A Câmara Municipal de Goiânia começou a discutir, nesta quinta-feira (7), o projeto de resolução que altera o regimento interno para proibir a posse e o porte de armas no ambiente do parlamento, com exceção para forças de segurança da ativa. Com a discussão alongada, acabou não havendo quórum suficiente para a votação. A proposta, de autoria do vereador Ronilson Reis (Brasil 35), foi apresentada depois de inúmeros episódios de brigas envolvendo o vereador Sargento Novandir (Avante), que não só anda na Casa com arma na cintura, como já colocou a pistola na tribuna do plenário.O projeto de Ronilson foi apresentado ainda em 2021, depois de uma discussão entre Novandir e Pedro Azulão Jr. (PSB). O texto chegou a ser aprovado na Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJ), mas não entrava na pauta do plenário. Nesta quinta-feira, então, Ronilson pediu a inversão da pauta para incluir o texto, que agora tem a votação prevista para a próxima terça-feira (12).O debate sobre o uso de armas na Câmara se acalorou na semana passada, quando em mais um episódio, Novandir ameaçou Santana Gomes (PRTB). "Passei anos trocando tiro com ladrão e hoje, infelizmente, eu não posso trocar tiro com quem tem o colarinho branco, se não com certeza nós dois íamos trocar. Porque nós sabemos o que o senhor é, o senhor é uma farsa", disse ao colega.Ainda neste ano, Novandir apareceu na Câmara vestido de palhaço, se dizendo enganado pela Prefeitura de Goiânia no projeto do Código Tributário Municipal (CTM), que provocou aumentos no valor do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU). Na ocasião, tirou o cinto, dizendo que merecia apanhar por ter votado a favor da proposta e, para a performance, colocou sua arma em cima da tribuna utilizada para debates no Legislativo. Todos esses episódios repercutiram na imprensa e, quando questionada, a Câmara afirmava que não tinha o que fazer já que o projeto estava em tramitação e dependia de sua votação. Novandir é policial militar da reserva e, por isso, justifica o fato de andar armado o tempo todo. Na semana passada, no auge do debate, ele disse que estava disposto a deixar a arma no gabinete para evitar que colegas usassem sua arma como argumento para se defender de discussões.DebateNesta quinta-feira, ele usou do mesmo argumento. Ainda alegou que o projeto prejudicaria as forças de segurança e até policiais militares que, porventura, fossem homenageados na Câmara. Novandir chegou a pedir vistas do projeto para fazer alterações que, segundo ele, manteria a proibição apenas para vereadores. No entanto, logo foi rebatido pelo vereador Anselmo Pereira (MDB), que é presidente do Conselho de Ética. O emedebista lembrou que o texto já prevê a exceção para as forças de segurança da ativa. Anselmo ainda ressaltou que o vereador também não poderia deixar a arma na gaveta do gabinete, afinal a matéria proíbe o porte dentro das dependências da Casa."Ou então o senhor pode ir lá pegar a arma e matar um vereador", disse Anselmo. Ele ainda disse que, se o projeto não passasse, na primeira oportunidade acionaria o vereador que usasse a arma em discussão. "A minha arma não pode ficar na gaveta, ela vai ficar onde? No meu carro? E se alguém roubar? A arma está segura na minha cintura", rebateu Novandir, que ainda comemorou o fato de que a votação foi em painel. Segundo ele, assim, seria possível ver como votou cada parlamentar, porque, para ele, era óbvio apenas os votos dos vereadores de esquerda, que votariam favoráveis à matéria. Santana argumentou que a arma do parlamentar é a fala e lembrou que não haveria motivo para o vereador usar a arma na Casa, já que está na reserva da Polícia Militar. Mauro Rubem (PT) também lembrou os episódios protagonizados por Novandir. "Tem gente dizendo que tem equilíbrio, mas que já provocou cenas patéticas aqui. Como é que alguém aqui no calor do debate pode andar armado? É absurdo! Arma não é argumento. Esse mesmo vereador já falou que foi enganado no IPTU, que foi iludido. Ora, troca a arma pelo livro, pelo estudo."A vereadora Aava Santiago (PSDB) disse, ainda, que na Câmara em nenhum momento a arma foi mostrada ou apontada por agentes da Guarda Civil Metropolitana de Goiânia (GCM), mas que, ao contrário, já viu o vereador fazer isso. Ele negou que já tenha mostrado a arma para os colegas. Ronilson, que é o autor do projeto, porém, disse ao POPULAR: "Ele abre o terno, é uma forma de intimidação dentro do parlamento."Com o alongamento da discussão, a proposta acabou não sendo votada por falta de quórum e a sessão foi encerrada. A votação fica prevista para a próxima terça-feira (12).