Enquanto os Estados Unidos enfrentam um cenário preocupante com a redução de investimentos em ciência sob o governo Trump, que recentemente declarou uma batalha aberta contra importantes universidades americanas, como a mais antiga de todas elas, a Universidade de Havard, congelando bilhões de dólares de seu orçamento, o estado de Goiás segue na direção contrária, fortalecendo seu compromisso com a pesquisa e inovação.

Esta contradição evidencia duas visões distintas sobre o papel da ciência no desenvolvimento: uma que a enfraquece e outra que a valoriza como motor de progresso e inclusão social. Em solo goiano, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (FAPEG) acaba de destinar R$ 14,6 milhões para a estruturação do Centro de Excelência em Tecnologia e Inovação em Saúde (CETI-Saúde) para a prospecção, avaliação e apoio ao Sistema Único de Saúde (SUS) no processo de incorporação de novas tecnologias de saúde, com ênfase em vacinas, imunobiológicos e terapias gênicas, para prevenção e tratamento de uma série de condições prioritárias de saúde incluindo doenças infecciosas e oncológicas, que será coordenado pela renomada Professora Cristiana Toscano da Universidade Federal de Goiás (UFG).

E não para por aí: somente neste ano, a FAPEG já lançou, proporcionalmente o maior numero de editais com foco específico em pesquisas para o Sistema Único de Saúde (SUS) em nosso estado, demonstrando um compromisso contínuo e estruturado com o avanço científico voltado para as necessidades da população. Este investimento significativo representa não apenas um aporte financeiro, mas o reconhecimento do potencial transformador da pesquisa científica aplicada à saúde pública, especialmente em um momento de recuperação pós-pandemia.

A própria Universidade Federal de Goiás (UFG), aliás, destaca-se no cenário nacional, tendo sido recentemente classificada entre as melhores universidades do país em avaliação realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). A UFG obteve nota máxima no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) 2023, que avalia a qualidade de cursos e instituições de ensino superior em todo o Brasil.

Este reconhecimento reflete a qualidade do ensino, pesquisa e extensão desenvolvidos pela instituição, que se consolida como um polo de excelência acadêmica no Centro-Oeste brasileiro, contrariando a tendência de concentração da produção científica nos grandes centros.

As escolhas de Goiás e dos Estados Unidos ilustram caminhos divergentes no apoio à ciência e seus impactos no desenvolvimento regional e global. Enquanto o recuo americano pode comprometer décadas de liderança científica global e prejudicar a cooperação internacional em saúde, o avanço goiano sinaliza um futuro promissor para o estado e para o Brasil, demonstrando que mesmo longe dos tradicionais centros de pesquisa, é possível construir um ecossistema científico robusto e inovador que responda às necessidades da população e impulsione o desenvolvimento econômico e social.

Esta dicotomia levanta uma reflexão importante: enquanto algumas potências mundiais optam pelo isolacionismo científico, estados brasileiros como Goiás escolhem o caminho da colaboração e do investimento em conhecimento, provando que ciência e desenvolvimento caminham lado a lado.

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Marcelo Fouad Rabahi, médico, professor titular e vice-diretor da Faculdade de Medicina da UFG.&nbsp;Membro da Academia Goiana de Medicina

Ciência em caminhos opostos

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Marcelo Fouad Rabahi

Um estado com dimensões comparáveis às da Alemanha, mas com população dez vezes menor, espalhada entre cidades, povoados e áreas rurais. Esse é Goiás - território de imenso potencial, que encara de frente um dos seus maiores desafios: levar conectividade de qualidade a todos.

Mais do que um desafio técnico, a expansão da internet no estado significa inclusão social, desenvolvimento econômico e cidadania. O governo de Goiás trata a conectividade como prioridade estratégica: em tempos de agricultura 4.0, de ensino remoto, de serviços públicos digitais e da telemedicina, estar conectado deixou de ser opção e passou a ser necessidade - tanto nas maiores cidades quanto no campo.

