade, àqueles que representa e a todo o Estado de Goiás. Trabalhar para o governo é trabalhar para todos os cidadãos.Em 2019, a Assembleia Legislativa foi aliada ou independente?Construiu-se um novo parâmetro de relação entre o governo e a Assembleia. Muito em função do estilo de Ronaldo Caiado de não se envolver nos problemas internos da Assembleia. Tivemos há pouco tempo diretores que eram indicados por governadores. Isso não acontece com o governador Ronaldo Caiado. Ele dá absoluta liberdade para o Poder Legislativo. Entendo que, institucionalmente, a Assembleia adota postura de fortalecimento, não é de independência. Os Poderes são independentes e harmônicos, mas sempre um subjugou o outro. O que nós percebemos é uma relação de fortalecimento do Legislativo, de onde o governador Ronaldo Caiado é egresso, já que durante toda sua vida política esteve no parlamento, Câmara dos Deputados ou Senado. Politicamente, a Assembleia, sem dúvida, através da nossa base, foi aliada do governo porque aprovou as matérias que eram necessárias para resolver os problemas vivenciados pelo Estado. A Assembleia autorizou empréstimo do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás para que o governador pudesse pagar a folha do servidor em momento de muita queda de receita. A Assembleia tem sido uma grande parceira do governo. Mas o governo atuou para tentar tirar o deputado Cláudio Meirelles (PTC) da Mesa Diretora...Mas aí é uma questão política, não é o governo subjugar a Assembleia, como vimos no passado presidentes enfrentarem dificuldade até de natureza financeira por este motivo. Por maior respeito que possamos ter aos que nos sãos contrários, é obvio que eles vão tentar ganhar de nós e nós vamos tentar ganhar deles. Isso é a política. Neste ano foram aprovadas propostas que afetam diretamente o servidor público. O senhor acredita que, por este motivo, o governo perde força com o funcionalismo?Não. Ronaldo Caiado não colocou o problema fiscal e financeiro vivido pelo Estado na conta do servidor público. O governo começou por fazer seu dever, reduzindo cargos comissionados em até 30%. Na Secretaria de Governo, nós passamos de 40%. Foram reduzidos valores de contratos. Pagava-se R$ 500 mil para que a Secretaria de Educação funcionasse em um prédio particular na Avenida Anhanguera, quando na mesma via existe um prédio do poder público, pelo qual não se pagava nada. Só daí a economia anual é da ordem de R$ 6 milhões. Essas medidas foram tomadas pela administração do governador Caiado. Mas o governador também chamou os empresários a darem sua cota de sacrifício, e chamou os servidores para demonstrar que a Previdência estadual só serve ao servidor público do Estado. E, por isso, não era justo que só a população pagasse pelo seu déficit. O governador não lançou nenhum programa novo de investimentos megalomaníacos, cuidou primeiramente do pagamento da folha. Depois de ter pagado 13 folhas e meia, pagou a folha de dezembro antes do Natal. É um esforço que o próprio servidor reconhece. Neste primeiro momento podem parecer medidas duras, mas com a solução dos problemas, garantirá ao servidor as melhorias que lhe são legitimas e o recebimento do salário no mês trabalhado, sem atrasos. (...) Mais danoso do que deixar de receber o aumento é não receber (o salário). Caiado está organizando as finanças para que o servidor receba e, no futuro, novas conquistas possam ser garantidas ao servidor.Quais matérias de destaque devem ser encaminhadas pelo Executivo para a Assembleia Legislativa em 2020?Ainda é cedo para estabelecer. O governo é dinâmico. Aprovamos matérias muito importantes que nos dão tempo para que possamos implementar e estabelecer suas discussões. Certamente serão enviadas outras matérias, mas neste momento não é possível dizer quais serão. No ano passado o governo anunciou o fim do programa Goiás na Frente. Como está o processo de finalização dos contratos?Fizemos levantamento de todas as obras através da equipe de engenharia da Secretaria de Indústria e Comércio, que é a responsável por esta parte do Goiás na Frente. Já fizemos a rescisão de mais de metade destes contratos. Esse Goiás na Frente é uma clara demonstração do desajuste e desequilíbrio promovido no Estado ao longo dos últimos anos. Mas o governo vem resolvendo os problemas e garantindo junto às prefeituras as prestações de contas dos recursos aplicados. No que foi possível rescindir, foi feito. É um processo constante até que possamos chegar ao fim deste malfadado Goiás na Frente, que, na verdade, em muitos casos, significou levar o Estado de Goiás para trás. Algum programa semelhante pode ser lançado no futuro?O governo Caiado só vai comprometer aquilo que puder cumprir dentro do seu mandato. Com todo esse trabalho que tem sido feito, tenho certeza que surgirá no futuro a possibilidade de celebração de novos convênios. Mas com novo regramento, novas opções e não de modo a tornar os prefeitos reféns políticos, e sim no sentido de entregar a obra para a população que demande, em qualquer município do nosso Estado. Neste momento não há previsão porque precisamos estar com a saúde financeira do Estado em dia para estabelecer novos compromissos. Teremos eleição municipal. Como está a articulação política do governo no interior? O ano começou agora e já estamos com tratativas neste sentido. Estamos conversando com os presidentes dos partidos e lideranças municipais para construir uma base de prefeitos e vereadores que possam dar sustentação política ao governo Ronaldo Caiado.