Os alagamentos e inundações são processos hidrometeorológicos correlacionados com a intensidade de chuva, com as características das bacias hidrográficas, como a área de drenagem e a declividade, e ainda, correlacionados com os sistemas de drenagens. Considerando que alagamento urbano é a água acumulada nas ruas por falta de um bom sistema de drenagem, e inundação é quando há o transbordamento dos cursos de água atingindo as áreas marginais.

Como o solo já estava saturado devido às precipitações anteriores, as chuvas que caíram nos dias 11 e 12 deste mês provocaram transtornos e prejuízos em várias regiões, como: nos setores Jardim América, Jardim Atlântico, Vila São Paulo, Vila São José, Goiânia Viva e Chácaras São Joaquim. Além de transbordamento em vários cursos de água, como no Ribeirão Anicuns, Córrego Taquaral e Córrego Cavalo Morto.

Observa-se que em Goiânia nos últimos cinco anos os alagamentos, as inundações e os estragos nas vias públicas em decorrência da intensidade de chuva vêm crescendo, como também, estão aumentando os locais de ocorrência desses acontecimentos. Tudo isso é devido, principalmente, aos seguintes fatores: péssimo sistema de drenagem, falta de educação ambiental da sociedade e um Plano Diretor do Município que não respeita as características físicas e ambientais das bacias hidrográficas. Pode citar também a influência da variação climática.

As obras pontuais realizadas recentemente para minimizar os alagamentos, como exemplo, a que foi feita na avenida C-107 na margem direita do Córrego Cascavel, apenas resolveu mais ou menos a questão no local, porém transferiu o problema para a jusante, ou seja, para um local abaixo. Nesse caso pode ter havido mais custo do que benefício.

Atualmente, está em elaboração o Plano de Drenagem Urbana de Goiânia. Porém a drenagem urbana não se deve restringir somente aos aspectos de engenharia, mas também, as várias medidas que podem ser tomadas visando à atenuação dos riscos e dos prejuízos decorrentes das inundações e alagamentos, como: desobstruções de canais e bueiros, limpeza das margens dos córregos e programa de educação ambiental para proteger o meio ambiente e os recursos hídricos.

Constantemente se vê nas calçadas e em lugares inadequados: pneus, sofás, colchão, garrafas, equipamentos eletrônicos e sacos de lixos. O lixo não só contribui para os alagamentos como também para piorar a qualidade da água dos mananciais que abastecem a população.

No caso em que a edificação residencial ou comercial foi construída e habitada legalmente em local sem restrições por parte do município, em caso de danos materiais devido ao problema de drenagem, deve-se fazer uma perícia técnica com um profissional devidamente habilitado para serviços de drenagem. E se for comprovado que o prejuízo foi devido à negligência do poder público municipal, o proprietário do imóvel pode pedir o ressarcimento pelos danos causados.

Marcos Antônio Correntino da Cunha, engenheiro eletricista especialista em Hidrologia e Recursos Hídricos

Alagamentos em Goiânia

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Marcos Antônio Correntino da Cunha

O tiro saiu pela culatra e as explosões na Praça dos Três Poderes, em Brasília, produziram efeitos exatamente opostos aos pretendidos pelo seu autor, Francisco Wanderlei Luiz. Se ele planejou enfraquecer o Supremo e fortalecer o golpismo, acabou unindo as instituições e as forças democráticas e isolando os bolsonaristas e os radicais em geral. E, afinal, foi a única vítima do seu próprio ato terrorista.

As duas explosões, uma à frente do Supremo, a outra próxima ao Congresso, confirmam o poder da internet, o quanto o discurso do ódio está disseminado e como cidadãos e cidadãs estão reféns da guerra ideológica. Mas, de outro lado, trouxeram a lembrança da articulação de um golpe de estado, a tentativa de cooptação das Forças Armadas e o trauma de 8 de janeiro de 2023. Logo, reativaram a resistência democrática, a importância do Supremo e da urgência da regulamentação da internet.

O País lembrou de como Alexandre de Moraes, alvo maior das redes e do terrorista, foi decisivo para evitar o golpe e punir os responsáveis. E, na prática, ele ganhou mais tempo para liderar a resistência. Ele é relator do inquérito do golpe, que foca no ex-presidente Jair Bolsonaro e será concluído pela PF na próxima semana, e agora, também, do inquérito das explosões, que é autônomo e vai demorar.

Já o bolsonarismo não tem nada a comemorar. Sem chance via Justiça, Bolsonaro contava com o Congresso para derrubar sua inelegibilidade, sob pretexto de conceder anistia aos golpistas do 8/1. A anistia, porém, parece sete palmos debaixo da terra. E o bolsonarismo passou recibo. Assim como Bolsonaro não para de bater no peito e dizer que será o candidato em 2026, ele agora diz que as explosões foram uma mera “coisa de maluco”. No mundo real, porém, Bolsonaro está inelegível e a investigação da PF é sobre terrorismo.