No ambiente rural, a conectividade se tornou essencial. Ela permite que produtores operem máquinas com precisão, otimizem o uso de água, energia e insumos — garantindo produtividade, sustentabilidade e competitividade. Mas o impacto vai além da produção.

A presença de internet de qualidade no campo é um fator decisivo para a permanência dos jovens na zona rural. Com acesso à informação, educação, oportunidades de empreendedorismo digital e serviços essenciais, o campo deixa de ser sinônimo de isolamento e passa a ser visto como um lugar de futuro.

A conectividade também impacta a segurança pública, pois agiliza o acionamento e a resposta de serviços de emergência e forças policiais, aumentando a sensação de proteção da população, especialmente nas áreas mais afastadas.

Para romper o isolamento digital, o governo de Goiás tem investido em diversas soluções. Um exemplo é o programa Goiás +Digital, que visa ampliar o sinal de telefonia móvel em áreas ainda não atendidas, por meio de parcerias entre Estado, prefeituras e operadoras: operadoras instalam e operam os equipamentos, os municípios ajudam com os terrenos, e o Estado oferece incentivos para viabilizar o projeto. Os interessados devem consultar o edital e manifestar seu interesse até 16 de maio.

Outro pilar dessa transformação é o Goiás de Fibra, que vai interligar todos os municípios goianos com internet de alta velocidade. A iniciativa é fundamental para a modernização de serviços públicos essenciais, como telemedicina, ensino remoto, atendimento bancário e governo eletrônico. E a boa notícia: isso já está saindo do papel. Projetos como Goiás de Fibra e o Wi-Fi Social já estão em licitação, e ainda neste semestre o Goiás +Digital deverá ser licitado.

Com visão de longo prazo e a união entre governo, empresas e sociedade, Goiás mostra que é possível vencer as barreiras com tecnologia, inteligência e compromisso. A internet é a nova infraestrutura básica — tão essencial quanto água e energia. E levar conexão para todos é garantir dignidade, oportunidade e permanência no campo para as próximas gerações.

Renato Lyra, engenheiro eletricista pela PUC-Rio,&nbsp;mestre em gestão empresarial. Subsecretário&nbsp;de Energia, Telecomunicações e Cidades Inteligentes do Governo de Goiás

Goiás rumo ao futuro digital

Renato Lyra

O Programa de Pleno Pagamento de Dívidas (Propag), recentemente regulamentado pelo decreto nº 12.433/2025, emerge como uma iniciativa crucial do governo federal para auxiliar os estados brasileiros na complexa tarefa de equacionar seus débitos com a União. O Propag propõe uma nova abordagem para a renegociação, buscando um ponto de equilíbrio entre a indispensável responsabilidade fiscal e o fomento ao desenvolvimento social.

Segundo dados do Ministério da Fazenda, a dívida consolidada dos estados ultrapassa a marca de R$ 820 bilhões, sendo que 90% desse montante está concentrado em apenas cinco estados: São Paulo (R$ 291,7 bilhões), Rio de Janeiro (R$ 178,5 bilhões), Minas Gerais (R$ 164,1 bilhões), Rio Grande do Sul (R$ 101,6 bilhões) e Goiás, com um endividamento de R$ 19,0 bilhões.

Essa expressiva dívida foi originalmente contraída pelos governos estaduais com o aval da União, motivo pelo qual, a reiterada inadimplência tem levado as instituições financeiras credoras a cobrarem do governo federal, na qualidade de avalista. O histórico desse endividamento é recheado de frequentes renegociações, sempre em condições mais favoráveis junto à União, mesmo assim alguns estados têm questionado as taxas de juros, acusando injustamente o governo federal de práticas abusivas.

Essa postura ignora o fato de que a União, como avalista, continua a honrar os termos contratuais originalmente pactuados entre os Estados e os credores, estes sim, muitas vezes com taxas de juros elevadas. Em contraste com programas anteriores, o Propag flexibiliza as condições de pagamento, ao oferecer um prazo de até 30 anos (360 parcelas) para a quitação dos débitos. A correção será feita pelo IPCA, substituindo a Selic, acrescida de juros reais que podem variar de zero a 2% ao ano.

