O cenário econômico de Goiás em 2024 destaca um movimento de crescimento sustentado pelos micro e pequenos negócios. Nos primeiros nove meses, mais de 121 mil novos empreendimentos foram abertos, refletindo um dinamismo que se torna cada vez mais relevante para a geração de empregos e desenvolvimento local. Esse avanço, registrado em um contexto de desafios econômicos, reforça o papel transformador do empreendedorismo no estado.

Em Goiás, até setembro de 2024 o número de micro e pequenas empresas ativas ultrapassou 770 mil, abrangendo microempreendedores individuais (MEI), microempresas (ME) e empresas de pequeno porte (EPP). Esses negócios movem a economia em setores como Serviços, Comércio, Indústria e Agropecuária. A criação de novos empregos formais, especialmente em 2024, reflete o impacto direto desse segmento na vida de milhares de trabalhadores goianos.

Entre janeiro e agosto, o saldo positivo de contratações formais ultrapassou 77 mil vagas, com mais de 64% dessas novas oportunidades geradas pelos pequenos negócios. Esse dado revela um movimento de descentralização das oportunidades de trabalho, que se espalham por diversas áreas do estado, estimulando tanto os grandes centros urbanos quanto cidades menores. O fluxo de crescimento distribuído contribui para o fortalecimento de uma economia regional mais robusta e diversificada.

O acesso a informações estratégicas e a orientações sobre gestão, inovação e financiamento tem sido um diferencial importante para o crescimento das micro e pequenas empresas, que se tornam mais aptas a enfrentar as adversidades econômicas e ampliar sua presença no mercado.

Em outubro, celebrado pelo Sebrae como Mês da Micro e Pequena Empresa, o cenário se torna ainda mais relevante. O reconhecimento da importância desses negócios reflete o impacto real que exercem no cotidiano das cidades e das famílias goianas. As ações de incentivo, como edições da Feira do Empreendedor sendo realizada em nove cidades do estado, reforçam esse processo de aproximação entre o mercado e as pequenas empresas.

Outro ponto a ser destacado é a relação de confiança que se estabelece entre os pequenos empresários e suas comunidades. Muitas dessas empresas não apenas atendem a uma demanda comercial, mas também criam vínculos duradouros com seus clientes, gerando um ciclo positivo de desenvolvimento local. O fortalecimento de tais relações transforma os pequenos negócios em um patrimônio coletivo, que vai além da simples troca comercial.

Ao promover o desenvolvimento de micro e pequenos negócios, o estado se posiciona como um espaço de fomento ao empreendedorismo, abrindo portas para novos modelos de negócios e soluções inovadoras. A celebração dessa jornada é uma forma de reconhecer o esforço diário dos empresários que mantêm suas empresas ativas e contribuem para a construção de uma economia mais sólida e inclusiva. Dessa forma, os pequenos negócios seguem moldando o futuro econômico de Goiás, não apenas pela geração de empregos e renda, mas por sua capacidade de transformar realidades.

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Antônio Carlos de Souza Lima Neto é diretor superintendente do Sebrae Goiás

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Antônio Carlos de Souza Lima Neto

Num almoço de família, uma conhecida comentou: “li em algum lugar que essa crise climática começou com a revolução industrial”. E emendou: “como o Brasil não tem muitas indústrias, não temos muita culpa, né”. A conhecida estava certa.

A crise climática começou há cerca de 200 anos com a queima de combustíveis fósseis (carvão mineral, gás natural e petróleo) para impulsionar o processo de industrialização. Os gases provenientes dessa queima são os principais responsáveis pelo efeito estufa e, consequentemente, pelo aquecimento global. Além disso, a industrialização brasileira é de fato recente e pequena quando comparada aos países mais industrializados.

Entretanto, a conhecida estava errada em sua conclusão. O Brasil é atualmente o quinto maior emissor de gases de efeito estufa. Nós somos responsáveis por 3,1% de todas as emissões, apesar de representarmos 2,6% da população mundial. Ou seja, nós poluímos mais do que o esperado pelo nosso tamanho.