Num texto que não tem o estilo, os vocábulos, o conteúdo e a alma de Bolsonaro, ele defende pacificação e diálogo, que jamais defendeu na vida. Na mesma toada, Ciro Nogueira, chefe da Casa Civil do seu governo, que está sempre no ataque, passou de repente a condenar a polarização e a defender o diálogo. As voltas que o mundo dá.

Os ataques à democracia e à paz começaram com multidões enroladas na bandeira nacional pedindo volta da ditadura e fechamento do Supremo e do Congresso, já no início do governo Bolsonaro, com a presença do presidente e até com o QG do Exército ao fundo. E se multiplicaram via internet.

É assim que cidadãos comuns vão saindo da realidade, mergulham no mundo virtual e acreditam nas fake news mais estapafúrdias, até se transformarem em terroristas. Seja provocando explosões, seja depredando STF, Planalto e Congresso. Em nome do quê? Da democracia? Isso é coisa de louco, sim, mas louco terrorista que não merece anistia.

Eliane Cantanhêde, jornalista

Tiro pela culatra

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Eliane Cantanhêde

A eleição de Donald Trump marca um novo tempo histórico não apenas nos Estados Unidos, mas na dinâmica geopolítica e geoeconômica global. Trata-se de um evento que acompanha um movimento mundial de redefinição dos arranjos de poder tanto em termos políticos quanto econômicos. Trump é a aposta dos norte-americanos diante de um país intimidado pelo crescimento chinês e pela retomada do poder russo. A eleição de Trump significa, ainda, um grito retumbante por mais nacionalismo diante dos estertores do regime neoliberal.

Tanto o vigoroso e crescente ritmo de crescimento econômico da China quanto a recuperação da Rússia enquanto superpotência bélica e que, por isso, reivindica uma posição de maior relevo nas agendas e nos fóruns internacionais dos Estados-nacionais mais poderosos, expressam uma nova ordem global.

Enquanto isso, como já alertara Noam Chomsky, o sonho americano tem ficado cada vez mais no passado. Em nossa opinião, os Estados Unidos encontram-se numa encruzilhada: ou se voltam para si próprios e admitem a inevitabilidade das transformações em curso, o que implica o reconhecimento de que a partir de agora há um mundo multipolar ou promovem uma escalada das rivalidades com a China e enquanto isso buscam fortalecer os seus tentáculos militares e sua posição geopolítica no globo, mesmo que às expensas de seu orçamento e de sua sociedade.

Quando Paul Kennedy publicou Ascensão e queda das grandes potências, era esse o dilema ao qual se reportava para explicar como as potências sucediam umas às outras no domínio do sistema mundial. O que podemos esperar com a eleição de Trump é o retorno de políticas econômicas protecionistas, no estilo do chamado neomercantilismo, o endurecimento das políticas anti-imigração, a redução da participação dos EUA na agenda ambiental, e, no tocante à política externa, um enorme desafio: como fomentar a OTAN e, ao mesmo tempo, criar condições para o armistício entre a Rússia e a Ucrânia.

Nesse sentido, o trumpismo é a manifestação do fracasso da globalização e do sonho americano, é a manifestação do ressentimento das massas. Não é diferente do que se passa em outros países, cuja ascensão das forças de extrema direita atestam que democracia e capitalismo são inconciliáveis. Enquanto isso, as chamadas forças progressistas tentam desesperadamente conservar o pouco que resta dos chamados valores democráticos, sem, no entanto, comprometer um milímetro sequer do movimento concentrador de riqueza que é próprio do capitalismo.

Daí porque a chamada social-democracia e os partidos de centro-esquerda ao chegarem no poder tenham se curvado aos anseios do mercado, como é o caso do governo Lula. Resta saber, ainda, como será a relação Brasil-Estados Unidos sob o governo de Trump. Os EUA sempre tiveram uma relação de domínio em relação à América Latina, o que remete à Doutrina Monroe no início do século XIX.

Todavia, na medida em que a China tem estreitado seus vínculos comerciais com os países latino-americanos, além de inúmeros projetos de infraestrutura e de investimentos, é bem possível que os EUA enxerguem no subcontinente uma zona de fragilização de seu poder e queiram promover intervenções indiretas via finanças e acordos comerciais, por exemplo. Aguardemos!

Glauber Lopes Xavier, doutor em Sociologia pela Universidade Federal de&nbsp;Goiás (UFG)&nbsp; 
e professor efetivo da Universidade Estadual de Goiás (UEG)

A encruzilhada americana

Glauber Lopes Xavier

O tripé da regulação é formado pelo Estado como poder concedente, pelos prestadores dos serviços e pelos usuários. Dentre os envolvidos nesse processo, os usuários são os que detêm menos informações sobre os serviços públicos delegados e, consequentemente, sobre seus direitos e deveres. Para corrigir essa assimetria, a Agência Goiana de Regulação (AGR) ampliou nos últimos cinco anos o seu alcance junto aos usuários e se tornou um braço estendido à população quando o assunto é serviços de saneamento básico, energia, transporte de passageiros e bens desestatizados.

Foi pensando em levar a regulação para mais perto do cidadão que a Agência colocou em operação a primeira unidade do projeto AGR Móvel. Um veículo, adequadamente equipado com balcão de atendimento, computadores, e estrutura para acolher os usuários e percorrer todo o estado.

