As novas tarifas de importação impostas pelos Estados Unidos ao Brasil, elevadas para 50%, entraram em vigor em 6 de agosto/2025. A análise dos dados do MDIC referentes a setembro/2025 — primeiro mês completo após o tarifaço — revela efeitos relevantes tanto em nível nacional quanto regional.

A participação dos EUA nas exportações estaduais é bastante desigual. Em 2024, São Paulo tinha o maior peso, com 33,6% de suas vendas externas destinadas ao mercado norte-americano, seguido por Rio de Janeiro (18,4%) e Minas Gerais (14,4%). No Espírito Santo, essa participação era de 7,4%.

Nos demais estados e no Distrito Federal (DF) ficava abaixo de 5% — e, em alguns casos, praticamente nula. Em Goiás, os embarques para os EUA representavam 1,7% do total exportado. Minas Gerais registrou o maior impacto negativo (-7,3%) da retração das vendas para os EUA sobre o total de suas exportações, resultado da forte queda de 50,5% nessas vendas e de sua elevada dependência do mercado norte-americano.

Santa Catarina teve o segundo maior impacto (-2,97%), mesmo com baixa participação dos EUA em suas exportações, devido à expressiva redução das vendas para aquele destino (-54,9%). São Paulo apresentou impacto negativo de -2,9%, embora a queda de suas exportações para os EUA tenha sido menor (-7,7%).

Por outro lado, quatro estados — Ceará, Goiás, Roraima e Sergipe — e o Distrito Federal aumentaram suas exportações para os EUA. Em Goiás, o crescimento de 20,9% nos embarques foi puxado por carnes bovinas, açúcares e couro. Com baixo peso dos EUA, o impacto total sobre as exportações goianas foi modesto, de +0,35%, mas simbólico diante do cenário de retração nacional.

As tarifas de 50,0% atingem cerca de 36,0% das exportações brasileiras destinadas aos EUA. Os produtos mais afetados foram justamente aqueles com maior dependência do mercado norte-americano e não isentos das novas alíquotas, como café, carnes bovinas e açúcar orgânico.

Alguns itens altamente dependentes desapareceram temporariamente da pauta para os EUA, mas representam parcela mínima do total exportado pelo país. Já os produtos com alto peso no total das exportações mostraram resiliência: as vendas externas de carne bovina e café cresceram em setembro de 2025 frente a setembro de 2024, impulsionadas pelo redirecionamento para outros mercados, como China, Alemanha, México e Oriente Médio.

De forma geral, os impactos do tarifaço permanecem segmentados, afetando mais os produtos e regiões fortemente dependentes dos EUA do que o comércio exterior brasileiro como um todo. Evidentemente, os setores mais atingidos precisam ser acompanhados com atenção, especialmente os clusters formados por municípios com altas exportações para os EUA. Nesses casos, é fundamental evitar possíveis efeitos em cascata, capazes de provocar retração industrial, redução na circulação de renda e impactos multiplicadores negativos sobre a economia regional. Por fim, vale destacar que essas análises se baseiam apenas nos primeiros dados completos após o tarifaço e poderão ser revistas à medida que novas informações surgirem.

Goiás, por ora, desponta como um dos poucos estados que tiveram aumento de suas exportações para os EUA após o início das novas tarifas.

Edson Roberto Vieira, professor de Economia Internacional e do Mestrado em Desenvolvimento Regional da FACE/UFG e doutor em economia pelo IE/UFU

Os artigos publicados não refletem a opinião de O POPULAR. Sua publicação obedece ao propósito de estimular e fomentar a diversidade e o debate de temas locais, nacionais ou mundiais.

Impactos do tarifaço dos EUA

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Edson Roberto Vieira

Talvez seu coração, esse sujeito tímido, esteja pedindo socorro às escondidas. Você já parou pra escutá-lo? Não, não falo daquele “tum-tá” quando bate mais rápido, falo do sussurro lento: o cansaço que nunca passa, a falta de ar no trabalho, a palpitação “discreta” à noite. Ele está falando e muitos fingem que não escutam.

