Não basta que a classe política e a elite intelectual do país elaborem uma carta constitucional sem a efetiva participação da população e sem que os crimes cometidos pelo regime anterior sejam devidamente punidos para que se possa falar em democracia. O modo como foi conduzido o processo de redemocratização do Estado brasileiro, após o golpe militar de 1964, já denunciava que a democracia levaria tempo para se consolidar, visto que muitas práticas políticas, assim como pessoas ligadas ao antigo regime, continuaram ativas. Uma pergunta recorrente nas análises políticas e jurídicas do momento é se a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) estaria exagerada, se o tribunal não estaria “aparecendo demais”. Eu diria que a principal razão dessa indagação está no fato de que, historicamente, o Judiciário raramente exerceu protagonismo político, o que acostumou analistas e a própria sociedade à sua ausência.