Noutro dia, eu conversava com um colega de profissão, a quem admiro pela inteligência e pela trajetória. Ocorre que, lá pelas tantas, eu falei com ele sobre o Dia da Consciência Negra, quando afirmou, ‘com sinceridade’, segundo ele que “Não há racismo no Brasil. Que sempre teve amigos negros; que esse negócio de racismo é frescura.” Tenho muito respeito pelo colega, que, já adianto, não é um mau-caráter – mas.... É apenas analfabeto funcional, quando o assunto é racismo. Em verdade vos digo, o Brasil organizou-se como Estado enquanto fazia da escravidão o centro da economia e da vida social. Não se trata de um detalhe histórico, mas de alicerce político e econômico. Por mais de três séculos, a riqueza, a terra e as instituições foram erguidas sobre o corpo e sobre o trabalho de pessoas negras. O mais importante abolicionista do Brasil, o imortal, jurista e político Joaquim Nabuco lembra que a escravidão não foi apenas “um sistema de trabalho”, mas uma força que deformou a família, a política, a Igreja, a Justiça e o modo como o país aprendeu a decidir quem merecia ser tratado como gente.