A psicanalista Melanie Klein aponta que todo bebê cultiva o desejo de restaurar o objeto materno internalizado. É na relação entre mãe e bebê que surgem o sentimento de culpa e o desejo de reparação. Para Klein, a reparação é um mecanismo característico da posição depressiva, que ocorre quando o bebê introjeta o outro como um todo — um ser unificado, que é simultaneamente a mãe boa, com suas imperfeições. Essa figura desperta tanto amor quanto insatisfação. Sempre vejo o Natal como um período de maior melancolia, justamente por nos conectar a esse lado ambivalente da vida. O amor que sentimos por nossos familiares muitas vezes convive com os inevitáveis conflitos afetivos, presentes em todos os lares. Por isso, muitas pessoas ficam mais reflexivas ou tristes no fim do ano. É um momento em que revisitamos erros e acertos, além de refletir sobre o lugar que familiares e amigos ocupam em nossas vidas. Alguns rompimentos se mostram necessários, enquanto outros podem ter sido frutos de imaturidade ou intolerância.