Adiada após a invasão do plenário da Assembleia Legislativa de Goiás por produtores rurais, a segunda votação dos projetos de lei do governo que criam contribuição do agro ocorrerá nesta quarta-feira (23) em sessão híbrida e fechada ao público. Os manifestantes quebraram uma das portas de acesso ao plenário e três vidros das galerias (espaço reservado à população).A invasão ocorreu pouco antes do início da apreciação dos projetos, quando o governo contaria novamente com 22 votos. Os votos contrários somavam 14, com dois dos parlamentares que rejeitaram na semana passada ausentes na sessão: Alysson Lima e Sergio Bravo, ambos do PSB.O presidente da Alego, Lissauer Vieira (PSD), repudiou os atos de vandalismo e disse que haverá investigação. Ele nega que a Casa tenha falhado na segurança ou facilitado a entrada de manifestantes, afirmando que havia convocado todo o efetivo da Polícia Legislativa (150 servidores) e pedido reforço da Polícia Militar, que estaria à paisana em plenário.Contrário aos projetos, Lissauer havia determinado sessões exclusivamente presenciais na quinta-feira passada, quando houve aprovação em primeira votação, e nesta terça. Ele propôs a flexibilização, aceitando que fosse híbrida, diante da pressão dos deputados da base pela retomada da sessão para votar ainda na terça.O presidente e deputados governistas se desentenderam sobre a possibilidade regimental de retorno da sessão. É que, diante da invasão, Lissauer declarou encerrada a sessão, sem convocar extraordinária. O presidente, respaldado pela Procuradoria da Casa, afirmou que não poderia haver nova sessão ainda nesta terça por conta do encerramento e do prazo de até 17 horas para sessão ordinária.Já o grupo governista alegava que, com os projetos em caráter de urgência, o presidente não poderia ter encerrado a sessão, mas deveria ter suspendido. Além disso, afirmavam que “o plenário é soberano” e poderia votar a retomada da sessão.Diante da negativa de Lissauer em voltar aos trabalhos, a bancada aliada estava disposta a fazê-lo sob o comando do vice-presidente Henrique Arantes (MDB). Nos bastidores, a informação era de que o governador Ronaldo Caiado (UB) estava irredutível na posição de não aceitar o adiamento da votação.Deputados da oposição, então, ocuparam os assentos da mesa diretora para evitar o retorno. As galerias seguiram ocupadas com protestos. Os oposicionistas e a direção da Alego afirmavam que nova sessão seria questionada na Justiça e teria grandes chances de se tornar nula, por desrespeito ao Regimento Interno.Foi quando Lissauer propôs a votação nesta quarta em sessão sem público e híbrida. O governo vinha alegando que pelo menos três deputados estão com viagens esta semana e não poderiam comparecer em votação presencial.Às 18h15, Lissauer comunicou oficialmente na mesa a realização de nova sessão nesta quarta. Diante da resistência dos oposicionistas, ele afirmou: “Quer que se mate alguém aqui dentro? Não tem clima para permitir público”. Ele completou que a direção precisa garantir segurança não apenas aos deputados, mas também aos servidores.Lissauer admitiu que, como representante do agro, percebeu que o clima esquentaria na sessão desta terça. O governo também tinha alerta e enviou mais viaturas para a porta da Alego. O presidente determinou que apenas a imprensa e dois assessores por deputado pudessem entrar nas dependências do plenário.Os manifestantes ficaram nas galerias, por onde passaram por detector de metais. Dezenas de canivetes ficaram recolhidos em armário do acesso ao local.No entanto, pouco mais de uma hora após o início da sessão (15 horas), às 16h10, grupos de produtores entraram na Casa e se juntaram para invadir o plenário. Imagens de vídeos divulgados nas redes sociais mostram que só houve grande resistência ao acesso dos manifestantes já na parte de dentro do plenário, quando policiais legislativos foram surpreendidos e não conseguiram segurar o grupo.Inicialmente, Lissauer disse que suspenderia a sessão, mas acabou encerrando. Ele e deputados da base saíram rapidamente do plenário, por orientação dos seguranças, enquanto parlamentares da oposição - como Paulo Cezar Martins e Paulo Trabalho, ambos do PL - comemoraram e cumprimentaram os manifestantes.Questionado sobre o apoio à invasão e ao vandalismo na Casa, Paulo Cezar disse que “apoia, sim”, e perguntou: “Você é funcionária do Caiado?”EstratégiasAntes do início da sessão, deputados governistas determinaram que assessores ocupassem as galerias da Casa, para reduzir o espaço aos manifestantes. Segundo relatos dos parlamentares, cerca de 40% das cadeiras foram ocupadas por servidores.Houve queixas dos produtores e até briga, quando Lissauer pediu aos deputados que tirassem os assessores do local. Os governistas, que almoçavam com Caiado no Palácio, resolveram desocupar as galerias, a pedido do próprio governador.Logo no início da sessão, Lissauer também determinou que o presidente da Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes (Goinfra), Pedro Sales, deixasse o plenário. Ele acompanhava a votação ao lado dos deputados governistas desde a semana passada. O presidente alegou que o espaço era exclusivo dos deputados.Os produtores protestavam na Casa desde quarta-feira. No dia seguinte, um grupo chegou a entrar no plenário com Paulo Trabalho. Lissauer pediu que saíssem e autorizou a permanência no espaço da imprensa e de assessores. Alguns deles ameaçavam invadir o plenário para impedir a votação.Dois projetos tratam da cobrança sobre produtos agropecuários: um altera o Código Tributário Estadual, criando a contribuição, e outro institui o Fundo Estadual de Infraestrutura (Fundeinfra), para o qual os recursos serão destinados. A arrecadação esperada de cerca de R$ 1 bilhão por ano será aplicada em rodovias, segundo o projeto do governo.Na sessão de ontem, deputados da oposição fizeram um requerimento para a retirada dos projetos da pauta. Lissauer submeteu à votação, quando 22 parlamentares foram contrários. A invasão veio minutos depois desta votação.