O avanço tecnológico aposentou, ou virou do avesso, vários meios de comunicação. Os livros e a imprensa, o registro de sons e imagens, o telefone e o correio não são mais os mesmos, e as formas de expressão artística associadas a eles caducaram junto. Hoje, não seria verossímil pôr Donald Trump num romance histórico, como Napoleão em “Guerra e Paz”. Ou narrar ações e fatos por meio de cartas, o método de Choderlos de Laclos em “Ligações Perigosas”. Ou conceber um detetive plausível como o Sherlock Holmes de Conan Doyle. Pois Laurent Binet arriscou o salto mortal triplo, e sem rede, em “Perspective(s)”, um romance histórico (passa-se no século 16), epistolar (20 pessoas trocam missivas) e policial (investiga-se o assassinato de um pintor). O resultado é surpreendente: Binet não se esborracha no chão.