Durante muito tempo, inovação foi tratada como privilégio de poucos. Residia nos grandes centros, exigia investimentos robustos e parecia um conceito reservado a laboratórios ou empresas com departamentos de pesquisa. Mas o tempo se encarregou de romper essa lógica. Hoje, inovar é uma possibilidade real para qualquer negócio — e mais do que isso: é uma condição para permanecer relevante.

O que antes parecia distante está cada vez mais presente no dia a dia das micro e pequenas empresas. A inovação deixou de ser apenas um salto tecnológico para se tornar uma atitude diante dos desafios. É o padeiro que muda a forma de entrega, o artesão que testa novos materiais, a loja de bairro que adota ferramentas digitais para conhecer melhor seu cliente. Inovar é observar, adaptar e agir com inteligência diante da mudança.

Essa transformação não acontece por acaso. Ela é fruto de uma política contínua de incentivo à cultura da inovação, construída com diálogo, parcerias e visão estratégica. Em Goiás, o Sebrae tem trabalhado com universidades, centros de pesquisa e instituições como o Senai, a UFG e o Hub Goiás para fortalecer esse ecossistema. O que nos move é a convicção de que o conhecimento precisa circular — e que nenhuma empresa é pequena demais para inovar.

Para que isso aconteça, é essencial construir pontes entre quem gera conhecimento e quem empreende na ponta. É nesse cruzamento que surgem soluções de impacto, acessíveis e escaláveis. Programas em parceria com a Embrapii, com hubs de tecnologia e inteligência artificial e com instituições de ensino têm permitido que ideias saiam do papel e se transformem em modelos de negócio viáveis. O ambiente goiano, cada vez mais integrado e colaborativo, tem se mostrado fértil para quem quer experimentar, prototipar e crescer.

Mas inovar também exige coragem institucional. Exige quebrar silos, sair da lógica da competição isolada e investir em cooperação como modelo de desenvolvimento. Cada avanço compartilhado impulsiona o próximo. É assim que a inovação se torna política pública viva: porque nasce de quem faz e se espalha por quem acredita. O papel do Sebrae é justamente esse: conectar quem pensa, quem faz e quem realiza. Não há inovação sem rede, sem confiança, sem um ambiente que estimule a experimentação. E, sobretudo, sem gente disposta a aprender, errar, corrigir e tentar de novo. Inovar é verbo coletivo. Nunca foi tarefa solitária.

Vivemos um tempo em que o mercado cobra respostas rápidas, mas a verdadeira revolução está em fazer as perguntas certas. O que podemos melhorar? Como podemos fazer diferente? Para quem estamos criando? Em um mundo de soluções replicáveis, a diferenciação nasce da escuta, da empatia e da capacidade de transformar conhecimento em valor.

Goiás tem avançado nesse caminho. A inovação está nas conexões que criamos, nos programas que fomentamos e na mentalidade que semeamos. Cada vez que uma empresa arrisca uma nova rota, todo o ambiente empresarial se fortalece. E é por isso que seguimos investindo: porque acreditamos que a inovação é, antes de tudo, uma escolha por crescer junto.

Marcelo Lessa Medeiros, diretor técnico do Sebrae Goiás

Os artigos publicados não refletem a opinião de O POPULAR. Sua publicação obedece ao propósito de estimular e fomentar a diversidade e o debate de temas locais, nacionais ou mundiais.

Inovar é preciso

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Marcelo Lessa Medeiros

Empresas em recuperação judicial acabam de enfrentar um novo e sério revés. A Receita Federal, por meio da Solução de Consulta COSIT nº 74/2025, passou a tratar o deságio — o desconto negociado com credores — como receita tributável no momento exato da homologação do plano judicial. Ou seja, o alívio virou lucro presumido, e lucro vira imposto, ainda que o caixa da empresa continue vazio.

