A polarização política entre esquerda e direita, que chegou a extremos com a tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023, tende a arrefecer diante da firme atuação do governo federal e do Supremo Tribunal Federal (STF) na defesa da democracia e da soberania nacional. Pesquisas recentes mostram o presidente Lula liderando a sucessão em todos os cenários, enquanto o bolsonarismo perde força após ver seus principais líderes condenados e a bandeira do patriotismo mudar de lado, após a subserviência ridícula aos Estados Unidos.

Esse quadro aponta para a possibilidade de reeleição do presidente Lula ainda no primeiro turno, acompanhado por uma bancada expressiva no Congresso Nacional. Mas como se desenha a situação em Goiás? Historicamente conservador, o nosso estado vem sendo beneficiado pelas políticas públicas do governo federal que fortalecem os trabalhadores e o setor produtivo.

A economia nacional vive um ciclo favorável: a indústria cresceu 3,1% em 2024, melhor resultado em 15 anos; o comércio avançou 4,7%, maior índice desde 2012; e o PIB pode fechar o ano de 2025 com alta de 4%. O otimismo do mercado é expresso na Bolsa de Valores que segue em alta e o dólar em queda, fatores que transmitem confiança aos empresários e consolidam ambiente positivo para os investimentos.

Com esse cenário e um conjunto expressivo de obras federais em andamento, Lula pode ultrapassar a média histórica de 41,29% dos votos em Goiás, que obteve no segundo turno das eleições de 2022. Isso o credencia a ser um cabo eleitoral decisivo em 2026. Quem contar com seu apoio, polarizará a disputa para governador diante de um eleitorado cada vez mais sensível a resultados concretos na economia, infraestrutura e nas políticas públicas que propiciam qualidade de vida.

Três forças políticas regionais devem se enfrentar nas urnas: o governo estadual, capitaneado pelo União Brasil e o MDB; o bolsonarismo, puxado pelo PL e aliados; e o PT, que, junto com a frente progressista, construirá o palanque para Lula. Essa base poderá ser ampliada com setores de centro descontentes com os rumos que tomaram as articulações comandadas por Bolsonaro, como o PSDB, que, após várias derrotas em Goiás, poderá ter como alternativa uma aliança de centro-esquerda.

O PT tem tradição em disputar o governo de Goiás. Governou Goiânia e Anápolis por vários mandatos e consolidou estruturas partidárias em todas as regiões do estado. Em um embate ideológico marcado por Lula e Bolsonaro, tende a transferir votos diretamente para a chapa lulista, reforçando a polarização. Nas eleições anteriores, mesmo com candidaturas proporcionais limitadas, Lula teve votos no Estado.

Em 2026, com uma base mais ampla e consistente, poderá ampliar sua força eleitoral. Vale recordar a lição de Mário Covas: “política se constrói em alianças e diálogo.” Se esse caminho for seguido, o campo progressista poderá romper a barreira histórica em Goiás e se transformar em um exemplo para aplicar um projeto de desenvolvimento econômico com justiça social.

Luís César Bueno, professor e dirigente do PT. Foi deputado estadual por Goiás e vereador de Goiânia

Os artigos publicados não refletem a opinião de O POPULAR. Sua publicação obedece ao propósito de estimular e fomentar a diversidade e o debate de temas locais, nacionais ou mundiais.

Polarização e virada em Goiás

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Luís César Bueno

O Cerrado responde por 55% da soja, 49% do milho e 85% do algodão produzidos no Brasil. Mais da metade da vegetação nativa segue preservada, e suas nascentes abastecem oito das doze maiores bacias hidrográficas do País. Esses dados dimensionam o peso de um bioma que, por muito tempo, esteve em segundo plano, mas que hoje se consolida como peça central para a segurança alimentar e a transição climática.

