Arrigo Barnabé lembra-se bem do choque. Há dez anos, estava à toa numa livraria e pegou na estante um livro de Carlos Drummond de Andrade. Sem prestar muita atenção, relia alguns poemas até topar com “Relógio do Rosário”, que não conhecia. Uau! O poema não é longo. Tem 22 estrofes, cada uma com dois versos rimados. A maioria é de decassílabos heroicos - os acentuados na 6ª e na 10ª sílabas, os versos de Camões n’ “Os Lusíadas”. Finda a leitura, o músico de vanguarda estava estatelado. Releu as duas páginas e o impacto se repetiu. O esquisito é que Arrigo, hoje com 73 anos, não entendeu “Relógio do Rosário”. Quando muito, teve uma ideia embaçada do significado. Comprou o livro e repassou os versos várias vezes. A cada leitura, maravilhava-se; mas coçava a cabeça: o que é isso? O que quer dizer?