No imaginário republicano, a estabilidade do servidor é muralha contra o arbítrio. Na prática, muitas vezes é cela invisível. A “garantia” vem acompanhada de uma espada de Dâmocles suspensa por um fio frágil, que balança a cada vento político. O Processo Administrativo Disciplinar (PAD) surgiu para preservar a ordem e responsabilizar condutas lesivas ao interesse público. Mas, nas mãos erradas, vira arma de guerra política. É o bordão do assédio moral institucionalizado: “abre um PAD pra ele”. A vida funcional se torna alvo, não pelo que se fez, mas pelo incômodo que se representa ao poder. O roteiro se repete: técnicos que apontam falhas em licitação, auditores que questionam contratos por seus valores numéricos, servidores que recusam ordens ilegais. Todos passam a ter algo em comum: o nome no Diário Oficial acompanhado da portaria de instauração. Tudo formal, tudo “legal”. O detalhe incômodo é que, no Brasil, até a tirania gosta de papel timbrado.