Com essa perspectiva, levamos o Cerrado à Climate Week NYC, em Nova York, em setembro. No painel “Agricultura e Inovação no Cerrado”, abordamos como Goiás conecta produtividade, sanidade e logística com conservação. Não falamos apenas de grãos e fibras: falamos de empregos decentes, energia limpa e oportunidades para pequenos produtores que dependem de crédito acessível, infraestrutura e transferência de tecnologia. Defendemos, ainda, sistemas integrados – como ILPF – que aumentam a eficiência do uso da terra, reduzem emissões e conservam água, sem abrir mão da competitividade internacional.

Outro ponto decisivo foi a necessidade de oficializar métricas de carbono sequestrado em sistemas tropicais. Hoje, a falta de uma metodologia brasileira impede que transformemos em ativos globais o carbono já retido no solo. A iniciativa da FGV Agro, que desenvolve uma calculadora unificada para medir o sequestro de carbono no campo, é passo histórico para dar reconhecimento internacional ao que o Cerrado já entrega.

Também discutimos rastreabilidade, certificações e caminhos para ampliar o acesso a mercados que remuneram práticas de baixo carbono, gerando receita adicional ao produtor que conserva solo, água e biodiversidade. Foi gratificante ver esse esforço reconhecido pela própria ONU. Como destacou Rodrigo Favetta, Diretor de Engajamento do Pacto Global da ONU - Rede Brasil: “O Cerrado tem uma vocação natural para a produção de alimentos, com clima e solo excepcionais. O painel mostrou que é possível produzir ainda mais, de forma sustentável, aproveitando áreas degradadas e preservando o que precisa ser preservado.”

Esse olhar dialoga com a agenda de recuperação de pastagens, com a bioeconomia do Cerrado e com soluções baseadas na natureza que unem ciência, produtividade e inclusão social. Voltamos de Nova York com a certeza de que o protagonismo é do Cerrado. Somos fornecedores globais de alimentos, mas também guardiões de serviços ambientais fundamentais - da água que abastece milhões de brasileiros ao carbono mitigado no solo.

O desafio é transformar visibilidade em investimentos, políticas públicas e parcerias que consolidem este bioma como referência mundial de produção sustentável. Isso significa acelerar assistência técnica, ampliar acesso a crédito verde, fortalecer a inovação, valorizar quem conserva e garantir logística que reduza custos e emissões.

Quando o Cerrado é reconhecido como ativo estratégico do Brasil, todos ganham: o produtor, as cidades que dependem de suas águas, a indústria que agrega valor e o consumidor que exige alimentos de origem responsável. Seguiremos trabalhando para que essa mensagem ultrapasse Nova York, alcance investidores, governos e sociedade, e se traduza em resultados concretos para o nosso bioma.

Edwal Portilho, presidente-executivo da Associação Pró-Desenvolvimento Industrial do Estado de Goiás (Adial)

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Cerrado em Nova York

Edwal Portilho

Nenhum ser humano é uma ilha. Ao contrário, existe para a relação com os outros, o que requer aperfeiçoamento constante, explorando potenciais, superando dificuldades, melhorando. Se compararmos, então, a vida com um caminho, não se trata de um percurso solitário. Muitos são os que nos acompanham, lado a lado, atrás de nós, mas também à nossa frente.

Os orientais chamam a esses de mestres e mestras. Uma alcunha que também habita o imaginário popular brasileiro. Mestres e mestras como especialistas no bem viver; sabedores da “ciência”, do que há. E não apenas para si, como encapsulamento, mas como exercício de doação constante. Cora Coralina lembrou com saudade de sua Mestra Silvina. E quanto aos nossos mestres e mestras?

Todos, absolutamente todos nós, passamos pelo cuidado dos nossos mestres e mestras. Aprendemos deles a arte dos números e das letras, combinados com criatividade e longamente experimentados pelos que nos antecederam. Acaso, então, restaria a nós outro sentimento que não a gratidão?

Agradecer é próprio de quem amadurece. A nossa época precisa de uma grande lição – ou, dito de outra forma, de um grande corretivo – para modificar esse seu aspecto tão tacanho: a banalização do tratamento dado a quem, com esforço e responsabilidade, dentro das limitações de suas possibilidades, ousou contribuir conosco; ousou acreditar num amanhã repleto de esperança.