A iniciativa, agora integrada à Ouvidoria Itinerante, permite que a AGR chegue aos municípios e realize atendimentos nas próprias localidades, registrando manifestações e reclamações nos casos em que os usuários não obtiverem respostas satisfatórias. As demandas serão encaminhadas para buscarmos as soluções para os problemas apresentados junto aos prestadores de serviços.

Com a Ouvidoria Itinerante, a Agência participa ainda de eventos promovidos pelo Governo de Goiás como a Temporada Mais Araguaia, o Goiás Alerta e Solidário, a Justiça Itinerante, do Tribunal de Justiça, e o Deputados Aqui, da Assembleia Legislativa. No ano passado, foram mais de 2 mil atendimentos.

Ao percorrer os municípios, o novo serviço itinerante da AGR realizará ações nos terminais rodoviários, onde os agentes acompanharão o embarque e desembarque e orientarão os passageiros sobre direitos e segurança nas viagens intermunicipais. Equipes também estarão nas barreiras de fiscalização nos acessos e rodovias do estado. O objetivo é fortalecer as ações dos fiscais do transporte.

O projeto também irá contribuir para a disseminação de informações que visam promover a inclusão de famílias em vulnerabilidade social às políticas de governo, como as tarifas sociais de água e de energia. A Agência orientará a população sobre como obter esses benefícios, preparado uma seleção de guias, que estão disponíveis no site e que serão distribuídos à população.

Dessa forma, a iniciativa funcionará como um escritório itinerante para levar informações à população sobre as atribuições da Agência e ouvir as demandas dos usuários dos serviços públicos. Vamos atender municípios e comunidades do estado de Goiás e ampliar o trabalho de regulação, controle e fiscalização. Com a modernização dos processos de gestão, o uso intensivo de tecnologia da informação e o equilíbrio das contas na relação receitas/despesas, a AGR evoluiu e não está mais estagnada como nas administrações passadas. Estamos colocando a “AGR na estrada!”

Wagner Oliveira Gomes, presidente da Agência Goiana de Regulação (AGR)

Regulação para todos

Wagner Oliveira Gomes

Desde setembro estou na Espanha para uma pesquisa de pós-doutorado na Universidade de Barcelona, na área de mudanças climáticas e, infortunadamente, tenho acompanhado de perto o pior desastre climático do século no país, cujas inundações resultaram de chuvas intensas de uma DANA (depressão isolada em altos níveis). Este evento guarda semelhanças com o pior desastre climático do Rio Grande do Sul (RS), que também sofreu com enchentes devido às chuvas intensas e persistentes. Ambos acontecimentos são reflexos das mudanças climáticas e, infelizmente, tendem a se tornar mais recorrentes.

A intensidade das chuvas em ambas as regiões impressiona: no Rio Grande do Sul, algumas cidades tiveram mais de 600 mm em três dias, com Santa Maria registrando 135 mm em um único dia (o equivalente à média mensal). Na Espanha, Turis registrou 179,4 mm em uma hora e 618 mm em um dia (superando a média anual!). Outra infeliz coincidência é o registro relativamente próximo de mortes: 213 vítimas na Espanha até o momento e 183 confirmadas no Rio Grande do Sul.

No entanto, a principal semelhança entre os desastres é a inércia dos governantes. Apesar das evidências e impactos climáticos alertados por cientistas há décadas, pouco tem sido feito para implementar medidas de adaptação e mitigação, sendo que estratégias e tecnologias eficazes e economicamente viáveis são bem conhecidas. Governantes em Valência e no Rio Grande do Sul são bastante criticados pela população por desmantelarem políticas ambientais, expondo a população aos riscos.

Como observa o pesquisador Paulo Artaxo: “parece que não caiu a ficha”. De fato, muitos governantes têm sido negligentes. Um exemplo é que as últimas Conferências das Partes (COP) se limitam a discussões, sem acordos concretos, corroborando a crítica de Greta Thunberg de que, há 30 anos, ouvimos dos líderes mundiais apenas “bla-bla-bla” sem ações efetivas.

Nos últimos dias, além da cidade espanhola de Barcelona, outras cidades no mundo, como Bolonha (Itália), Rive-de-Gier (França), Talisay (Filipinas), Meca (Arábia Saudita), Shiraz (Irã), Kinshasa (Congo), Roswell (USA), enfrentaram intensas chuvas e inundações. O que isso significa para Goiânia e outras cidades goianas? Se a atuação do poder público não melhorar, a perspectiva é preocupante.

Temos verificado algumas iniciativas que podem conduzir Goiás no enfrentamento à crise climática, como a Estratégia Goiás Carbono Neutro 2050 e o Programa Goiás Resiliente, conduzidos pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), além da organização dos Fóruns Goiano e Goianiense de Mudanças Climáticas. Todavia, é urgente que os governantes avancem para além de planos e implementem medidas concretas para garantir a qualidade de vida e a sobrevivência da população.

Diego Tarley Ferreira, bacharel, mestre e doutor em Geografia, consultor em geoprocessamento e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG)