Exames de proficiência não são novidades. E nos últimos tempos, ganharam evidência, especificamente, na área da saúde. Uma das mais recentes novidades é a proposta de criação do Exame Nacional de Proficiência em Biomedicina. O Projeto de Lei 513/2025, de autoria do senador Marcos Pontes, está em tramitação e em estágio de consulta pública no site do Senado Federal.

Dominar um determinado campo da profissão, os conhecimentos teóricos e práticos, ser competente no que se propõe a fazer. Tudo isso engloba a proficiência. E é justamente isso que o Conselho de Biomedicina quer atestar entre os profissionais antes de inscrevê-los.

Longe de querer prejudicar, a medida tem exatamente o objetivo contrário. Busca valorizar o bom profissional e validar para a sociedade a atuação do mesmo. A rápida expansão nos cursos de graduação em Biomedicina, incluindo aqueles em modalidade Ensino à Distância (EAD), comprometeu a qualidade do ensino, isso é inquestionável, e gerou uma expansão na quantidade de profissionais.

Ainda que a Biomedicina e suas dezenas de habilitações favoreçam a inclusão dos profissionais em várias áreas no mercado de trabalho, a qualidade, a segurança e as boas práticas na prestação dos serviços não podem sofrer queda ou comprometimento em seus atributos.

Se números, como os do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), demonstram, por exemplo, a diferença entre o desempenho dos acadêmicos de Biomedicina nas instituições públicas e nas privadas, é certo que esse contraste terá reflexos no mercado de trabalho e na própria atuação da categoria.

Trabalhamos diretamente com vidas, cuidamos da saúde das pessoas. Da atuação biomédica parte diretamente a orientação para tratamentos, prevenções, pesquisas. Temos uma trajetória de 45 anos de regulamentação e uma jornada de conquistas, crescimento e confiabilidade. Portanto, devemos defender ações e medidas que preservem essa história. A Proficiência poderá somar neste bom êxito.

Poucos dias atrás, o Ministério da Educação (MEC) confirmou que cursos da área de Saúde não poderão mais ser ofertados integralmente na modalidade de Educação a Distância (EAD). A decisão, que ainda será publicada em decreto presidencial, vem ao encontro da luta de tantos biomédicos pela formação de qualidade, o que exige prática e contato com pacientes através de estágios supervisionados, por exemplo.

Essa mudança, inquestionavelmente, trará mais segurança ao próprio acadêmico, pois diante da submissão ao teste de proficiência, uma vez implantado, estará melhor preparado para a avaliação. Ser indiferente à má atuação, à conduta sem formação, habilidade ou técnica que possam avariar a saúde de quem quer que seja é indigno da Biomedicina. O projeto de lei ainda aguarda designação para as comissões, ou seja, será submetido a análises e debates.

Seja qual for o resultado, servirá como reflexão do papel que o biomédico desempenha no âmbito da saúde e na sociedade. Se validada, a proficiência atestará que o profissional biomédico que ora adentra o mercado de trabalho tem as características mínimas necessárias para atuar com aptidão.

Renato Pedreiro Miguel, presidente do Conselho Regional de Biomedicina – 3ª Região (CRBM-3)

Proficiência a favor da vida

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Renato Pedreiro Miguel 

As mudanças climáticas representam um desafio global com impactos significativos em diversos setores, incluindo a agricultura, especialmente a agricultura familiar. No Brasil, onde a agricultura familiar desempenha um papel crucial na produção de alimentos e na economia, os efeitos das mudanças climáticas são particularmente preocupantes. Aumento da temperatura, alterações nos padrões de chuva e redução na disponibilidade de água são alguns dos principais efeitos observados, que afetam diretamente a produtividade agrícola, resultando em perdas de colheitas, redução na qualidade e quantidade dos alimentos e aumento dos preços.

A agricultura familiar também é forte aliada na construção de um sistema alimentar mais equilibrado e resiliente. Estudos apontam que pequenos agricultores produzem cerca de 70% dos alimentos consumidos no Brasil, mesmo ocupando área territorial muito inferior perante os grandes empreendimentos agrícolas. Essa capacidade produtiva, aliada à adoção de práticas como o plantio consorciado, a recuperação de áreas degradadas e a conservação de nascentes, torna a agricultura familiar um vetor essencial para enfrentar as consequências das mudanças climáticas.

