A primeira sessão da Câmara de Goiânia após o Supremo Tribunal Federal (STF) confirmar o terceiro mandato de Romário Policarpo (Patriota) no comando da Casa, realizada nesta terça-feira (20), foi marcada por discurso do presidente com recados a opositores e a aprovação em definitivo - e sem debate - da criação de quatro novas vagas de vereadores. Com isso, a partir de 2025, a Câmara passará de 35 cadeiras para 39.Em sua fala, Policarpo disse que “a Justiça foi feita, ao contrário do que muitos aqui desejavam” e citou a possibilidade de disputar mais uma eleição para presidente da Câmara. “Como disse o atual presidente eleito (Lula), e ele diz com muita sabedoria, ‘não cabe a quem tem poder governar com ódio’. Mas não me peçam para esquecer o que eu vivi nos últimos três meses. Isso não acontecerá”, declarou Policarpo.A fala do presidente é referência à movimentação de um grupo de vereadores que, diante da possibilidade de uma nova eleição para a Mesa Diretora, buscou atrair apoio de colegas, inclusive de aliados de Policarpo.No discurso, Policarpo relatou que, durante a tramitação do processo no STF, apenas ele e os vereadores Anselmo Pereira (MDB), Juarez Lopes (PDT), Geverson Abel (Avante), Pedro Azulão Jr. (PSB), Cabo Senna (Patriota), Mauro Rubem (PT) e Léo José (Republicanos) não foram procurados para reuniões.Leia também:- Em meio a desfiliações, Câmara de Goiânia aprova o orçamento de 2023- Abono para servidores da Educação avança na Câmara de Goiânia“Só que esqueceram que tinha mais vereadores que estavam comigo. Então, tudo que os senhores falaram de madrugada, nas casas, (...) chegava imediatamente a meus ouvidos. Então, cada fala que foi dita durante esse período chegou a mim. Não achem que eu vou esquecer disso. Muito pelo contrário, será lembrado”, disse o presidente.O STF confirmou, em julgamento na sexta-feira (16), a legitimidade da segunda reeleição de Policarpo, realizada de forma antecipada no dia 30 de setembro de 2021. Para garantir a segunda recondução, o regimento interno da Câmara foi alterado para permitir a convocação da eleição com apenas 48 horas de antecedência.No julgamento, o ministro Dias Toffoli, relator do processo, determinou que os dispositivos da Lei Orgânica de Goiânia e do regimento interno da Câmara devem ser interpretados conforme a Constituição Federal, abrindo possibilidade para apenas uma reeleição sucessiva aos membros da Mesa Diretora, independente da legislatura.No entanto, o ministro também ressaltou que o STF estipulou 7 de janeiro de 2021 como marco temporal para análise de casos como este. Com isso, a única eleição de Policarpo considerada na análise do caso foi a de 30 de setembro de 2021.É por este motivo que Policarpo falou nesta terça sobre disputar mais uma eleição. O grupo do presidente já comemorava essa possibilidade desde o momento em que o julgamento terminou, conforme mostrou o Giro. “Tentaram me retirar uma eleição legítima. Acabaram me dando a possibilidade de mais uma. Então, fica a lição para aqueles que tentaram dilapidar o patrimônio político construído por essa Mesa Diretora”, disse Policarpo.Criação de vagasO Projeto de Emenda à Lei Orgânica de Goiânia que cria quatro novas cadeiras na Câmara foi colocado em votação no contexto de tramitação do processo no STF contra o mandato de Policarpo. O texto foi votado pela primeira vez no plenário no dia 6 de dezembro.O Giro mostrou na época que o grupo de Policarpo trabalhou pela votação da matéria para se adiantar à articulação de opositores, que, com expectativa de nova eleição da Mesa Diretora, tentava atrair apoio usando o aumento de cadeiras como promessa.Ao todo, 31 vereadores registraram voto favorável à proposta na segunda votação. O texto não estava previsto na sessão desta terça, mas foi incluído por meio do recurso de inversão e inclusão de pauta. A mesma estratégia foi usada quando o projeto foi apreciado em plenário pela primeira vez na semana passada. Na ocasião, o projeto recebeu 29 votos favoráveis.A proposta começou a tramitar no fim de 2021, com 13 assinaturas. No entanto, na época, cinco das rubricas não tiveram os donos identificados e a matéria foi engavetada em meio à pressão por esclarecimento.Na sexta-feira (16), Cabo Senna pediu para ser incluído na tramitação do projeto um documento com assinatura de 29 vereadores, com o objetivo de “sanar quaisquer divergências quanto às assinaturas”. Na peça, Senna diz que o intuito é cumprir dispositivo da Lei Orgânica que estabelece que um projeto deste tipo, quando tem origem na Câmara, precisa ter a assinatura de, no mínimo, 12 vereadores.As assinaturas para este documento foram colhidas com a estratégia para demonstrar unidade da Casa em torno da proposta e como respaldo jurídico.ConfeteO discurso de Policarpo foi seguido por declarações de apoio de mais de 20 vereadores. O presidente e parte de seus colegas fizeram referência à soberania do plenário para tomar decisões dentro da Câmara e “forças” de fora da Casa que tentam influenciar os vereadores.A ação contra o terceiro mandato de Policarpo foi protocolada pelo PROS, assinada pelos advogados Guilherme Augusto Mota Alves e Andressa Mendonça. O fato de Mendonça ser ex-mulher de Carlos Cachoeira levantou a suspeita de que ele esteja envolvido. Além disso, há informação nos bastidores que Cachoeira tem influência dentro do PROS. O POPULAR mostrou que ele nega participação.O presidente também usou a fala para agradecer partidos e políticos que, segundo ele, ajudaram na sua defesa. Entre os citados estão o PT; o vice-governador eleito, Daniel Vilela (MDB); e os presidentes estaduais do Patriota, Jorcelino Braga, e do PSB, Elias Vaz.Policarpo também agradeceu Aava Santiago, que é presidente do PSDB em Goiânia, e o ex-governador e presidente estadual, Marconi Perillo. O prefeito de Goiânia, Rogério Cruz (Republicanos), e Wladmir Garcêz, tio da vereadora Sabrina Garcêz (Republicanos), também foram citados.