Numa crônica de 1961, Drummond fantasia que um dia o Natal durará o ano todo, e então “marcianos, bichos e plantas entrarão em regime de fraternidade”, veremos “a máquina de lavar roupa abraçada ao flamboyant, núpcias da flauta e do ovo, a betoneira com o sagui”. Com o fim das “obrigações enfadonhas ou malignas”, não haverá livros, porque um “um anjo, sorrindo, mostrará a terra impressa com as tintas do sol e das galáxias, aberta à maneira de um livro”. Como a utopia surreal periga demorar, eis alguns presentes livrescos para passar o tempo. nn n ‘O Polonês’, de J.M. Coetzee (Companhia das Letras). O personagem do título é Witold, um pianista de 72 anos de estilo preciso e seco que conhece, em Barcelona, Beatriz, uma melômana desencantada de 40 anos. O polonês tem pela espanhola uma paixão igual à de Dante pela Beatriz da “Divina Comédia”. Mas como Coetzee é antirromântico, o caso entre eles não ata nem desata; aproxima, afasta e frustra dois solitários.