Um incentivo adicional é oferecido aos estados que abaterem até 20% do saldo devedor, utilizando recursos financeiros, dívida ativa própria, ações de estatais e outros créditos líquidos e certos, com a possibilidade de zerar a taxa real de juros. A adesão ao Propag vai estimular o investimento ao vincular parte da economia gerada pela redução dos juros a áreas prioritárias para o desenvolvimento social e econômico.

Até 60% dessa redução poderá ser direcionada para a educação técnica e profissionalizante integrada ao ensino médio, bem como para setores como segurança pública, saneamento básico, transporte, habitação e transição energética. Para o Estado de Goiás, a adesão ao Propag representa uma oportunidade inquestionável.

Além do aumento do teto de gastos para investimento em cerca de R$ 3 bilhões, cálculos preliminares apontam que ao fazer a amortização de 20% da dívida, Goiás poderá economizar até R$ 5,32 bilhões, cujos recursos poderão ser reinvestidos em áreas como infraestrutura, saúde e educação, impulsionando o desenvolvimento do estado e melhorando a qualidade de vida da população. Para Goiás e demais estados endividados, a adesão representa um fôlego no peso da dívida, ao aumentar a capacidade de investimento e construir um futuro fiscal mais equilibrado e próspero.

Jeovalter Correia, auditor fiscal, mestre em gestão empresarial. Especialista e consultor em gestão pública

Propag: fôlego fiscal aos Estados

Jeovalter Correia

A farra das recuperações judiciais (RJs) no agronegócio ameaça lançar em queda livre a reputação do setor, mas já faz estragos. De acordo com a Serasa Experian, o número de produtores no Brasil que solicitaram recuperação judicial mais que dobrou em 2024, em comparação com 2023, subindo de 534 para 1.272, sendo que Goiás figura entre os estados que mais registraram pedidos.

Quando se soma o crédito disponibilizado pelo Sistema Sicoob em Goiás, a instituição é a segunda maior em oferta de crédito ao produtor rural. É um avanço de décadas que, pela recorrência de RJs fraudulentas, tende a durar pouco.

Sendo assim, a quebra de confiança já se estabeleceu. No primeiro quadrimestre da safra 2024/2025, entre julho e outubro de 2024, os desembolsos de crédito rural caíram 24,5% em relação ao mesmo período do ano safra 2023/24, e a tendência é reduzir ainda mais. A imagem positiva de âncora da economia e de crédito abundante foi substituída para empréstimo de risco elevado e insegurança contratual.

O setor do agro, que impacta boa parte do PIB goiano por seu efeito dinamizador em negócios como indústria, logística e comércio, está em xeque. Nesse contexto em que o setor financeiro é um parceiro do agro, acompanhamos e sabemos das dificuldades enfrentadas. Contudo, sabemos também que não é primeira nem a pior crise e que, em décadas, conseguiu se sobressair, renegociando as dívidas, melhorando o planejamento e usando soluções de mercado, sem forçar uma RJ e recorrer a fraudes, como supervalorização de ativos, ocultação de bens, criação de dívidas fictícias e desvios de ativos.

Ao contrário do que dizem os vendedores de RJ, tudo é monitorado e fácil de provar: há produtor que aumenta abruptamente a alavancagem financeira e, na sequência, com todas as parcelas em dia, pede recuperação judicial. O desafio do agronegócio está, portanto, na retomada da credibilidade, que é uma adversidade enorme, na medida em que, os números são cada vez mais desfavoráveis e coloca todas as análises em posição de cautela.

Em empréstimos de alto risco, a taxa de juros é bem maior – o que agrava com a Selic em alta. Com efeito, vale ressaltar que RJ não é Refis e, por essa razão, é lamentável que muitos produtores ainda acreditem no agressivo assédio de consultores para entrar com pedidos sem avaliar os riscos. No final, o lucro para os escritórios é milionário, mas, para os produtores, sobra muito menos do que o prometido – quando sobra.