Imagine o cenário. Depois de um processo exaustivo de negociação, a empresa consegue que seus credores aceitem receber apenas metade da dívida original. Seria o começo de uma virada. No entanto, segundo a nova interpretação da Receita, esse “ganho” precisa ser tributado logo no início, com IRPJ e CSLL sobre o valor do deságio.

Isso significa que mesmo sem fluxo de caixa positivo, a empresa deverá recolher tributos sobre um valor que jamais entrou no seu caixa. Um paradoxo que ameaça a lógica do instituto da recuperação judicial. Antes dessa decisão, havia margem interpretativa.

Muitos profissionais da área defendiam que o valor do deságio só poderia ser considerado receita tributável após o cumprimento integral do plano ou, no mínimo, após dois anos de sua homologação, conforme autoriza o artigo 61 da Lei 11.101/2005. Fazia sentido: se a empresa não conseguisse cumprir o plano, o perdão concedido pelos credores seria revertido, e a dívida original voltaria a existir.

A Receita, porém, descartou esse entendimento. Para o Fisco, o deságio representa uma “insubsistência ativa”, ou seja, um passivo que deixa de existir sem uma contrapartida direta, e que, por isso, deve ser tributado como acréscimo patrimonial. Mesmo que a recuperação venha a fracassar, o fato gerador do tributo já ocorreu e não será desfeito.

O impacto prático é significativo. Em um caso simples, uma empresa com R$ 500 mil de deságio deve recolher até R$ 146 mil em tributos. É um valor considerável, especialmente para empresas que operam no limite, muitas vezes sem margem de manobra para novos compromissos financeiros.

Há, entretanto, uma possibilidade de fôlego. A legislação prevê um parcelamento especial para empresas em recuperação judicial, com entrada reduzida em até 120 parcelas. Esse benefício pode ser determinante para preservar o caixa e viabilizar a execução do plano. Mas ele exige planejamento tributário sério, alinhamento entre contabilidade, jurídico e administração, e uma análise detalhada das projeções de caixa.

A mensagem da Receita é direta: deságio é receita, e receita se tributa. Cabe às empresas se anteciparem, entenderem os riscos e incluírem o passivo fiscal no plano. O haircut pode, sim, ser a chave para a virada — mas, sem estratégia, ele pode se transformar em uma facada que inviabiliza a recuperação. Esse novo entendimento exige atenção redobrada dos gestores financeiros e jurídicos das companhias.

Eliseu Silveira, advogado, pós-graduado em direito empresarial

Os artigos publicados não refletem a opinião de O POPULAR. Sua publicação obedece ao propósito de estimular e fomentar a diversidade e o debate de temas locais, nacionais ou mundiais.

Corte na dívida, facada no caixa

Eliseu Silveira

Nos últimos anos, a palavra “sustentável” tornou-se onipresente. Grandes empresas, mineradoras, restaurantes, prédios, pousadas, carros, shows — todos parecem comprometidos com o futuro do planeta. Vivemos uma era em que até as ações mais destrutivas vêm acompanhadas de um selo verde, de certificações duvidosas ou de um relatório positivo de impacto socioambiental. Mas, se tudo é sustentável, por que os problemas ambientais continuam se agravando?

Estamos diante de uma crise ambiental sem precedentes. Eventos climáticos extremos tornam-se mais frequentes, ecossistemas inteiros são devastados, resíduos sólidos se acumulam em ritmo alarmante e cresce o número de refugiados ambientais. A incoerência entre o discurso institucional e a realidade é cada vez mais gritante.

Um dos principais responsáveis por essa dissonância é o chamado greenwashing: a maquiagem verde que disfarça práticas predatórias sob o verniz da responsabilidade socioambiental. Esse disfarce transformou a sustentabilidade em mero marketing — e da pior qualidade.

Empresas com históricos de violações ambientais ou trabalhistas lançam campanhas com slogans ecológicos, publicam relatórios coloridos e se colocam como protagonistas da “transição verde” sem, de fato, alterar a lógica predatória que move seus negócios. O termo criado para denunciar essa falsificação ética talvez nunca tenha sido tão atual e necessário.