É importante ressaltar que enfrentar as mudanças climáticas também requer o fortalecimento de políticas públicas voltadas à reforma agrária e ao apoio à agricultura familiar. Isso inclui a destinação de recursos para capacitação técnica, o fomento à pesquisa em tecnologias limpas e o acesso facilitado a crédito rural. Além disso, é essencial promover uma articulação maior entre os produtores rurais e os mercados locais, incentivando cadeias de produção e consumo mais justas e sustentáveis.

E aqui entra a Feira Agro Centro-Oeste Familiar, importante iniciativa da UFG da qual o Incra Goiás se orgulha da parceria. Abrir espaço para debates, troca de tecnologias e experiências, comercialização de produtos para um público interessado faz com que a reforma agrária se fortaleça, com que o trabalhador rural se sinta prestigiado no universo acadêmico.

Enfim, a superação da crise climática exige uma visão que transcenda os interesses individuais e de curto prazo. É fundamental pensar coletivamente na segurança alimentar, na preservação dos recursos naturais e na garantia da sobrevivência da espécie humana, construindo um futuro mais justo, resiliente e sustentável para as próximas gerações.

Não há dúvidas de que o combate às mudanças climáticas passa pelo campo, pelas mãos de quem cultiva a terra e pela adoção de um modelo que priorize o bem-estar coletivo e o equilíbrio ambiental. Essa é uma tarefa que exige vontade política, investimentos consistentes e, acima de tudo, o reconhecimento do papel fundamental dos trabalhadores rurais na construção de um futuro mais justo e sustentável.

Karla de Faria, professora do Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa/UFG). Com&nbsp;Elias D’Ângelo, superintende regional do Incra-GO&nbsp;

A agricultura familiar e o clima

Karla de Faria

Com a eleição do novo Papa e, sobretudo, pelo belíssimo sopro do Espírito, na eleição de seu nome, diferente dos nomes do último século, fiz uma pequena análise dos Papas Leões. Embora, eu achasse perfeitamente atualizada a eleição do nome, Leão. Forte, poderoso, tenaz, capaz, ousado, sagaz. Animal do deserto, da estratégia, da busca do desconhecido, felino, notívago - todo animal notívago é mais preciso que quaisquer outros, enxergam melhor e são mais rápidos.

O evangelista Marcos, também, é representado pelo símbolo de um Leão. Imagino que, também, na espécie humana, os notívagos sejam muito mais inteligentes e mais precisos. Pelo menos, são exímios poetas. Quero crer que o Cardinal, Robert - pela inquietude de um Leão - antes que fosse formado no ventre materno, bem antes de ser um monge Agostiniano, Deus já o havia chamado e escolhido.

A beleza de tudo isso é que, antes que o Espírito falasse à Igreja, o mesmo Espírito Santo culminara, na sua eleição do Santo Padre, a unidade dela. Sem nenhum prejuízo, se o nome do eleito fosse Zósimo II, ou Telésforo II, ou Agapito II, ou outro nome que o Espírito o impelisse, o nome já estaria implícita à eleição ‘Tu és Petrus’.

Nesse breve estudo que fiz, incluí, também, os 14 Papas eleitos com o nome Leão, apenas, à guisa de informação. A Santa Sé sublinhou a belíssima missão do Papa Francisco, em sua missa Exequial, dia 21/01, na Praça de San Pietro, com um excelente texto do quarto Evangelho: Pedro, filho de João, tu me amas mais que estes?

Ao que Simão lhe responde, naturalmente, sendo, a 3ª vez entristecido: Tu sabes tudo, tu sabes que te amo. Então, continua Jesus: Quando eras Jovem, tu andavas e cingias e ias para onde querias. Quando fores velho, outro te cingirás e levarás, aonde tu não queres ir. E, ao final, Jesus diz-lhe, apenas, uma Palavra. Segue-me.

Desde os anos 440, nove anos, após o Concílio de Éfeso - que declarou, entre tantas coisas importantes, Nossa Senhora, Theotokos - há 14 Papas ‘Leões’, cf. os anos de sua eleição e morte correspondentes, entre os quais, cinco já foram canonizados.

Vamos acolhê-lo com muita alegria, com muito amor. Eu espero, ainda este ano, falar com ele, por ocasião do Jubileu. Vai ser uma maravilha.