Em países mais industrializados, como China e EUA, as atividades mais emissoras de gases de efeito estufa se baseiam na queima de combustíveis fósseis para transportes, processos industriais e geração de eletricidade/calor. Já aqui no Brasil, as atividades mais emissoras estão centradas no uso da terra. Dando nome aos bois: desmatamentos, queimadas e agropecuária.

Essas atividades relacionadas ao uso da terra liberam para atmosfera o carbono estocado na biomassa vegetal ou na matéria orgânica do solo e são responsáveis por cerca de 3/4 de todas as emissões brasileiras de gases de efeito estufa. A maior parte dessas emissões ocorre pela transformação de gigantescas áreas naturais de floresta amazônica e Cerrado em áreas destinadas para a agropecuária. Essa transformação se dá principalmente por atividades ilegais de desmatamentos e queimadas.

A outra parte das emissões de gases de efeito estufa pelo uso da terra ocorre diretamente pela agropecuária. O “arroto do boi” ao consumir pastagens (fermentação entérica), assim como o manejo do solo com fertilizantes sintéticos nitrogenados e calcário, são os principais responsáveis. Apesar de já existirem tecnologias bastante acessíveis para reduzir o efeito desses emissores, como manejo de pastagens de alto vigor e integração lavoura-pecuária-floresta, grande parte do setor agropecuário ainda insiste num modelo de produção que não considera os seus impactos ambientais.

Esse uso desordenado da terra infelizmente não se traduz em desenvolvimento econômico. O Brasil é muito menos eficiente do que os países industrializados em transformar o consumo dos recursos naturais em aumento de riqueza.

Por exemplo, nós emitimos quatro vezes mais gases de efeito estufa do que os EUA para produzir a mesma quantidade de produto interno bruto (milhões de dólares). Ou seja, nós precisamos poluir muito mais do que eles para obter o mesmo nível de desenvolvimento econômico.

Voltando ao almoço de família, eu respondi à minha conhecida: “talvez a nossa culpa não tenha começado com a revolução industrial, mas, antes, com a colonização”.

Davi Mello Cunha Alves, graduado em Biologia pela UEG, mestre e doutor em Ecologia e Evolução pela UFG.

Dando nome aos bois

Davi Mello Cunha Alves

O Brasil encerrou 2024 encarando uma combinação de inflação elevada, juros altos e câmbio pressionado. Os principais indicadores mostram inflação de 4,83% ao ano, taxa Selic em 12,25%, desvalorização do real frente ao dólar de 21,82%, taxa de desemprego de 6,1% (dados de novembro) e 103,9 milhões de pessoas ocupadas.

Apesar de a economia ter apresentado um ritmo acelerado durante boa parte do ano e a perspectiva de crescimento se manter em torno de 3,5%, o Banco Central demonstra preocupação com o descumprimento da meta de inflação, que ficou acima de 4,5%.

As projeções para o próximo ano ainda divergem. Enquanto o Relatório Focus (do Banco Central) prevê inflação de 5% em 2025, o Relatório Firmos (voltado às expectativas das empresas) indica 4,2% para 2025. Ambos os documentos reforçam a atenção à alta de preços dos alimentos, provocada por fatores sazonais, problemas climáticos e especulação com o dólar.

Há uma expectativa positiva para a safra de grãos em 2025, segundo o IBGE, com alta de 10,2% em relação a 2024. A projeção é de 322,6 milhões de toneladas, com destaques para acréscimos na produção de soja, milho, arroz, trigo e feijão, que devem contribuir para a queda nos preços de alimentos.

O Banco Central dos EUA (FED) indicou que vai esperar para ver os desdobramentos da política tarifária de Trump antes de tomar novas decisões. Por ora, o mercado estima cortes de juros nos EUA apenas no segundo semestre de 2025, com a taxa básica estacionada em 4,5%. No Brasil a expectativa é a Selic encerrar o ano em 15%, bastante salgada para endividados e tomadores de financiamentos e empréstimos.