Em tempos de tanta polarização, de nivelamento das consciências e de violências muitas, também o conhecimento se tornou um opositor a ser combatido. Falácias repetidas – às vezes com voz potente – acabam travestidas de verdades. E, no deságue desse movimento, justamente a linha de frente acaba por ser a mais afetada.

No estranho mundo em que vivemos, parece ter-se normalizado o espetáculo de ridicularização de professores, escarnecidos e diminuídos; feitos mote para a “lacração” de figuras que não poderiam ser mais que insignificantes. Isso não pode ser admitido! Nenhuma violência pode ser admitida.

Não bastassem o sucateamento da carreira, a falta de estruturas e materiais adequados ao trabalho, o esgotamento de uma carga horária exaustiva – somados aos muitos “etc.”, pois se trata de uma lista realmente longa –, não podemos admitir o desrespeito com que muitas pessoas têm tratado os nossos professores: as sentinelas anônimas da vida em sociedade, que, apesar de tudo, escolhem continuar a sua luta cotidiana.

Parece valer muito o aforismo oriental segundo o qual uma sociedade pode ser avaliada por como trata seus idosos e seus professores. Não estou seguro se, nessa avaliação, o Brasil conseguiria aprovação. Mesmo assim, cá estamos novamente a celebrar o trabalho duro, a renúncia, a perseverança e o amor à causa de muitas e muitos a quem tenho a honra de chamar de colegas.

Beijo suas mãos. E, publicamente, reconheço que tudo quanto colhi até aqui devo às mestras — sobretudo no feminino —, mas também aos mestres que o bom Deus colocou no meu caminho.

José Reinaldo Martins Filho, doutor em Filosofia e em Ciências da Religião. Professor associado da PUC Goiás e diretor acadêmico do Ifiteg

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Às mestras e mestres, com carinho

José Reinaldo Martins Filho

Semanas atrás, Goiânia recebeu sua primeira forte chuva que, sem surpresa, expôs os velhos problemas de infraestrutura que acometem nossa cidade. A alegria pelo fim da seca foi substituída pelo temor, devido a vias tomadas pelas enxurradas, a queda de árvores, e a interrupções do fornecimento de energia elétrica. Fatalmente, o dia foi marcado pela perda de uma jovem, que sofreu um choque elétrico ao atravessar a rua, na qual havia caído um cabo rompido e energizado.

Em meio à desolação, à sensação de impotência e ao jogo de empurra quanto às responsabilidades, surgem vozes pedindo pelo enterramento das redes de energia elétrica. De fato, as redes subterrâneas são mais robustas e seguras. São quase imunes às intempéries, à intervenção humana e ao manejo inadequado da arborização. Parece a solução perfeita.

No entanto, chama a atenção que o tema apareça desvinculado de qualquer debate ou, se esse existe, que não se saiba quem o conduz e em quais fóruns. Curiosamente a Enel, em parceria com o Senai-GO, criou um belo centro de formação de eletricistas e eletrotécnicos para instalação e manutenção de redes subterrâneas, mas, enquanto esteve à frente da Celg, não instalou um centímetro que seja desse padrão de distribuição de energia nas vias públicas.

Em 2023, o Conselho de Consumidores de Energia Elétrica do Estado de Goiás solicitou um parecer sobre um processo legislativo que estava em tramitação na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego). No processo, o relator havia incluído a seguinte emenda: obrigar a concessionária a “implantar sistema de rede subterrânea de cabeamento para a prestação dos serviços de distribuição de energia elétrica, em substituição às redes aéreas, de baixa e média tensão, existentes em vias públicas”.

A proposta pareceu ignorar diversas questões, como os custos quase proibitivos da distribuição subterrânea de energia, que seriam repassados integralmente às tarifas pagas pelos goianos; a inexistência de coparticipação das operadoras de comunicação, cujos cabos compartilham dos mesmos postes da rede elétrica e são os principais responsáveis pela poluição visual urbana; a ausência de coordenação com a Saneago, cujas redes de água e esgoto já ocupam o subsolo; e a indiferença quanto à capacidade de as prefeituras assumirem integralmente o posteamento para instalação da iluminação. Nosso parecer sugeriu o veto à emenda aprovada na Alego, e este foi o desfecho da matéria.

