A falta, essa presença tão constantes quanto silenciosa, caminha conosco. Companheira persistente, não chega como castigo, mas como parte do que somos. Aprender a viver com ela é, talvez, o maior gesto de liberdade – viver com mais leveza, mais humanidade, mais verdade. Nós, mulheres, fomos educadas para sermos tudo. Boas profissionais, mães exemplares, companheiras impecáveis, belas sem esforço, organizadas sem falhas, disponíveis sem pausa. A cobrança é tanta que, por vezes, já nem sabemos se queremos ou apenas repetimos o que nos disseram que deveríamos querer. Essa exigência de perfeição não brota de dentro. Tem raízes profundas, fincadas nas estruturas sociais, econômicas e culturais erguidas pelo patriarcado. Silvia Federici lembra que a opressão feminina caminha lado a lado com a história da propriedade privada e o controle sobre nossos corpos.