Levantamento do Valor Data aponta que, entre as 100 maiores empresas listadas na bolsa em termos de receita, 23 estão com índice de alavancagem (dívida líquida sobre Ebitda) acima de 3 vezes, nível considerado elevado. Além disso, estudo da RK Partners, referente ao terceiro trimestre de 2024, envolvendo 403 companhias de médio e grande porte com dados públicos, indica que cerca de 27% delas não possuíam capacidade de honrar seus compromissos financeiros.

O ano de 2025 trará desafios importantes, especialmente para as empresas com alto grau de alavancagem. Será fundamental buscar soluções criativas e imediatas, como renegociar dívidas, alongar prazos de pagamento, captar recursos (por meio de emissão de ações ou títulos de dívida) e reavaliar modelos de negócios, direcionando esforços para produtos e mercados mais lucrativos. As famílias também devem se preparar para um ambiente de menor disposição ao consumo, pressionados pelo crédito mais caro e pela inflação elevada.

Nesse contexto, é hora de revisar as estratégias, definindo prioridades e planejando com cuidado. Somente assim poderemos atravessar 2025 de forma segura, fortalecendo a economia e construindo bases sólidas para o crescimento sustentável e inclusivo.

Jeferson de Castro Vieira, economista, consultor de negócios, professor universitário

Juros e desafios econômicos de 2025

Jeferson de Castro Vieira

A cobrança pelo uso da água bruta em Goiás, em rios, ribeirões, córregos e em poços tubulares subterrâneos de domínio estadual já começou neste ano de 2025.

A cobrança não é uma taxa e nem um imposto. Considera-se que a mesma é uma remuneração pelo o uso de um bem público. A arrecadação é aplicada para melhorar a conservação, a disponibilidade e a qualidade das águas de uma bacia ou de um curso de água, podendo ser utilizada para construções de canais, estação de tratamento de esgotos, reservatórios e sistema de drenagem.

A prática de cobrar pelo uso da água bruta vem desde a China Antiga e Roma Antiga. Em Roma, parte da água era destinada ao Imperador e aos particulares. Os particulares eram sujeitos ao pagamento.

A cobrança pelo uso da água é um dos instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos, contida na Lei Federal 9.433, de janeiro de 1997. Em Goiás, o inciso III do Artigo 3º da Lei 13.123, de julho de 1997, expressa: reconhecimento do recurso hídrico como um bem público vital e de valor econômico, cuja utilização deve ser cobrada observada os aspectos de quantidade, qualidade e as peculiaridades das bacias hidrográficas.

O Código de Água de 1934 já previa a cobrança desse uso. Também a Lei 6.662, de junho de 1979 – a Lei de Irrigação – dispõe, em seu artigo 21, que a utilização de águas públicas para fins de irrigação e atividades decorrentes dependerá da remuneração a ser fixada de acordo com a sistemática estabelecida em regulamento.

Um dos objetivos da política de Recursos Hídricos é assegurar que a água superficial e subterrânea seja gerenciada e utilizada em padrões de quantidade e qualidade adequada, pelos os usuários atuais e pelas gerações futuras. Portanto quando se fala em cobrança pelo o uso da água não se deve pensar apenas em arrecadação, mas sim, em reverter a degradação das bacias hidrográficas e incentivar o uso consciente e racional da água.

O preço pela cobrança do uso da água é muito abaixo de seu valor econômico e do benefício que se pode trazer para os usuários. Em vários países a manutenção da infraestrutura hídrica e conservação das bacias são financiadas pelos os usuários da água com o recurso da cobrança.

Cita-se como experiência no Brasil o Estado do Ceará que implantou a cobrança em 1996. E no decorrer do tempo o maior beneficiário pela a cobrança foi a empresa de saneamento, pois melhorou a qualidade da água, reduzindo o seu custo de tratamento.

