O pequeno negócio está no cotidiano de todos nós. É a padaria que abre cedo no bairro, o salão de beleza que gera o primeiro emprego, a oficina que mantém carros rodando, o produtor que abastece a feira. Ao escolher comprar do pequeno, não estamos apenas fazendo uma transação: estamos fortalecendo a economia local, ajudando a distribuir renda e dando condições para que famílias inteiras construam seu sustento. É dessa proximidade que nasce uma economia mais justa e uma sociedade mais equilibrada.

Em Goiás, essa realidade tem números expressivos. Hoje, 95% das empresas do estado são micro e pequenas – quase 900 mil empreendimentos ativos. Juntos, eles respondem por 38% de toda a riqueza produzida e foram responsáveis por 67% do saldo de empregos formais em 2025. Cada porcentagem representa histórias de vida, oportunidades abertas e a força de uma economia que pulsa de baixo para cima.

O dinamismo impressiona. Em apenas cinco anos, os pequenos negócios cresceram 68% em Goiás, com destaque para os microempreendedores individuais, que mais do que dobraram no período. Só neste ano, foram 146 mil novas empresas abertas. Não é pouca coisa: é sinal de que, mesmo diante das dificuldades, há confiança em empreender.

Essa força também é geográfica e setorial. Metade dos pequenos negócios está em serviços, seguidos por comércio, indústria, construção civil e agropecuária. Eles não se concentram apenas na capital, embora Goiânia tenha 31% do total. Eles estão presentes em todo o estado, mostrando que a vitalidade econômica depende justamente dessa rede pulverizada que sustenta comunidades em todas as regiões.

Os desafios, contudo, não podem ser ignorados. Custos crescentes e a busca por clientes continuam entre as maiores preocupações. Mas o que se vê é resiliência. Mais da metade dos pequenos negócios têm o Pix como principal forma de pagamento, e quase 40% fazem uso de inteligência artificial no dia a dia. Isso revela disposição para inovar, aprender e acompanhar mudanças tecnológicas – um traço fundamental de quem transforma adversidades em oportunidades.

É nesse cenário que o Sebrae atua. Nossa missão é estarmos próximos de quem empreende, não apenas nos grandes centros, mas também nos distritos e localidades mais distantes. Seja com feiras, caravanas, projetos setoriais ou unidades móveis, buscamos levar orientação prática, crédito, qualificação e apoio à inovação.

E o Mês da Micro e Pequena Empresa, comemorado em outubro, não é apenas marca no calendário: é oportunidade de refletir sobre a importância de fortalecer este setor para o futuro de Goiás. Cada compra feita no pequeno comércio, cada política pública que o valoriza e cada parceria firmada em favor dos micro e pequenos negócios amplia o alcance de uma economia mais inclusiva e sustentável.

Apoiar os pequenos é apoiar o futuro. É reconhecer que são eles que sustentam a base da nossa economia e dão dignidade à vida de milhares de famílias goianas.

José Mário Schreiner, presidente do Conselho Deliberativo Estadual do Sebrae Goiás

Os artigos publicados não refletem a opinião de O POPULAR. Sua publicação obedece ao propósito de estimular e fomentar a diversidade e o debate de temas locais, nacionais ou mundiais.

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José Mário Schreiner

Bachtrack é uma organização que todos os anos tabula apresentações de música clássica ao redor do planeta. No ano passado, pesquisou 30.774 concertos, óperas e recitais em 48 países, anotando repertórios e regentes. Como acontece desde o começo do século, os dois compositores contemporâneos mais tocados em 2024 foram John Williams e Arvo Pärt.

O americano John Williams, de 93 anos, todos conhecem. Compositor predileto de Steven Spielberg, fez a trilha sonora de “Tubarão” e “Guerra nas Estrelas”, “Jurassic Park” e “Harry Potter”. Ganhou cinco estatuetas do Oscar e contêineres cheios de barras de ouro -não por ser clássico, e sim um fenômeno pop.

O estoniano Arvo Pärt é um fenômeno de outra cepa. Seu universo sonoro é o do erudito puro, duro e cabeludo: começou a compor à sombra do sistema dodecafônico e enveredou pelo minimalismo. Embora não tenha nada a ver com Arnold Schoenberg ou John Cage, pertence ao mesmo clã.