Vivemos no mundo da pressa, da avaliação 24 horas, das notificações que não param, do “só mais essa tarefa”. E o que sobra pro coração? Pílulas de estresse, dieta de conveniência, o combo emocional da pizza com refrigerante, noites com sono de gato e café logo cedo pra aguentar o dia.

Aí a gente pensa: “Mas sou jovem, devo aguentar.” E, quando menos espera, chega aquela notícia que choca: a morte súbita de um atleta, de um amigo, de um parente que nunca “teve nada”. E aquela sensação de “como pode alguém tão saudável morrer de repente?” vira lamento e até um certo medo: “Será que acontece comigo?”

Mas, meus caros, não caiam nessa armadilha. Nada acontece do nada. Mesmo os corações que silenciam antes de sair na manchete já vinham enfrentando uma briga interna: gordura demais, glicose alta, ansiedade, hormônios alterados, inflamação, sono ruim, tudo conspirando para o colapso.

Hoje, nós cardiologistas não apenas consertamos motores humanos, mas mediamos emoções, regulamos o metabolismo e somos terapeutas de hábitos. Quem atravessa uma consulta percebe que nosso papel vai muito além da máquina e das conexões que levam e trazem sangue.

A morte súbita está no nosso dia a dia e pode acontecer com qualquer um. O XXXIV Congresso Goiano de Cardiologia, que está acontecendo até este dia 8 de novembro, em Goiânia, promovido pela SBC-GO, quer justamente dar voz a essa situação cada vez mais corriqueira.

Vamos mergulhar em temas como cardiologia da mulher (porque o coração delas tem ritmo diferente), cardiologia preventiva, arritmias, insuficiência cardíaca, intervenções, tecnologia de imagem e até no diálogo que passa pela psiquiatria, endocrinologia e comportamento. Imagine um palestrante americano, sim, teremos uma atração de alto nível internacional, trazendo cases sobre tecnologia de mapeamento cardíaco de última geração.

Outro tema quente é o monitoramento digital e a inteligência artificial, que estão mudando o jogo no diagnóstico e tratamento das arritmias. O coração não é blindado.

Ele é afetado pelo que pensamos, sentimos, comemos e dormimos. Uma decepção amorosa pode mexer mais do que um colesterol alto; uma noite em claro pode desnortear batimentos; uma raiva não resolvida pode inflamar artérias.

Prevenir o colapso é urgente e pode até ser divertido. Sim, inventar caminhadas com amigos, dormir com séries leves em vez de rolar notificações infinitas e pausar pra respirar fundo são estratégias de guerra cardiológica. É preciso desconstruir mitos. Coração forte não é o que “não fraqueja”, mas o que se escuta.

Donaldy Sampaio, médico cardiologista e conselheiro do Conselho Regional de Medicina do Estado&nbsp; 
de Goiás (Cremego). Presidente do XXXIV Congresso Goiano&nbsp;de Cardiologia

Os artigos publicados não refletem a opinião de O POPULAR. Sua publicação obedece ao propósito de estimular e fomentar a diversidade e o debate de temas locais, nacionais ou mundiais.

