No Jardim de Getsêmani, na noite antes da Crucificação, a parte humana de Cristo enfrentou uma angústia de dimensões catastróficas. Sob a perspectiva do psicanalista britânico Wilfred Bion, pode-se dizer que esta foi a noite decisiva em que Jesus teve de “sonhar” uma experiência emocional insuportável para ascender de modo pleno para sua Missão. Enquanto os discípulos repousavam, inábeis para conter ou lidar com a iminência do trauma, Ele continuou desperto na penumbra. Seu suor de sangue foi a amostra física de uma psique tomada por elementos beta – impressões brutas de terror e aflição ainda impossíveis de serem arrazoadas ou simbolizadas. A agonia no Jardim remete ao clímax do “ataque aos elos” psíquicos, devido a uma situação de estupor interno. A prece “afasta de mim este cálice” é o brado diante do evento em si, indigerível. Em todo caso, Cristo não evade psiquicamente. Ele se conserva em posição de “capacidade negativa”, aguentando a incerteza e o terror sem procurar respostas afoitas.