Tem também um pé no pop. À la Williams, compôs pencas de trilhas sonoras, só na juventude. Como Tallinn não é Hollywood, ninguém o notou. Abandonou as trilhas, mas o cinema foi a ele. Diretores de primeira puseram Pärt em filmes: Terrence Malick em “Além da Linha Vermelha”, Gus Van Sant em “Gerry”, Paul Thomas Anderson em “Sangue Negro”.

Seu 90º aniversário, no último dia 11 de setembro, foi festejado urbe e orbe. Urbe: o Arvo Pärt Centre, um complexo com auditório, biblioteca e escola numa floresta, dedicou a ele um ano de concertos. Orbe: o Carnegie Hall, em Nova York, programou uma dúzia de concertos em sua homenagem.

Por que o auê? Porque no ambiente rarefeito da música clássica contemporânea, desde sempre avessa a hipérboles, ele é tido como o maior compositor vivo. Além do quê, sua trajetória sintetiza contradições várias, retaguarda e vanguarda.

Trajetória, aliás, encerrada. Há anos não compõe nem aparece em público, e, segundo o New York Times, padece de declínio cognitivo. “Sua alma está num lugar feliz”, disse seu filho Michael ao jornal. “Ele apenas é.” Frases assim, metidas a metafísicas, definem sua personalidade.

Ele começou a compor quando a Estônia era uma república soviética. Na estética stalinista, a música tinha de ter feições neoclássicas e pelejar pelo bem da pátria socialista -e ele uma vez fez um “happening” no qual simulou pôr fogo num violino. Passaram a desconfiar dele.

Desconfiança corroborada pelas peças seriais de 1968, que a burocracia soviética associou à pestilenta decadência burguesa. Marginalizado em casa, e reticente em relação à vanguarda europeia, cujos impasses logo percebeu, Pärt entrou em pane. Parou de compor por sete anos e se enfronhou na Bíblia, na música renascentista, no canto gregoriano, em Bach.

Saiu da crise outro artista. Converteu-se à igreja ortodoxa, tornou-se místico, anti-intelectual, antimoderno e -ainda assim; ou por isso mesmo- um inovador radical. Datam dessa época, meados dos anos 1970, as obras que fizeram sua fama: “Für Alina”, “Fratres”, “Tabula Rasa”, “Spiegel im Spiegel”. Como a fama era boa no exterior e ruim na Estônia, exilou-se em Berlim.

Ele inventou um método de composição que, segundo os entendidos, é também estilo, o “tintinnabuli” (“pequenos sinos”, em latim), que combina vozes díspares. Em miúdos, é uma música ascética, lentíssima, nua, repetitiva, de dureza e clareza cristalinas. Não narra nem progride, não se desenvolve nem conclui, é estática. Hipnótica, pode ser ouvida com interesse e agrado por horas, e nem por isso se lhe apreende o sentido.

Se lhe cabe um rótulo, é música minimalista, mas antagônica ao minimalismo quente, eloquente e sincrético de um Philip Glass. Ela como que vai à alma do bate-estaca tecno de um alucinado DJ em Ibiza, e ali busca a elevação, a pureza e, em vez de se espojar na algaravia do mundo, aspira ao silêncio, ao além, ao nada -o que não deixa de ser uma forma de resistência à vida contemporânea, se bem que alienada.

Em sendo assim, é uma música que faz a delícia dos religiosos, a começar por Bento 16, que a venerava. Sua ambiguidade também explica que teóricos como Alain Janot tenham passado da admiração extremada para a invectiva de “‘new age’ disfarçado” -uma rombuda forçação de barra. O próprio Janot, porém, veio a matizar sua crítica, concluindo que, na arte de Arvo Pärt, não é a presença do sagrado que nos toca, mas sua inacessibilidade. Ela transforma a ascese em cenário, a invenção em restauração, “faz com que a música fique inofensiva”.

Mario Sergio Conti, jornalista, é autor de ‘Notícias do Planalto’

Dos sinos ao silêncio

Mario Sergio Conti

A busca pelo Poder Judiciário e a resposta deste ao jurisdicionado mudou com o tempo, evidenciado pela modernização com o perpassar dos dias. Há muito foi abolida a máquina de escrever, a escrita a mão em despachos, decisões ou sentenças. As audiências passaram a ser gravadas, diferentemente de outrora quando era feita a pergunta à testemunha por intermédio do magistrado, que a repassava a quem estava respondendo e daí ditava ao escrivão a resposta da indagação e este datilografava no termo de audiência, muitas vezes não muito fiel ao que fora falado, não se sabendo depois em que tom foi dada resposta e a emoção de quem estava depondo.