Não existe morte súbita

Donaldy Sampaio

O presidente Lula, que adora um palanque, vive em campanha e sobe no salto alto com muita facilidade, é o franco favorito, quase candidato único para 2026, mas enfrenta um obstáculo e tanto: a falta de candidatos competitivos, não apenas do PT, mas da própria esquerda, sobretudo em estados decisivos como São Paulo, Rio e Minas. Não se trata só de um problema eleitoral, mas também de uma ameaça à governabilidade a partir de 2027.A ida de Guilherme Boulos para a Secretaria Geral da Presidência é exemplo de cobertor curto. Reforça o Planalto e o diálogo do governo com os movimentos sociais, mas retira o único nome em destaque para a disputa em São Paulo. Sem Boulos, que nem é do PT, mas do PSOL, e já perdeu a eleição municipal para Ricardo Nunes, quem sobra no chamado campo progressista? Fernando Haddad vai de novo para o sacrifício?E no Rio? Grandes nomes do PT, ou remetem ao passado, como Benedita da Silva, ou têm lá seus probleminhas, como Washington Quaquá, prefeito de Maricá e pai do presidente do partido no Estado, Diego Zeidan. Ok, Wilson Witzel foi eleito governador da noite para o dia, na onda novidadeira e antissistema de Jair Bolsonaro em 2018, mas Lula nem é novidade nem antissistema para repetir o fenômeno. Aliás, foi ele quem fritou o PT no Rio em favor dele próprio.Com mais cuidado, ou sorte, Romeu Zema também é neófito na política e foi empurrado pela mesma onda em Minas em 2018, mas mantém popularidade alta e o comando de um poderoso colégio eleitoral, famoso pela máxima de que só vira presidente quem ganha em Minas. O favorito ao governo é o senador Cleitinho, do Republicanos. Alguém aí lembra de um nome forte do PT ou da esquerda, após a ascensão e queda tanto do PT quanto do PSDB?Lula começou a semana acuado e com a oposição assanhada, mas o governo conquistou por um voto a presidência da CPI da Segurança, o Congresso aprovou (finalmente) a isenção do IR até R$ 5.000,00 e, mal ou bem, ele conseguiu a foto com líderes relevantes internacionais em Belém – são menos do que se esperava, mas o suficiente para a propaganda de campanha.Essa montanha-russa, com Lula em baixa no início do ano, em alta no fim, em baixa na segunda-feira, em alta na sexta, confirma que a sua posição é confortável para disputar um quarto mandato, mas também serve de alerta: muita coisa pode acontecer até as urnas de 2026.Em 1994, Lula tinha 40% nas pesquisas e foi franco favorito até meados de junho, a quatro meses da eleição, mas perdeu para o tucano Fernando Henrique Cardoso já no primeiro turno. Não há hoje um FHC à disposição nem um Plano Real à vista, mas é sempre bom lembrar que eleição não se ganha de véspera. Sempre pode haver surpresas, especialmente com palanques estaduais claudicantes e fortes governadores de oposição.

Lula e sua montanha-russa

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Eliane Cantanhêde

Em 2025, o Brasil enfrenta um cenário alarmante: mais de 7 milhões de empresas estão inadimplentes, de acordo com dados recentes divulgados pela Serasa. Destas, 6,8 milhões são micro e pequenas empresas (MPEs), responsáveis por quase 99% dos CNPJs ativos do país e fundamentais para a geração de emprego e renda.

O montante das dívidas em aberto já atinge a impressionante marca de R$ 141 bilhões, revelando a vulnerabilidade estrutural do setor produtivo e os efeitos diretos de um ambiente macroeconômico adverso, marcado pela manutenção da taxa Selic em patamares elevados.

A política de juros altos, adotada como instrumento de controle da inflação, trouxe consequências severas para o universo empresarial. O encarecimento do crédito elevou o custo do capital de giro, tornando-o inacessível para milhares de companhias.

Como reflexo, a capacidade de investimento foi drasticamente reduzida, e a margem de lucro, já estreita em muitos setores, tornou-se insuficiente para a manutenção das operações. Esse desequilíbrio gerou atrasos em compromissos básicos, como o pagamento de fornecedores, tributos e salários, ampliando o risco de fechamento em massa e a consequente perda de postos de trabalho.

O impacto da Selic alta sobre o caixa empresarial pode ser traduzido em um ciclo vicioso. Sem acesso a crédito em condições viáveis, as empresas atrasam suas obrigações financeiras. Esses atrasos geram restrições junto a instituições financeiras e fornecedores, restringindo ainda mais o acesso a recursos. Com restrições, as companhias perdem competitividade, veem sua imagem fragilizada no mercado e ficam sujeitas a maiores custos futuros.

Nesse cenário, a atuação jurídica especializada é decisiva. Mais do que resolver litígios, escritórios de advocacia empresarial têm atuado de forma proativa na renegociação de passivos, na construção de planos de pagamento viáveis e na implementação de estratégias legais capazes de dar fôlego às empresas.

