Do francês coup d´etat, o chamado golpe de Estado tem sido uma prática recorrente nos Estados nacionais submetidos ao regime democrático. É mais frequente, contudo, em democracias mais frágeis em que os pactos sociais que visam acomodar as classes e seus interesses são permanentemente violados quando da insurgência de instabilidades. Tal é o caso do Brasil cuja história política é marcada por sucessivas tentativas de golpes ou golpes consumados, sendo o último deles ocorrido em 2016 com a deposição da ex-presidente da República Dilma Rousseff. Os golpes revelam a ausência de forças sociais capazes de impedi-lo e, por outro lado, a estreita relação entre as elites nacionais e determinados setores do aparelho militar ou judiciário. Os golpes modernos, conhecidos como lawfare, dispensam os tanques e os fuzis, dado que são perpetrados em nome da legalidade e com o devido aval dos poderes constituídos, isto é, poderes preconizados pelo modelo tripartite segundo a Constituição Federal. Se hesitoso, seria inviável sustentar a hipótese de golpe, considerando que a narrativa vitoriosa, instaurada via recursos ideológicos ou não, neste caso imposta pela coerção, passa a ser a narrativa dos vencedores e não a dos vencidos ainda que sejam estes os portadores da verdade histórica.