Para ter uma noção de custo no caso de Goiás, cita-se: um irrigante que tem um pivô central para cem hectares paga por ano menos do que a conta de água de uma família de classe média com quatro pessoas.

Competem aos Comitês de Bacias Hidrográficas estabelecerem o mecanismo de cobrança pelo uso dos recursos hídricos e sugerir os valores a serem cobrados. Estão sujeitos à cobrança: as indústrias, os irrigantes, as empresas de saneamento e os usuários que utilizam água subterrânea.

Marcos Antônio Correntino da Cunha, engenheiro eletricista especialista em Hidrologia e Recursos Hídricos

Começou a cobrança da água

Marcos Antônio Correntino da Cunha

Dá para acreditar que, quando consultamos a raiz da palavra trabalho, notamos que sua origem vem do latim tripalium, um instrumento de tortura utilizado na Grécia antiga contra escravos e presos? Infelizmente, muitos poderiam responder a essa pergunta: “Sim, dá para acreditar!”.

O trabalho, na contemporaneidade, é um grande paradoxo em nossas vidas. Pode ser o local de extremo sofrimento e fonte de ansiedade, depressão, fadiga e burnout (distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema proveniente de trabalho desgastante). Por outro lado, é inegável que também o trabalho é fonte fundamental da construção de nossa identidade na sociedade, afinal, é uma das primeiras perguntas que fazemos ao conhecer alguém: “Você trabalha com o quê?”.

Trabalhar é, portanto, uma das bases para a construção de nossa identidade e bem-estar, para o ganho de capital, para o estabelecimento de vínculos e para o crescimento e desenvolvimento de toda uma sociedade. Entretanto, o trabalho formal jamais pode ser desvinculado de outras instâncias essenciais de nossas vidas: trabalhamos melhor se nos sentimos respeitados nos ambientes de trabalho, se temos tempo para descansar, tempo para as atividades domésticas, para a família e amigos, para a prática de um hobbie, uma atividade física ou de lazer.

Países como o Reino Unido, Espanha, Austrália e até os Estados Unidos vêm experimentando novos modelos de jornada de trabalho, como o fim da escala 6x1 (6 dias de trabalho para 1 dia de descanso), previsto na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da deputada federal Erika Hilton (PSOL/SP), que recebeu o número necessário de assinaturas dos deputados federais para tramitar no Congresso Nacional no dia 15 de novembro de 2024. Estudos realizados pelas consultoras Reconnect Happiness e a organização 4 Day Week Global demonstram que 92% das empresas do Reino Unido que aderiram à escala 4x3 (4 dias de trabalho para 3 dias de descanso) decidiram manter a jornada de trabalho reduzida. Isto porque o teste demonstrou que não houve diminuição da produtividade de seus trabalhadores, e que os afastamentos como os relacionados a problemas de saúde diminuíram 57%.

Também vale a pena mencionar que a jornada de 44 horas de trabalho semanal existe há 80 anos no Brasil, quando ainda não havia computadores, Internet, smartphones e tantas outras ferramentas que aumentaram de forma imensurável nossa produtividade e diminuíram o tempo gasto em infinitas operações... Então, por que continuamos trabalhando as mesmas horas, de forma cada vez mais exaustiva?

Quem é a favor da manutenção da escala 6x1 desconhece as inúmeras pesquisas e argumentos que provam o quanto seremos mais felizes e produtivos tendo tempo de qualidade para nos dedicarmos a outras camadas fundamentais de nossa vida em sociedade e de nossa saúde física e mental. Ou então, suas conclusões são baseadas numa ideia ultrapassada de trabalho que vem, afinal de contas, do regozijo da tortura e do sofrimento, inclusive de si mesmo.

Andréa Vettorassi, socióloga, professora da Faculdade de Ciências Sociais da UFG e membro do Núcleo de Estudos sobre o Trabalho.