A música Epitáfio dos Titãs descreve o lamento de um indivíduo que, diante da finitude da vida, não fez tudo que poderia. Guardada a devida proporção, é o sentimento de alguns gestores no fim de mandato. Esse fim traz também a preocupação com a análise das decisões tomadas. Durante anos, a legislação brasileira permitiu erros judiciais graves: falhas técnicas ou decisões mal interpretadas resultavam em acusações de improbidade administrativa, mesmo sem intenção de prejudicar o erário. Esse cenário criou um ambiente de insegurança jurídica, afastando bons profissionais e cidadãos da política, com medo de que um simples erro pudesse arruinar suas reputações. A reforma da Lei de Improbidade Administrativa, sancionada pela Lei 14.230/21, trouxe um novo paradigma para a responsabilização dos agentes públicos. A principal mudança foi a exigência de dolo, ou seja, a intenção clara de cometer o ato ilícito, para que um agente público seja responsabilizado. A legislação deixou para trás a punição de falhas cometidas de boa-fé, garantindo que apenas atos dolosos, que visam causar danos ou enriquecer ilícitamente, sejam considerados improbidade administrativa.