Integrante da cúpula nacional do DEM e com bom trânsito em Brasília por conta dos seis mandatos no Congresso, o governador Ronaldo Caiado envolveu-se em articulações nacionais este ano com três principais objetivos, segundo aliados: reforçar o grupo político da direita, mas com distanciamento do presidente Jair Bolsonaro (PL); buscar uma terceira via para a disputa presidencial; e acenar para segmentos importantes da sociedade, como evangélicos, e para as instituições, como Congresso e Supremo Tribunal Federal (STF)O último movimento foi revelado pelo recém-empossado ministro do Supremo, André Mendonça, no último fim de semana, em visita a Goiânia, para participar de eventos evangélicos. Embora nem Mendonça nem o próprio Caiado tenham detalhado a atuação nos bastidores, a reportagem apurou que a participação do governador foi especialmente em conversas junto à cúpula do Senado.Conforme mostrou O POPULAR, o ministro agradeceu em discurso ajuda em “conversas fundamentais” do governador. Caiado, por sua vez, disse que “valeu a pena interferir por ele”, mas completou que as articulações seriam “preservadas”.Parlamentares e líderes partidários informaram ao POPULAR que Caiado conversou especialmente com o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco, recém-desfiliado do DEM, e com Davi Alcolumbre, presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e principal responsável pela demora no agendamento da sabatina de Mendonça.Alguns aliados de Mendonça minimizam a participação de Caiado. Relatam que ele agiu de forma protocolar, sondando de fato Alcolumbre, mas sem confiar muito nas chances de vitória do indicado de Bolsonaro para o Supremo.Para eles, o governador compareceu ao evento de domingo e fez elogios a Mendonça pelo desejo de manter boa relação com o ministro e também como aceno ao segmento evangélico, relevante para o projeto de reeleição. Algumas lideranças do segmento defendem a indicação de um integrante na chapa majoritária de Caiado, mas é improvável que haja espaço.Aliados do governador dizem que de fato há gratidão pela ajuda de Mendonça no processo de adesão ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF), quando ele era chefe da Advocacia Geral da União (AGU). Além disso, a possível dependência do Supremo para garantir o ingresso ao RRF, depois que o Bolsonaro anunciou que vai “esperar mais” para assinar a homologação do Plano de Recuperação Fiscal do Estado também justificaria os acenos do democrata ao ministro.Dois dos senadores goianos estão entre os principais articuladores pró-Mendonça: Vanderlan Cardoso (PSD) e Luiz do Carmo (MDB). O pessedista diz que pediu apoio de Caiado no contato com Alcolumbre, de quem o governador é muito amigo, e que acredita que ele tenha atuado nesse sentido.Luiz do Carmo afirmou que prefere não comentar sobre a participação do governador. “Eu falo apenas por mim. Eu fiz muita coisa, lutei por ele (Mendonça). E o senador Vanderlan eu posso dizer também que lutou. Do resto, eu não sei. Às vezes fizeram e eu não sei. Não vou comentar”, afirmou. Mendonça acompanhou e comemorou o resultado da votação no Senado no gabinete de Luiz do Carmo, ao lado de familiares, aliados e da primeira-dama Michelle Bolsonaro.O senador Jorge Kajuru (Podemos), que disse ter votado contra a indicação de Mendonça (o voto é secreto), disse que não foi procurado pelo governador. “Meu voto já era de conhecimento público, mas eu fui procurado por lideranças que me pediram para mudar. Não foi o caso do governador”, afirma.ArticulaçõesOs contatos para tratar de Mendonça se somam a outras articulações recentes do governador em Brasília. Ele atuou fortemente em favor da fusão do PSL com o DEM, para a criação do União Brasil - o que o favorece em Goiás e na tentativa de apoiar um nome da terceira via na disputa presidencial - e agora articula pelo apoio do futuro partido ao pré-candidato Sergio Moro (Podemos).Na última reunião das cúpulas de PSL e DEM, o governador defendeu que a presença do partido na disputa ficou inviável - até então havia a pré-candidatura do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta - e afirmou que a aliança com Moro é o melhor caminho, segundo informações de bastidores.No início deste ano, em atuação que gerou polêmica, Caiado se omitiu em relação à disputa pela presidência da mesa diretora da Câmara dos Deputados, o que acabou expondo a divisão interna no DEM e favorecendo o deputado Arthur Lira (PP-AL) na disputa contra Baleia Rossi (MDB-SP), apoiado por Rodrigo Maia (à época no DEM).Foi por crítica à posição de Caiado “em cima do muro” sobre a eleição na Câmara que o presidente estadual do PP, Alexandre Baldy, sofreu retaliação por parte do governador, com a exoneração do irmão dele Adriano Baldy da Secretaria da Cultura em janeiro deste ano. O PP acabou voltando ao governo em outubro, em reaproximação de Baldy com o democrata.O governador goiano também se envolveu nas articulações de colegas chefes do Executivo para rebater posições do presidente tanto relacionadas à pandemia do coronavírus como do ICMS dos combustíveis, com publicações de notas e cartas coletivas.Segundo aliados, as movimentações visam ao fortalecimento de um grupo que represente o que chamam de “direita mais equilibrada” que Bolsonaro, que destaca respeito às instituições como Congresso e Supremo.