De saída do PSB, o presidente da Assembleia Legislativa de Goiás, Lissauer Vieira, avalia em qual partido se filiará para disputar uma vaga na Câmara dos Deputados no pleito de 2022. Em aproximação com o PSD, o parlamentar diz que “abriu as portas” de Rio Verde, sua principal base eleitoral, para o pré-candidato ao Senado pela sigla, Henrique Meirelles. Ao POPULAR, Lissauer também fala sobre a insatisfação com a aliança entre DEM e MDB. Embora diga que a decisão do governador Ronaldo Caiado (DEM) precisa ser respeitada, não esconde sua restrição em relação a Daniel Vilela, presidente do MDB em Goiás. A ida do senhor para o PSD está condicionada ao apoio do partido à reeleição de Caiado?O PSD é um partido independente, assim como meu mandato na presidência da Assembleia e como parlamentar. Ninguém nega a parceria que tive com o governo do Estado nestes quase três anos como presidente. Mas essa parceria é por acreditar que o Estado de Goiás pode melhorar a condição de vida da população. O PSD hoje tem pré-candidato a senador da República (Henrique Meirelles). Um nome preparado, tem um conhecimento a nível mundial, não só de economia, mas também de gestão pública. É uma pessoa que tem todas as condições de representar qualquer Estado do País, em qualquer cargo público que lhe for oferecido. Henrique Meirelles tem um preparo enorme. O PSD é uma alternativa que tenho para me filiar. Isso vai depender de chapas, de conjuntura de momento. Vai depender de como vamos estar lá no final de março ou abril em relação à montagem de chapa. Se o partido tiver condição, é uma possibilidade que tenho de avaliar. Mas tenho convite de outras siglas partidárias, que estamos avaliando. Em política, hoje está de um jeito, amanhã pode estar de outro. Então, está muito cedo para tomar essa decisão. Como falei, o PSD tem condição de ter candidatura a senador, a governador, uma chapa competitiva de deputados estaduais e federais. E está se movimentando para isso, o que é legítimo. Vamos aguardar as definições partidárias e as composições dessas chapas para decidir para qual partido vamos migrar. Mas a decisão sobre o partido que o sr. se filiará está condicionada a apoiar o atual governo ou não necessariamente?Não é questão de estar condicionada a apoiar o atual governo ou não. A minha ligação política com o governador é próxima e inegável. Dentro de um partido, eu não vou decidir sozinho. O partido tem um colegiado de lideranças que vão tomar decisão. Se acontecer de eu filiar ao PSD, vamos colocar tudo isso na mesa em momento oportuno. Não posso chegar antes mesmo de decidir a minha filiação e exigir que caminhe com A ou B. O PSD tem uma pré-candidatura a senador posta, viável e consolidada, com candidato com condições de ser eleito. Assim como outros partidos também têm pré-candidaturas consolidadas, e estão buscando espaço. É uma candidatura majoritária. Só tem espaço para um na chapa do governador ou de oposição. O partido vai avaliar toda essa questão e, no momento oportuno, quando tiver uma decisão um pouco mais madura, vamos sentar e colocar na mesa se a composição com o governo é ou não é viável. Isso pode, sim, nortear a minha filiação, como pode me dar condição de não filiar a um partido. Mas eu não posso te dar essa reposta agora. Neste ano, precisamos continuar pensando em ajustar o Estado, em ajudar o governo a fazer políticas públicas. Temos matérias extremamente importantes para votar neste fim de ano, como a PEC que trata sobre a divisão do ICMS. Temos matérias que chegaram agora, como a que trata de auxílio para os estudantes. Tudo isso é muito importante e precisamos focar nisso: em trazer políticas públicas e a Assembleia cumprir o seu papel, que já vem cumprindo ao longo desses dois anos e meio.Qual é exatamente esse papel?De ajuda ao governo, de viabilizar as finanças do governo, de trabalhar para termos investimentos necessários nos 246 municípios. A 19ª legislatura da Assembleia contribuiu muito para o equilíbrio fiscal do Estado de Goiás. Ainda estamos em período de focar administrativamente, trabalhar para ajudar cada vez mais o Estado, pensando na população. Ano que vem vamos falar sobre filiações partidárias e decisões políticas. O sr. organizou agenda para Henrique Meirelles em Rio Verde. Na sua opinião, este é o melhor nome para candidato ao Senado na chapa governista? O sr. vai trabalhar para viabilizar essa composição? O Henrique Meirelles me visitou há alguns dias, me convidou para ir para o PSD e também para ajudar a viabilizar ou a buscar esse trabalho de construção da sua pré-candidatura ao Senado. Tenho total simpatia pelo nome, pela história, pela competência que o Henrique Meirelles tem. Claro que temos outros nomes postos que também têm competência para disputar o Senado. É uma definição que vai se dar lá na frente. Ele me pediu para marcar uma agenda em Rio Verde, para conversar com o setor produtivo, com políticos locais. E eu, com toda a disposição do mundo, com toda a simpatia que tenho por sua pré-candidatura, estou abrindo as portas da cidade, juntamente com o prefeito, dr. Paulo do Vale (DEM), e lideranças classistas, para ouvir um pouco da experiência dele, falar um pouco sobre o cenário econômico, sobre o futuro do nosso País, sobre o que Goiás pode ter de vantagem tendo Henrique Meirelles nos representando no Senado. É uma pessoa com experiência enorme, com credibilidade muito grande no meio político e administrativo do País. Ele tem perfeitamente as condições e atende aos requisitos para ser um bom parlamentar. Isso precisa ser construído. E o tempo vai dizer se ele vai ter condições eleitorais ou não. Ele está trabalhando para isso, o partido é forte e vai trabalhar duramente para viabilizar a candidatura dele. O sr. disse a uma rádio de Rio Verde que não quer relacionamento político com Daniel Vilela, que é pré-candidato a vice-governador na chapa encabeçada por Caiado. Mas o sr. também já disse que continua apoiando o projeto de reeleição do governador. O que criou essa barreira com Daniel Vilela? Vocês chegara a conversar após a entrevista? Não tivemos nenhuma conversa. Não temos relacionamento político nem pessoal para termos conversas constantes. Já falei sobre isso. Acho que é um assunto vencido. Não quero mais falar sobre isso. Todo mundo sabe o que eu penso. Isso (a aliança com o MDB) é uma decisão do governador e tem de ser respeitada por todos nós. Mas houve um problema específico?Nenhum. Simplesmente, nunca tivemos nenhum relacionamento político nem pessoal. Como tal, continuaremos não tendo. O sr. acredita que Caiado conseguirá recompor com aliados que ficaram insatisfeitos com a aliança com o MDB?Essa pergunta tem de ser feita a ele. Não posso te responder. Olhando para o cenário político, acredita que dá tempo de recompor até a eleição de 2022?Não sei. Só posso te falar que a forma como foi feita, lá em 2018, pelo próprio presidente do MDB, então candidato derrotado nas eleições Daniel Vilela, foi extremamente truculenta, de abrir processos de expulsão contra membros do MDB por ter apoiado justamente a candidatura do governador Ronaldo Caiado. Com certeza, ficaram feridas dentro desses membros do MDB, que foram tirados do partido por terem tido a opção pelo governador. A partir de agora, como vai ser apagar tudo isso, passar uma borracha nesse passado e recompor? Aí, cada um tem suas questões pessoais e locais para resolver. Essa é uma pergunta que precisa ser feita ao governador. O sr. vai trabalhar por essa recomposição?Isso é o governador que tem que trabalhar. Com nove votos, o Supremo Tribunal Federal (STF) foi favorável a reeleição única para membros da mesa diretora da Assembleia. Como avalia? Além do assunto se encerrar, essa discussão de Goiás criou uma jurisprudência nacional. Foi julgado pelo STF com nove votos favoráveis e um voto contrário. Mesmo o voto contrário não era divergente para não ter uma reeleição dentro do mandato. O voto do ministro Lewandovoski dizia que não poderia ter, mas com efeitos posteriores. Como ele foi voto vencido, isso não existe mais. Mas ficou concordado e fechado dentro da decisão do Supremo que pode ter uma reeleição dentro do próprio mandato, que é o nosso caso. Isso encerra de uma vez por todas as discussões que tivemos lá no começo do ano, colocando em dúvida o processo feito aqui. Fizemos tudo isso com muita segurança. Alteramos a Constituição Estadual e o regimento interno da Casa. Não foi nada feito a toque de caixa. Fizemos tudo dentro da legalidade. Agora, o STF confirmou totalmente.As câmaras de Goiânia e de Aparecida de Goiânia anteciparam a eleição da mesa diretora, a exemplo do que foi feito na Assembleia. Por um lado, a justificativa é evitar que a discussão da eleição da mesa sofra interferências do debate de ano eleitoral. Mas também existem críticas de que isso facilita a reeleição de um grupo que já está no comando. Como o senhor avalia essa discussão, levando em consideração que a Assembleia ajudou a construir os textos dos projetos aprovados em Goiânia e Aparecida?Avalio que essa questão de dar uma estrutura maior para quem está no poder é muito relativa. Se o presidente não estiver fazendo um bom trabalho, os vereadores não vão reelegê-lo. Se estiver fazendo um bom trabalho, obviamente, se tiver condição legal de ser reeleito, será reeleito. Cada câmara municipal tem sua autonomia. Os poderes têm que ser autônomos. Temos câmaras municipais no estado de Goiás e no Brasil que têm mandatos anuais para a mesa diretora. Outros têm mandatos de dois anos. E têm outros que permitem reeleição, a exemplo do que foi feito em Goiânia e Aparecida, em que foi alterado o regimento da Casa e, com certeza, as legislações municipais. É algo totalmente natural. Não significa que o presidente vai ser reeleito. Significa que ele tem a possibilidade desde que tenha bom trabalho. Foi feito isso em Goiânia e Aparecida. Com certeza os dois presidentes têm o respaldo da bancada de vereadores para seguir o trabalho.Na Assembleia, a base governista ganhou mais nomes. O sr. participou dessa articulação? Como o sr. vê essa mudança no ano pré-eleitoral?É um ano em que as coisas começam a ser definidas, não só de articulação política, mas também dos processos administrativos. Eu participei desde 2019, sempre com os deputados que compunham base. Alguns saíram, outros entraram. Eu me recordo que no final de 2020, mesmo não sendo da base, alguns deputados, até do PSDB, votaram uma PEC para garantir os 25 votos para o governo. E isso foi uma articulação que eu fiz. Sempre falei que a Assembleia é independente. Cada deputado tem sua autonomia para dar o seu voto conforme a sua orientação política e desejo de momento. Nós trabalhamos em momentos difíceis do governo. Eu trabalhei para aprovar matérias porque penso que, apesar da independência que temos, precisamos dar governabilidade e ajudar o Estado a se recuperar no que tange à sua economia e finanças, e poder fazer políticas públicas. O Estado precisava de ajuda do Poder Legislativo. Nós estávamos aqui para ajudar o governo do Estado a equilibrar suas finanças e fazer políticas públicas. Assim, poder devolver ao cidadão, em forma de obras, de programas sociais, de melhorias e de infraestrutura, os impostos pagos. Não tenho dúvida de que fizemos toda essa articulação pensando no bem-estar da população de Goiás. E hoje, se o governo tem maioria, com 27 ou 28 deputados na base, o que garante votações com quórum qualificado, isso é porque nós temos a consciência de que o Estado, no momento que precisou, pôde contar com a Assembleia, mesmo a Casa sempre tendo sua independência e deixando os deputados tomarem a decisão que acham melhor. Dentro dessa consciência que temos, sempre trabalhamos em prol de mostrar aos parlamentares que essas votações eram importantes naqueles momentos. A PEC do ICMS já tem gerado polêmicas. Como o sr. avalia a alteração? O projeto deve ser votado como veio da governadoria ou deve ser modificado?Teremos algumas discussões até mesmo com o Executivo para vermos alguns pontos que foram colocados em reunião com a Associação Goiana dos Municípios (AGM) e Federação Goiana dos Municípios (FGM). Precisamos avaliar que 48 municípios estão perdendo arrecadação. Os outros 198 municípios estão ganhando arrecadação com essa proposta. Mas a AGM e a FGM representam todos esses municípios. Precisamos ouvir os que estão ganhando e são favoráveis, mas também precisamos ouvir aqueles que estão perdendo e, teoricamente, seriam contrários à matéria. O que nos deixa um pouco mais tranquilos com a tramitação é que se trata de uma lei federal e, de qualquer forma, precisa ser ajustada porque os municípios vão sofrer penalizações se a matéria não for aprovada até, se não me engano, 22 de agosto do ano que vem. Mas algumas coisas podem, sim, serem mudadas. Algum porcentual, a questão do ICMS Ecológico, do valor que vai vincular à saúde. Vamos fazer todo esforço para votar ainda este ano.