Quando eu era adolescente, quem usava maconha ganhava o carimbo de “maconheiro” e ponto final. Vovó maconheira? Só em comédia. Se alguém fosse pego fumando, o veredito era: “nunca será ninguém”. Crescemos assim, cercados de mitos sobre uma planta que povos originários já utilizavam como remédio. Pois bem: o tempo passou — e muita coisa mudou. Hoje, com o crochê na bolsa, a vovó pode usar cannabis para dormir melhor, abrir o apetite e aliviar dores. Crianças com epilepsia de difícil controle também se beneficiam de derivados prescritos por médicos. A planta é a mesma; o que mudou foi a informação. E a ciência não dá mole. Descobrimos que existe um sistema endocanabinoide no corpo, com receptores CB1 (sobretudo no cérebro) e CB2 (mais ligados ao sistema imune). É por meio deles que moléculas da planta “conversam” com o nosso organismo. Entre essas moléculas, duas ganharam fama: o THC, psicoativo, e o CBD, que não dá “barato” e virou protagonista de estudos clínicos.