Além da demora do ato, perdia-se a fidelidade nas transcrições para o termo ou ata. Não existe mais papel, e os autos físicos desapareceram, surgindo o processo judicial digital. Hoje, em qualquer lugar do mundo um advogado ou qualquer outro profissional pode abrir um celular e peticionar no chamado Projudi (Processo Judicial Digital).

Tempos modernos com outras inovações também. O passado ficou só na lembrança da memória e as experiências de quem as vivenciou. Atento aos avanços tecnológicos, a Justiça segue para se tornar mais moderna e digital ainda. O Judiciário moderno refere-se à estrutura e seu funcionamento em um contexto contemporâneo, buscando adaptá-lo às demandas e desafios da sociedade atual.

Isso inclui a busca por maior eficiência, acesso à justiça e utilização de tecnologias para otimizar processos. O Judiciário moderno, no contexto atual, busca garantir a igualdade de tratamento e o respeito aos direitos de todos os cidadãos, promovendo a equidade e a ordem social. A Justiça se manifesta através de um sistema jurídico que visa a resolução justa e eficiente de conflitos, utilizando leis e procedimentos que buscam a aplicação imparcial.

É evidente que com a chegada de meios para facilitar a vida das pessoas, como a inteligência artificial e o ChatGPT, por exemplo, tem de se tomar muito cuidado com o uso indevido e criminoso desses instrumentos afrontando a modernização. Petições são formuladas pela máquina e não pelo causídico, inventadas são jurisprudências para convencimento do julgador, além de outras falcatruas.

Julgamentos são realizados usando a IA filtrando-se palavras específicas para decidir e, muitas vezes, anular sentenças e decisões atravancando a prestação jurisdicional. Ambas as situações dão muito na cara. Isso se torna preocupante.

O ideal seria sempre que a justiça chegue antes de uma sentença. Talvez esse seja o sonho de quem bate às portas do Poder Judiciário esperando a solução do conflito. Oxalá que a modernização não mude para pior a prestação jurisdicional com erros e artifícios escusos. Modernização, sim, mas com honradez, presteza e agilidade, mudando-se para melhor. Não com subterfúgios.

Jesseir Coelho de Alcântara, juiz de Direito

Os artigos publicados não refletem a opinião de O POPULAR. Sua publicação obedece ao propósito de estimular e fomentar a diversidade e o debate de temas locais, nacionais ou mundiais.

A ação jurisdicional mudou

Jesseir Coelho de Alcântara

A cirurgia robótica, agora oficialmente recomendada pela Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias) no SUS, representa um marco para a saúde pública brasileira. Esse tipo de procedimento utiliza braços mecânicos guiados por um cirurgião por meio de um console, que amplia os movimentos humanos e permite uma visão em alta definição do campo operatório.

Na prática, trata-se de uma evolução da cirurgia minimamente invasiva, com cortes menores, maior precisão e acesso a regiões difíceis do corpo. No caso da recomendação da Conitec, a área de destaque é na urologia para o tratamento do câncer de próstata. Segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer), esse é um dos tumores mais comuns entre os homens brasileiros, perdendo apenas para o câncer de pele, e deve atingir cerca de 71,7 mil pacientes por ano.

Não se trata apenas de estatística. A doença impacta diretamente a vida das famílias e compromete a qualidade de vida dos pacientes. A adoção da prostatectomia radical assistida por robô, indicada para casos localizados ou avançados, surge como resposta inteligente a esse desafio.

Em comparação à cirurgia aberta tradicional, a versão robótica traz menor risco de complicações, reduz a necessidade de transfusões, diminui o tempo de internação e acelera a recuperação. Além disso, oferece resultado essencial para quem enfrenta o câncer de próstata: preservação da função sexual. A impotência, sequela frequente da cirurgia convencional, pode ser minimizada quando se utiliza a tecnologia. Para o paciente, isso significa não apenas viver mais, mas viver melhor.

O ganho clínico se traduz também em economia para o SUS. Quanto menos complicações e dias de hospitalização, menores os gastos indiretos. Evitam-se internações prolongadas, tratamentos para sequelas e readmissões hospitalares. Em outras palavras, o investimento inicial em equipamentos e treinamento se paga ao longo do tempo.