A negociação direta com credores pode envolver o alongamento de prazos, a redução de encargos, descontos expressivos em juros e até mesmo a adoção de mecanismos coletivos, como a recuperação judicial, que funciona como ferramenta de reorganização e proteção contra execuções imediatas. O assessoramento jurídico ainda é essencial para mapear riscos, contestar cobranças abusivas e revisar cláusulas contratuais que oneram excessivamente o caixa.

Além disso, a implementação de práticas de compliance financeiro garante maior previsibilidade e fortalece a governança interna, reduzindo a exposição a novos endividamentos descontrolados. O momento exige, portanto, mais do que austeridade.

É preciso inteligência na gestão das dívidas, diálogo constante com credores e busca por soluções jurídicas adequadas. Em um ambiente de endividamento recorde e juros elevados, sobreviver significa renegociar com estratégia, preservar liquidez, reestruturar passivos e construir bases sólidas para um futuro sustentável.

Rafael Brasil, advogado.&nbsp;Mestre em direito constitucional econômico e especialista em direito empresarial

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Crise com dívidas nas empresas

Rafael Brasil

A água deve ser considerada uma variável de restrição para qualquer plano de desenvolvimento e atividades produtivas. Em relação ao abastecimento, a Organização Mundial das Nações Unidas – ONU preconiza que um ser humano que vive em cidade precisa de 110 litros de água por dia para atender as necessidades de consumo e higiene.

As várias espécies de animais consomem aproximadamente de meio até cem litros por dia. Por exemplo, um boi chega a consumir oitenta litros por dia. Na indústria de transformação a água tem uma grande diversidade de aplicação e dependendo do produto fabricado consome bastante.

Na mineração a água é utilizada em vários processos, como no controle de poeiras, no processamento de minerais e para o consumo e necessidades sanitárias dos funcionários, e dependendo do tipo do mineral explorado retira-se mais água do que minério. A agricultura irrigada, dependendo dos usos múltiplos da bacia hidrográfica pode ser considerada o uso de maior consumo, e é utilizada para suprir a deficiência de água para as plantações.

O Instituto Trata Brasil publicou no dia 28 de outubro que devido à mudança climática e o desperdício, o Brasil pode ter em média 12 dias sem água por ano até 2050, e que o Nordeste e Centro - Oeste podem ter mais de 30 dias. Cita também o aumento da demanda e a redução de oferta que contribuirão para o racionamento.

O estudo elaborado pelo Instituto mostra como as mudanças climáticas e os desperdícios podem afetar a saúde e a qualidade de vida dos brasileiros. O índice de perda de água no Brasil em 2023 era de 40,3%. Esse desperdício de água é causado por vazamento principalmente nas redes antigas de distribuição e em ligações clandestinas, os chamados gatos.

As mudanças climáticas que provocam o aquecimento do planeta sem dúvida vão fazer alteração no ciclo hidrológico que é composto pela a chuva, evaporação, infiltração e armazenamento de água no solo. Portanto, a disponibilidade hídrica terá uma tendência de diminuir, além de mudar o regime das precipitações.

È importante salientar que a alteração do ciclo hidrológico influenciará na quantidade e qualidade das águas superficiais e subterrâneas, provocando um efeito negativo na vazão dos cursos de água e na recarga dos lençóis freáticos. Além disso, no caso do Brasil, provocará alteração no sistema de geração de energia elétrica, pois vai diminuir volumes de águas afluentes aos reservatórios das hidrelétricas.

A mudança climática deverá ter um efeito maior para a demanda de água para a agricultura do que a demanda para abastecimento domiciliar e industrial, visto que a irrigação depende da evaporação, da pluviosidade e da temperatura.

Para minimizar a futura escassez e o racionamento do uso da água será necessário o empenho dos governos e da sociedade organizada, buscando investimento em eficiência das redes de distribuição, fazendo o reúso da água e o aproveitamento da água de chuva.

Marcos Antônio Correntino, engenheiro eletricista, especialista em Hidrologia e&nbsp;Recursos Hídricos

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