-Imagem (1.2453705)Ex-reitor da PUC-GO, Wolmir Amado diz que o PT definiu seu nome como pré-candidato ao governo, e que a discussão de uma frente ampla não significa abrir espaço para a candidatura de José Eliton (PSB). Na entrevista, ele também comenta propostas para a área energética e educação e critica os governos de Jair Bolsonaro (PL) e Ronaldo Caiado (UB).Leia também:- Vitor Hugo diz que não vai compor com Caiado ‘de forma alguma’- Caiado diz que não terá 'dificuldade nenhuma com eleitores de Bolsonaro'O sr. foi lançado pelo PT à disputa ao governo, mas o partido mantém diálogo também com o ex-governador José Eliton (PSB). O que é mais provável: uma candidatura sua ou uma composição com o PSB?São dois aspectos distintos, embora correlacionáveis. O partido foi construindo a sua pré-candidatura e vai consolidar isso no dia 28, em encontro estadual. Tivemos reunião com a executiva nacional há 15 dias, e dois dias atrás tivemos reunião também com o Grupo de Trabalho Eleitoral, em que se percebe sintonia em torno de uma pré-candidatura própria. O partido está muito coeso para que, nas urnas, o eleitor digite 13 e não o número de outro partido. Agora, outra (coisa) é a discussão sobre a frente ampla da esperança. É uma frente de convergência de partidos de esquerda, ou já oriundos da Federação (PT, PCdoB e PV protocolaram registro de federação partidária) ou novos, como o PSB e, eventualmente, outros partidos ou segmentos que queiram também apoiar o palanque para Lula e enfrentando o governo Caiado em Goiás. Qualquer partido pode lançar pré-candidato também, mas nosso partido tem o seu nome. José Eliton disse ao POPULAR que a pré-candidatura dele foi um pedido do ex-presidente Lula. Por qual motivo Lula apoia um nome de outro partido e não do PT no estado?Se eu fosse Lula, faria o mesmo. Como um grande líder, todas aquelas pessoas que vêm com disposição para mudar o País, mudar Goiás; que defendem a Constituição, o Estado de direito, educação, saúde, meio ambiente e justiça social; que estão aliados aos mais vulneráveis; que querem somar à construção de políticas públicas; esses devem ser incentivados. A rigor, em Goiás não há acerto, como houve em outros estados, onde o PSB acertou (com o PT) o lançamento de candidatura. O que temos é uma construção. Em 2018, a presidente do PT em Goiás e à época candidata ao governo, Kátia Maria, fez duras críticas a José Eliton, que era governador. O eleitor conseguirá entender essa aliança?Primeiro, gostaria de dizer que tenho uma estima especial por José Eliton. Eu era reitor, ele vice-governador (2011-2018), então, havia a convergência de projetos que eram feitos, diálogos contínuos. Agora, de fato, houve períodos do passado em que José Eliton esteve como adversário, porque o PT concorria com o governo Marconi (Perillo, PSDB), então, havia enfrentamentos. Também havia abordagens diferentes, como o tema das OSs (Organizações Sociais) e privatizações. Estes são aspectos do passado que o partido traz como memória, vigilância e avaliação. Entretanto, as pessoas podem mudar, e José Eliton mudou. Mudou de escolha, de lado, e, claro, isso é muito bem-vindo. Evidentemente que é uma decisão que aos poucos, agora, vai se construindo. Penso que o PT, por um lado, faz a avaliação do passado, mas, por outro, em cima de um conteúdo programático e um desejo de mudança, também olha para o futuro e vê com quais forças da sociedade e da política se pode construir algo novo. O eleitor vai compreender isso, porque almeja superar polarizações e esse clima de conflito, de odiosidade. Temos que superar e essa pacificação passa pelo mundo da política. O eleitor quer algo diferente e não olha só para o passado. Quer uma construção original, talvez assentada no passado no sentido crítico, mas com olhar de reconstrução. O sr. fala na construção de um projeto original, mas como apresentar isso ao eleitor sendo de um partido que governou o País por 13 anos?Quando o PT assumiu (a presidência da República), no início dos anos 2000, existia uma conjuntura. O tempo mudou. Tanta mudança aconteceu na sociedade e o PT acompanha isso. É claro que é bom que o partido tenha história. Não é algo superficial. Muito nos honra e orgulha, um santo