Esse raciocínio é crucial em um país de dimensões continentais, onde o sistema de saúde público precisa equilibrar qualidade de atendimento e uso racional dos recursos. No entanto, a incorporação dessa inovação não será completa sem medidas estruturais. É necessário habilitar centros de referência, definir protocolos claros e preparar equipes médicas com rigor técnico.

Só assim será possível garantir segurança, padronização e acesso equitativo. A cirurgia robótica não pode se restringir a grandes capitais; precisa chegar também a hospitais de regiões menos favorecidas, onde os pacientes igualmente enfrentam o peso do diagnóstico oncológico.

O momento é simbólico e precisa ser comemorado. Pela primeira vez, o SUS passa a incorporar uma tecnologia que une precisão científica, impacto econômico e respeito à dignidade humana.

A medida é uma vitória coletiva que evidencia como ciência e política pública podem caminhar lado a lado. Mais do que extrair um tumor, a cirurgia robótica devolve ao paciente a chance de retomar sua história com menos sequelas e maior perspectiva de cura.

Pedro Junqueira, urologista e cirurgião robótico

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A tecnologia que o SUS merece

Pedro Junqueira 

Goiânia é, por três anos consecutivos, a terceira capital que mais vende imóveis no país, segundo dados da Brain Inteligência Imobiliária. Em 2024, a valorização do metro quadrado na cidade foi de 17%. Somente nos seis primeiros meses de 2025 essa valorização já alcançou o patamar de 12%. Mas o que está por trás de um crescimento tão acentuado desse setor? Esse crescimento continuará?

O mercado imobiliário está diretamente vinculado à economia. Quando o país cresce, as taxas de desemprego caem, a renda familiar aumenta e com mais dinheiro circulando, é natural que mais empresas surjam. Com isso, sobe a demanda por moradia e espaços para empresas se instalarem e expandirem suas atividades. O crescimento do PIB é motor para o crescimento imobiliário. Trimestre a trimestre, o PIB do país vem superando as expectativas.

Uma das justificativas é a força da economia do Centro Oeste que, entre 2002 e 2022, segundo o IBGE, registrou o maior ganho de participação no PIB do país, com avanço de dois pontos porcentuais. Goiás, por sua vez, é destaque desse crescimento regional já que cresce em taxas superiores à média do Centro-Oeste e, há 15 anos consecutivos, vê seu PIB acima do país. Adicionalmente, Goiás é o segundo estado que mais recebeu migrantes no país desde 1991. Com mais dinheiro e mais pessoas, é natural que a demanda cresça acima da média nacional.

Outro fator importante para o setor é a confiança e estabilidade do comprador. Como o mercado imobiliário é baseado em financiamentos de longo prazo e a necessidade de uma casa não aguardar o momento “ideal” para bater à porta, a confiança de ter seu emprego garantido influencia mais na decisão de compra que outras variáveis econômicas. Segundo o IBGE, o Brasil vive a menor taxa de desemprego desde 2012. Enquanto no país, a taxa de desemprego é de 5,8%, em Goiás ela é de 4,4%.

Vale destacar ainda que o crescimento do mercado depende de crédito. O setor de crédito imobiliário é muito novo no Brasil, tendo ganhado força após a regulamentação no início dos anos 2000. Isso fica claro quando observamos que a média mundial de investimento em construção civil é de 12,4% do PIB. No Brasil, esse número é de apenas 7,4% do PIB. Isso significa que ainda temos muito espaço para expandir.

Por fim, além dos dados que claramente demonstram porque Goiás e Goiânia tem um potencial maior de crescimento e valorização, quando comparado aos demais mercados, é importante destacar, ainda, o protagonismo de Goiânia no Centro Norte do país. A capital se tornou um hub de serviços, abrigando redes renomadas de saúde e sendo reconhecida por suas universidades e escolas preparatórias. A cidade também se tornou referência para o consumo, não só para as cidades do interior, mas também para quem exerce atividades econômicas em outros estados e usa a capital como seu ponto de apoio.

Essas são apenas algumas das razões que levam a crer que esse ciclo de crescimento veio para ficar. Quem acreditar no mercado imobiliário nesse momento, apostará com boas fichas em mãos.

Credson Batista, engenheiro Civil, pós graduado em gestão empresarial. Diretor de Pesquisas e Estatísticas da Ademi-GO

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