É evidente que estamos vivendo uma “epidemia”, uma “crise de saúde mental”. Mas gostaria de ressaltar que também estamos enfrentando uma catástrofe moral. A filósofa Hannah Arendt, em A crise na educação, já alertava: “a verdadeira crise não está nas crianças, mas nos adultos que deixaram de assumir a responsabilidade pelo mundo diante delas”. Quando os mais velhos se omitem, deixam de sustentar valores éticos básicos e de apresentar a realidade como ela é, as novas gerações crescem sem referências sólidas. A saúde mental de crianças e adolescentes não se constrói isoladamente em consultórios, diagnósticos ou remédios. Ela nasce, sobretudo, em um ambiente ético, confiável e amoroso, no qual os adultos assumem a função de oferecer continência, de sustentar a vida psíquica em formação. Donald Winnicott, pediatra e psicanalista britânico destacou que o bebê não existe sozinho, não é possível pensar uma bebê e uma criança destacado dos seus adultos cuidadores. Meninotes só podem existir em relação a um ambiente que o sustenta.