Nos bastidores do sistema público de saúde, há uma fila invisível. Nela, pacientes esperam por leitos, exames e tratamentos com a esperança de que o critério técnico garanta acesso justo. Mas, cada vez mais, essa fila vem sendo atropelada — não por negligência direta, mas pela crescente judicialização da saúde que, ainda que bem-intencionada, interfere na lógica de prioridade estabelecida por critérios clínicos. O que se pretende proteger com a judicialização pode, paradoxalmente, resultar em injustiça. Isso sem falar na dificuldade de cumprimento de uma decisão judicial porque não se sabe, ao certo, onde está o paciente. O paciente navega à deriva. Ele é o náufrago de um sistema que o inscreve em múltiplas filas. Ele aparece em três, quatro filas diferentes, porque a regulação não conversa. O resultado disso? Desperdício de estrutura médica, de leitos disponíveis, de dinheiro público.