Em maio de 2007, O POPULAR publicou um grande material especial celebrando o ano do centenário do arquiteto Oscar Niemeyer. Uma reportagem que falava de seu legado para a arquitetura em todo o mundo, destacando seus grandes projetos no Brasil, sendo Brasília o maior e mais importante deles, mas também as obras que espalhou por várias partes do planeta. E para coroar esse esforço jornalístico, o repórter Rogério Borges conseguiu uma entrevista exclusiva com Niemeyer. “Não me agrada essa idolatria, apesar de reconhecer que são muitos os que me dispensam um enorme carinho”, afirmou. “Agrada-me o interesse com que o público em geral procura minhas obras”, acrescentou.Na conversa, Niemeyer enfatizou que não se considerava uma pessoa especial. “Sou, na verdade, um ser humano como outro qualquer – pequeno diante deste universo fantástico que me cerca, constatando (para minha alegria), que conferi à minha profissão um entusiasmo indispensável, permanecendo consciente de que a vida é mais importante do que a arquitetura”, ponderou. “Tenho tentado manter minha coerência – seja em relação às posições político-ideológicas, seja quanto às minhas concepções de arquitetura. Acredito, contudo, que não se deve perder o direito de errar”, salientou. “Venho agindo assim há muito tempo, sempre em paz com a minha consciência.”Niemeyer, na entrevista, não se esquivou de assuntos mais delicados, como a velhice e a morte. “Sempre me revoltou essa ideia de desaparecer. A vida é um sopro. Nada tem importância e por isso mesmo devemos ser modestos, encarar a nossa insignificância, nos reconhecer frágeis, pequenos diante deste universo imenso que nos fascina e humilha.” Sobre manter-se lúcido e trabalhando aos 100 anos, o arquiteto encarava com naturalidade. “Não existe nada de excepcional nisso, a meu ver”, respondeu. “Viver todo um século é algo paradoxal – fantástico pelo conjunto de acontecimentos de que fui testemunha nessa era de extremos; penoso, se se levarem em conta as perdas de parentes e amigos.”