O problema, porém, não é apenas semântico. O uso indevido da palavra “sustentável” bloqueia avanços reais. Enquanto se celebra o uso de “materiais recicláveis” ou a “neutralidade de carbono” de uma marca, pouco se discute sobre os reais impactos de sua cadeia produtiva.

Relatórios bem diagramados escondem a exploração de mão de obra, a destruição de ecossistemas e o deslocamento forçado de populações inteiras para dar lugar a megaprojetos supostamente “verdes”. Nesse processo, a retórica publicitária se sobrepõe ao debate científico e ao controle social, criando uma sensação enganosa de que estamos no caminho certo.

O resultado é perverso: quando tudo é sustentável, nada precisa realmente mudar. A palavra se torna escudo, não ferramenta de transformação. Enquanto isso, comunidades tradicionais, catadores de recicláveis e pequenos agricultores — que historicamente sustentam modos de vida genuinamente comprometidos com o meio ambiente — são silenciados ou cooptados pelo discurso corporativo, perdendo espaço para práticas que apenas simulam responsabilidade ambiental.

Recuperar o verdadeiro significado da sustentabilidade é urgente. Isso implica deixá-la de ser peça publicitária para se tornar compromisso concreto com a preservação da vida. Sustentar o planeta não é compatível com sustentar lucros ilimitados.

Mais do que slogans, o mundo precisa de ações consistentes, políticas públicas eficazes, transparência nas cadeias produtivas e reconhecimento do protagonismo de quem já vive de forma sustentável. Enquanto a sustentabilidade for apenas um rótulo, continuaremos maquiando um modelo que desmorona diante de nossos olhos.

Emiliano Lobo de Godoi, professor da Escola de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal de Goiás

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Sustentável para quem?

Emiliano Lobo de Godoi

No dia 28 de agosto celebramos o Dia Nacional do Voluntariado, uma data que nos convida a refletir sobre o poder de transformação que existe quando alguém escolhe doar tempo e cuidado ao outro. Ser voluntário vai muito além de um simples gesto de solidariedade, é assumir um compromisso genuíno com o coletivo, com a empatia e com a construção de uma sociedade mais justa e humana. Por meio do voluntariado, cidadãos comuns se tornam protagonistas de mudanças significativas, levando esperança, acolhimento e oportunidades a quem mais precisa.

No cooperativismo, essa essência ganha ainda mais sentido. A união, o propósito coletivo e o bem-estar da comunidade estão no DNA de quem coopera. Na Unimed Goiânia, esse espírito é amplificado pelo Instituto Unimed Goiânia, nosso braço socioambiental. Atuando há três anos com foco em sustentabilidade, assistência social e educação, o Instituto consolida-se como um catalisador de ações que promovem desenvolvimento humano e coletivo, fortalecendo valores que vão além do atendimento à saúde e alcançam dimensões de cidadania e inclusão.

Ser voluntário é se dispor a atravessar barreiras invisíveis, aproximando realidades distintas e, muitas vezes, distantes entre si. É criar laços, oferecer atenção genuína e abrir espaço para ouvir histórias que raramente encontram palco para serem contadas. E, nesse processo de entrega e escuta, o voluntário descobre que transforma e, ao mesmo tempo, é profundamente transformado.

Pequenos gestos, quando somados e repetidos com constância, formam uma corrente poderosa, capaz de mudar trajetórias, inspirar novas atitudes e revitalizar comunidades inteiras. Seguiremos avançando com o propósito de conectar pessoas que desejam fazer a diferença e transformar vidas. Em um mundo cada vez mais acelerado e orientado pela pressa, o voluntariado nos ensina a desacelerar para enxergar o outro, ouvir suas histórias com atenção e agir com propósito.