orgulho, de ter esta história de 42 anos. Porém, é uma tradição que tem que se renovar. Quem se apega só ao passado fica num tradicionalismo superado, inflexível; quem olha para o futuro, mas não tem raízes, fica superficial. Temos experiência acumulada e criatividade para olhar ao futuro. A impossibilidade de diálogo com outros partidos de esquerda, como PSOL e PCB, prejudica o discurso de frente ampla da oposição?Penso que nunca se deve fechar a porta à possibilidade de diálogo com quaisquer que sejam as pessoas. É importante que haja divergências, porque isso é democracia. Há quem queira anular instituições, anular o poder do Judiciário, do STF; que queira enfrentar na base da arma, romper diálogos e gerar conflito. O governo Bolsonaro fez isso o tempo inteiro, querendo atribuir culpa e responsabilidade. Uma hora a culpa é do PT, outra hora é da Ucrânia, do Judiciário. PSOL e PCB têm sua tradição que merece também todo o respeito e, sobretudo, a possibilidade de diálogo. Goiás ficou mais de 18 horas sem energia, em média, em 2021. A atual gestão tem pressionado o governo federal a agir sobre o assunto. Caso eleito, o que pretende fazer nessa área?Esse governo é atrasado neste aspecto, porque pensa em uma única matriz energética. Temos, sim, que olhar se há que fazer uma revisão nos contratos da Enel, pois seus serviços de fato não são adequados. Andando pelo interior, vemos que hospitais, comércio e indústrias, às vezes, têm que paralisar suas atividades. Entretanto, é preciso pensar uma nova matriz energética. Pensamos em criar, em nosso governo, uma “Celg Sol”, porque este é um dos estados com maior quantidade de horas de sol e é possível, portanto, extrair energia. É possível, num arranjo produtivo local, criar placas solares para gerar energia local. Em Cavalcante, que é uma região mais alta, é possível ter uma “Celg Eólica”. Pode-se ter outra matriz energética com o biogás. O estado tem que pensar de um modo ambiental, progressista, e que incorpore os avanços da ciência. É preciso uma nova visão de governo. Goiás é o segundo estado do Brasil que menos investiu em energia solar. Como pode isso? O mundo inteiro avança nisso e os outros estados vão evoluindo, vão tendo desenvolvimento econômico e incorporando novas tecnologias, e nós aqui. É um atraso que se reflete no PIB, mas que significa, sobretudo, um atraso social, de proteção ambiental, e que massacra os mais pobres. Qual deve ser seu tratamento à UEG?Tenho 37 anos como professor e fui, por 18 anos, reitor de universidade. Realmente entendo e dialogo com o campo da educação, e vejo com muita tristeza o que se faz da educação em Goiás. Primeiro, é preciso buscar secretários em outros estados? (A secretária estadual de Educação, Fátima Gavioli, é de Rondônia) Como que se aqui não tivesse gente qualificada para conduzir a educação; segundo, o Plano Nacional de Educação prevê que, até 2024, nós tenhamos, no País todo, 50% das crianças de 0 a 3 anos com vagas em creche, e o máximo que atingimos em Goiás foi 22% e, assim mesmo, na região metropolitana (de Goiânia). Terceiro, as crianças de 6 e 7 anos, devido à pandemia, estão analfabetas e isso vai trazer consequências para o resto da vida. A minha experiência na universidade é de que, quando alguém chega com alguma defasagem da educação básica, é difícil que ela supere, e o governo é responsável, nas suas origens, por comprometer o resto da vida dessas pessoas. Isso me comove profundamente (se emociona), porque tenho visto jovens que têm esperança no futuro e veem aquilo comprometido por negligência, corrupção, ineficiência de governos. Em quarto, a educação superior. Não é possível tratar uma universidade estadual desta maneira. Temos universidades estaduais, como as paulistas Unesp, Unicamp e USP, que têm liderança mundial. Gostaria que essa universidade tivesse pleno serviço no estado, sobretudo, que tivesse liderança internacional. Sugiro manter campus fixos, porque eles são fatores de indução de desenvolvimento local, e fazer a rotatividade de cursos, quando se esgota a demanda de um curso naquele lugar. Um dia vou dialogar com a comunidade universitária da UEG sobre isso, porque um governo tem que ter diálogo.-Imagem (1.2454004)