O prestigiado historiador Quinn Slobodian identifica, em seu último livro, a emergência de um cenário distópico e socioambientalmente desolador nas cidades e nas formas de sociabilidade deste terceiro decênio do século XXI. O tempo presente ressoa a “lembrança do mundo antigo”, poema em que Drummond lamenta a perda de um ambiente em que ainda “havia jardins, havia manhãs”. A cidade de Goiânia – uma das capitais globais da especulação imobiliária, que converte a diversidade urbana em homogênea plataforma de negócios - expressa, dramática e emblematicamente, este processo de erosão dos espaços de convívio, em meio à dissolução dos lugares de encontros e trocas socioculturais. Um episódio recente parece ilustrar este quadro em toda a sua dramaticidade: o encerramento, por falta de demanda, anunciado em dezembro de 2024, da Livraria Pomar.