O tema já é motivo de várias investigações no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) por práticas suspeitas e os Supremos Tribunais Federal e de Justiça (STF e STJ) endossam e pedem mudanças na legislação ao Congresso. Para a Justiça goiana, é preciso também refletir sobre o assunto, já que RJs que deveriam estar em São Paulo estão migrando para Goiás. De fato, precisamos de uma câmara de conflitos e varas exclusivas no Tribunal de Justiça goiano sobre o tema, pois a especialização mitigaria riscos e afastaria essa migração suspeita de processos.

Diogo Mafia, médico, empresário e diretor-presidente do Sicoob UniCentro Br

A farra das RJs se agravou

Diogo Mafia

Por trás do protecionismo comercial dos Estados Unidos esconde-se um efeito dominó preocupante. As tarifas impostas a outros países, incluindo parceiros estratégicos como China, México e Canadá, ressoam muito além das fronteiras norte-americanas, espalhando uma onda de instabilidade econômica que atinge em cheio países emergentes como o Brasil. E, no epicentro desse terremoto financeiro, está o varejo nacional, já fragilizado, que pode ser levado a um cenário de retração ainda mais aguda.

As preocupações são reais. Elas se ancoram em análises robustas e dados concretos. Segundo o Peterson Institute for International Economics, apenas as tarifas provenientes do governo Trump devem gerar um impacto inflacionário de aproximadamente 3% nos Estados Unidos, onerando as famílias americanas em cerca de US$1.200 anuais.

Como destacou Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior, esse aumento inflacionário inicial tende a pressionar o Federal Reserve por elevação dos juros. Quando isso ocorre, o planeta inteiro sente o tremor. Juros mais altos nos EUA tornam os ativos americanos mais atrativos, promovendo uma fuga de capitais de economias emergentes em direção ao porto seguro do dólar.

Isso desencadeia uma valorização da moeda norte-americana, desvalorizando divisas como o real, pressionando o câmbio e os preços de produtos importados e insumos dolarizados. Com o real enfraquecido, os custos sobem, e o Banco Central do Brasil se vê pressionado a elevar ainda mais a taxa Selic para conter os efeitos inflacionários.

É neste ponto que o varejo brasileiro se torna uma das maiores vítimas colaterais dessa política tarifária global. O setor, já combalido por uma década de crises sucessivas, não tem mais fôlego para conviver com juros estratosféricos. O crédito mais caro - decorrência direta de uma Selic elevada - desestimula o consumo, restringe investimentos e paralisa a atividade econômica. Famílias endividadas e empresas com margens comprimidas acabam freando suas compras. O comércio sente de imediato o esfriamento nas vendas.

Mais grave ainda é o fato de que o remédio prescrito pelo Banco Central - o aumento da Selic - parece equivocado frente à natureza do problema inflacionário nacional. Economistas e estudiosos são unânimes em apontar que a inflação brasileira é impulsionada não pelo excesso de demanda, mas por preços administrados, câmbio e choques de oferta. Combater esse tipo de inflação com juros elevados equivale a administrar antibióticos para uma virose: inócuo, e ainda perigoso.

É nesse cenário que se exige do Banco Central uma postura técnica e prudente. Não se pode importar a resposta americana e replicá-la sem considerar as especificidades da economia brasileira. O risco de mergulharmos num novo ciclo de estagnação é real - e desta vez, provocado não por erros internos, mas por ondas externas mal interpretadas.

O Brasil precisa resistir à tentação de respostas automáticas. Precisa de inteligência, sensibilidade e de uma política monetária que compreenda o varejo como termômetro e motor da economia real. Se os EUA escolheram o protecionismo como escudo, cabe ao Brasil não deixar que ele se transforme em lâmina.

José Reginaldo Garcia, presidente do Sindilojas-GO