O superintendente de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado da Secretaria de Segurança Pública de Goiás, delegado Alexandre Pinto Lourenço, foi nomeado nesta terça-feira (9) delegado-geral da Polícia Civil e será substituído por Odair José Soares, que ocupava o comando da PC-GO. Especulações sobre os motivos da troca e o fato de o governo estadual não aguardar lista tríplice da categoria fizeram com que delegados manifestassem, nos bastidores, receio de ingerência política no trabalho da polícia.A acusação pública partiu do deputado estadual e delegado Humberto Teófilo (PSL), que, em áudio que divulgou no WhatsApp na segunda-feira (8), falou das informações de que Odair seria substituído por não comunicar a Secretaria de Segurança Pública (SSP) de operação realizada pela Delegacia de Combate à Corrupção (Deccor) no Detran-GO. O deputado não apresentou provas nem detalhes da suposta operação. “Não pode investigar algumas pessoas que pensam que são intocáveis. Agora tem de avisar investigação? Quero obter informações disso”, diz o parlamentar no áudio.O secretário de Segurança, Rodney Miranda, rebateu o deputado e disse que as mudanças são ajustes normais da gestão. “É mais uma mentira, infelizmente, desse deputado que adora fazer politicagem, se aproveitar de momentos e criar confusão. Não temos nem de ficar respondendo isso. Mas vamos raciocinar. Eles estão trocando de cargo. Soa até ridículo. Vamos deixar ele falar sozinho. É só um remanejamento, uma oxigenada para encerrar bem esses últimos dois anos”, disse.As entidades que representam delegados e agentes da PC-GO procuraram informações ao longo do dia sobre os motivos das trocas para, se fosse o caso, manifestar publicamente, mas acabaram desistindo. Os relatos são de que, ao aceitar ser superintendente, Odair não teria disposição de acusar a SSP ou o governo de ingerência.“Foi o famoso acordo abafa”, afirmou Humberto Teófilo na noite de ontem. O deputado também criticou o secretário nas redes sociais, rebatendo a acusação de que havia mentido. “Logo ele, um forasteiro derrotado nas eleições do seu Estado e chamado de ladrão pelo primo do governador”, afirmou o parlamentar, lembrando o episódio de junho do ano passado, quando foi divulgado um áudio de Jorge Caiado, primo do governador Ronaldo Caiado (DEM), de acusações contra Rodney. Na época, ele foi afastado da SSP, substituído por Alexandre Lourenço e retornou duas semanas depois com arquivamento do inquérito por falta de provas, anunciado pelo delegado-geral em evento no Palácio das Esmeraldas, com a presença do governador.Odair, que estava na DGPC desde o início do governo Caiado, havia sido comunicado da mudança na sexta-feira (5) e na segunda-feira avisou aos colegas e entidades que representam os delegados, que então organizaram votação de lista tríplice para sugerir o novo nome. A publicação do decreto de exoneração ocorreu no fim da manhã de ontem, assinado pelo governador.A lista tríplice do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado (Sindepol) só foi divulgada à noite e não inclui Alexandre Lourenço, tido como nome muito alinhado ao governo. Os nomes indicados foram Adriano Sousa Costa, André Gustavo Corteze Ganga e Letícia Franco de Araújo. Em nota, o sindicato manifestou que a lista é “apenas uma sugestão” e que “respeita e acata a decisão do governador”.O secretário de Segurança havia manifestado pela manhã que os “ajustes” na equipe são prerrogativa legal do governador e que não há obrigação de seguir a lista. “A gente vem trabalhando assim desde o início do governo e vamos continuar assim, já que os números mostram que estamos no caminho certo.”Odair havia sido incluído em lista do Sindepol em 2018, mas o nome foi escolhido por Rodney de forma independente.A reportagem não conseguiu contato com Odair. Alexandre não comentou as razões da troca - afirmando que é um movimento comum na gestão - nem a decisão do governo de não aguardar a lista. Delegados próximos ao DGPC afirmam que a relação de Odair com Rodney já estava desgastada desde o ano passado por “divergências de posicionamento”.A reportagem apurou que na semana passada houve investigações no Detran-GO que envolvem a participação de uma servidora comissionada em suposto esquema de falsificação de carteiras de habilitação. A operação não teria sido divulgada por determinação judicial. O POPULAR não conseguiu confirmar se houve cumprimento de mandados no órgão e quem é a servidora investigada.Em setembro do ano passado, o governo trocou o comando da Deccor sob acusações de retaliação por operações que atingem agentes públicos do grupo político do governador, incluindo órgãos como Detran e Codego. As informações de bastidores eram de que a SSP estava “segurando” cumprimento de mandados em órgãos do governo. Humberto lembrou o episódio no áudio, afirmando que Rômulo Figueiredo, ex-titular da Deccor, “está até hoje no corredor porque investigou gente grande”.Na época, Caiado negou as acusações, disse que as trocas nas polícias são comuns e que “não existe operação engavetada” na atual gestão.DGAPO governo também fez trocas nesta terça-feira na Diretoria Geral de Administração Penitenciária (DGAP). O atual titular, coronel Agnaldo Augusto da Cruz, ocupará a subsecretaria adjunta da SSP e o tenente-coronel Franz Augusto Marlus Rasmussen Rodrigues assumirá a DGAP. Rodney afirmou que são mudanças “já programados, já trabalhados, sem nenhum estresse e sem nenhum tipo de confusão.”-Imagem (Image_1.2195559)