Mas há alternativa. As redes de distribuição aéreas compactas são mais adequadas à realidade brasileira. Agregam desempenho e segurança superiores, com custos equiparáveis aos das redes aéreas convencionais. Quanto a isso, as concessionárias estão atrasadas em cerca de 30 anos, visto que as penalidades aplicadas pelas agências de regulação não têm motivado investimentos.

A degradação dos indicadores de qualidade pode nos conduzir a um ponto de inflexão em que a sociedade seria forçada a assumir os investimentos em redes subterrâneas. Algo semelhante ocorreu com nossas rodovias. Após décadas de descaso, elas foram reconstruídas com as melhores técnicas de engenharia e dinheiro público, mas a intenção foi entregá-las à gestão privada. A história ensina. Estejamos ligados.

Igor Kopcak, doutor em Sistemas de Energia Elétrica.&nbsp;Professor da Escola de Engenharia Elétrica, Mecânica e de Computação da UFG

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Redes elétricas subterrâneas

Igor Kopcak

A um ano das eleições, o presidente Lula já subiu no palanque e não vai descer mais. Todos os seus movimentos, decisões, falas, viagens e anúncios são voltados para 2026 e, a cada um deles, ele vai colecionando boas fotos e ótimo material de campanha. Um bom exemplo é o encontro com o Papa Leão XIV, nesta segunda-feira, no Vaticano, mas o mais cobiçado ainda vem aí, com o presidente Donald Trump.A ida relâmpago à Itália foi direcionada exatamente para a campanha. O Brasil é considerado o maior país católico do mundo e isso, é óbvio, tem forte peso eleitoral. Já que não tem os evangélicos, Lula investe nos católicos com desenvoltura e com o seu vínculo e o do PT com a Igreja, desde a fundação do partido, em 1980. Lula, inclusive, já tinha se encontrado - e tirado fotos - com João Paulo II, Bento XVI e Francisco.O tema central na viagem, de um dia, também tem tudo a ver com 2026 e a história do PT e de Lula: o combate à fome, reforçado com o discurso do “ricos versus pobres”, que ele ganhou de bandeja do bolsonarismo no debate sobre a isenção do IR, e com a criação da Aliança Global contra a Fome, no Rio, quando o Brasil presidia temporariamente o G20, grupo das maiores economias.Lula conversou com o Papa sobre o que ele próprio considera sua obsessão e, em Roma, discursou nas reuniões da Aliança contra a Fome e da FAO, o braço da ONU para Alimentação e Agricultura. Nesses três momentos, levou um trunfo: ter novamente tirado o Brasil do Mapa da Fome, como anunciou a própria FAO. O índice de miséria ainda é inaceitável no País, mas a fome diminuiu.Viagens assim buscam dois efeitos. O primeiro é ratificar a imagem internacional de um Lula que persegue a segurança alimentar e a defesa dos pobres. O outro é a consequência interna, com a consolidação dos votos da esquerda e a expectativa de atração do centro e até da direita refratária ao bolsonarismo.O próximo “golaço”, como pretendem os governistas, deve ser o encontro com Trump, seguido de boas notícias quanto a tarifas e a sanções contra autoridades brasileiras. Apesar disso, o ministro Fernando Haddad cancelou a ida aos EUA para as negociações prévias, para priorizar a reação interna às derrotas do aumento do IOF e da MP da arrecadação no Congresso.Se o Congresso não colabora com aumento de receita e Lula não admite o correspondente corte de gastos, a conta não fecha. E, se não fecha, há dois riscos: Lula baixar a bola nos seus programas sociais ou simplesmente jogar a responsabilidade fiscal para o alto. Em qualquer hipótese, o efeito é no país, mas diretamente também na campanha de Lula.