E quando esse movimento é coletivo, os resultados se multiplicam e ganham força. Acreditamos no potencial das redes de colaboração e no poder do exemplo. Por isso, cada voluntário do Instituto Unimed Goiânia é também um multiplicador de esperança, inspiração e pertencimento, ajudando a manter vivo o espírito cooperativista que nos move.

O voluntariado é, sem dúvida, um caminho de mão dupla. Ao tocar vidas, somos também transformados de maneiras que não se medem apenas em números, mas em sorrisos, reencontros e novas perspectivas. No Instituto Unimed Goiânia, acreditamos que cada atitude conta e pode fazer diferença: cada muda plantada, cada cesta doada, cada gesto de escuta e presença reitera nosso compromisso com um mundo mais humano, acolhedor e cooperativo.

Neste Dia Nacional do Voluntariado, deixo um convite especial: mude um hábito, doe uma hora, abrace uma causa. A transformação começa no momento em que alguém decide se importar, e essa escolha tem o poder de inspirar muitos outros a fazerem o mesmo.

Frederico Xavier,&nbsp;dico urologista. Presidente voluntário do Instituto&nbsp;Unimed Goiânia

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Força de quem doa tempo e cuidado

Frederico Xavier

Agosto é mais do que um mês no calendário. Desde 2023, por força da Lei nº 14.617, ele se tornou um convite nacional à reflexão: como cuidamos das nossas crianças nos primeiros anos de vida? Essa é a fase que a ciência chama de “primeira infância”, que vai do período gestacional até os seis anos, é um intervalo decisivo para o desenvolvimento físico, emocional, social e cognitivo de qualquer ser humano.

A Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) já determinaram, há décadas, que crianças e adolescentes têm prioridade absoluta. Mas na prática, transformar esse princípio em ações concretas continua sendo um desafio, apesar dos importantes avanços já conquistados no Brasil. É preciso que família, sociedade e Estado se unam para oferecer um ambiente seguro, saudável, acolhedor e rico em estímulos, em especial, na primeira infância. Afinal, é nesse momento que se formam vínculos afetivos, habilidades e memórias que acompanharão a pessoa por toda a vida.

Em Goiás, o debate ganhou força com a criação, em 2022, do Comitê Goiano da Primeira Infância. Formado por diferentes órgãos e Poderes, ele promove discussões e estratégias para garantir os direitos das crianças de 0 a 6 anos em todo o Estado. No ano seguinte, o Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO) instituiu seu Comitê Gestor Local da Primeira Infância, uma iniciativa pioneira no âmbito do Judiciário.

Esse comitê não atua sozinho e conta com representantes do Tribunal Regional do Trabalho da 18ª Região, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região e do Tribunal de Contas do Estado de Goiás. Juntos, elaboraramos o primeiro Plano de Ação voltado especificamente para a promoção da primeira infância nos tribunais brasileiros. O documento não ficou na gaveta. Dele nasceram campanhas, capacitações e ações interinstitucionais que alcançam desde servidores e magistrados até profissionais que, na ponta, lidam diariamente com crianças.

O trabalho é árduo, mas necessário. Cada capacitação, cada ação de conscientização e cada política pública voltada para essa faixa etária é um investimento que se multiplica no futuro. A neurociência é categórica: estímulos adequados nessa fase impactam diretamente a aprendizagem, a saúde emocional e até as perspectivas econômicas na vida adulta. Ignorar essa janela de oportunidades é condenar gerações a repetir ciclos de pobreza e exclusão.

A agenda da primeira infância não pode ser episódica nem restrita a datas comemorativas. Ela deve orientar políticas permanentes, integradas e baseadas em evidências. É assim que se constrói uma sociedade mais justa, igualitária e sustentável. Quando cuidamos bem das nossas crianças nos primeiros anos, estamos não apenas protegendo direitos, mas plantando as sementes de um País mais humano. Agosto nos lembra disso. O resto do ano é quando precisamos agir.

Lidia Assis, juíza do Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO) e presidente do Comitê Gestor Local da Primeira Infância

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