Imagino que o ‘Cardinal’ Prevost, filho da Ordem de Santo Agostinho, tenha meditado, na história da Igreja, o nome Leão, por ter tido, no passado, uma feliz recordação da histórica de um dos Papas Leões.

O primeiro dos Leões, como indica o nome, foi o magnífico, São Leão I, o Grande, governou a Igreja, de 440 a 461. Nascido em Roma, no ano 400, aos 40 anos, foi eleito Papa. Nesse tempo, lutou, bravamente, para que Roma não fosse ocupada pelos bárbaros.

Nesse período, em Paris, concomitantemente, uma menina, que mais tarde seria Santa Genoveva, nascida a 420 e, aos 28 anos, por exemplo, impediu a invasão dos Hunos, comandados por Átila, no cerco a Paris. O Papa Leão I, o Grande, organizou o acordo de paz.

Homem muito culto, conhecido por seus profundos conhecimentos teológicos, ajudou clarificar a questão da Natureza Humana e Divina de Jesus Cristo, já definidas nos Concílios de Niceia (325) e Constantinopla (381). Foi declarado doutor da Igreja em 1754.

Dois Papas Leões de Florença, aqui merecem destaque, por serem os maiores mecenas do planeta, de famílias nobres, dos Medici, Leão X (1513-1521): Giovanni de Lorenzo Di Medici, filho de Lorenzo, o Magnífico. E Leão XI (1605), Alessandro Ottaviano Di Medici, mas morreu no 27° dia de seu pontificado.

César Garcia,&nbsp;padre da Arquidiocese de Goiânia, mestrando em Direito Canônico pelo&nbsp;Instituto Pontifício de Direito Canônico&nbsp;do Rio de Janeiro e Universidade Gregoriana de Roma

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Sinal de Deus

César Garcia 

Goiás vem apresentando números muito significativos de crescimento econômico nos últimos anos. Enquanto o Brasil cresceu 12,7% entre 2019 e 2024, aqui apresentamos um desempenho muito superior, atingindo 19,3% no crescimento acumulado. Nesse mesmo período, a indústria goiana cresceu 17%, mais do que o dobro do Brasil (apenas 8%).

Nosso agro ampliou sua produção em incríveis 33%, frente a 16% do Brasil. Esses números refletem a dinâmica virtuosa da economia goiana, com rebatimentos no bem-estar da população, reduzindo pobreza, aumentando o emprego e o salário dos trabalhadores. Historicamente, a região Centro-Oeste foi privada de recursos para infraestrutura. Convivemos com dois Brasis, um deles na faixa litorânea, contendo um estoque de infraestrutura relativamente superior ao do Brasil do interior.

O Centro-Oeste, como parte do Brasil interiorano, convive com dificuldades logísticas não negligenciáveis, como distância para os portos, malha ferroviária deficitária, inexistência de gasodutos que barateariam a produção industrial, dado o acesso ao gás natural e/ou biogás, entre outros entraves. Diante disso, questiono: qual seria o nosso desempenho econômico caso ampliássemos a nossa infraestrutura?

É de conhecimento geral que o crescimento econômico está atrelado, entre outros fatores, a uma força de trabalho qualificada, a um ambiente de negócios saudável, a recursos naturais abundantes e à ampliação do investimento em capital e infraestrutura. Entre os fatores de infraestrutura abordados, pouca atenção tem sido dada a oferta de energia elétrica. Normalmente, os estudiosos se preocupam em quanto o crescimento econômico demanda de energia elétrica, mas não discutem o quanto a ampliação da oferta de energia elétrica pode impactar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).

A nota técnica “A infraestrutura de energia elétrica e o crescimento econômico do Estado de Goiás”, desenvolvida pelo Instituto Mauro Borges (IMB), vem preencher essa lacuna. No âmbito agregado, observou-se que uma ampliação de 10% na oferta de energia elétrica em Goiás poderia expandir o PIB goiano em 1,07%. Em termos monetários, seria como adicionar R$ 4 bilhões de forma permanente em nossa economia. Esse efeito médio é amplificado quando aliamos a carência de infraestrutura elétrica a capacidade produtiva da região.

Essa análise é desenvolvida a partir da criação do Índice de Prioridade para Investimentos em Infraestrutura Elétrica. Essa ferramenta revela a necessidade de investimentos em infraestrutura elétrica no Noroeste Goiano, em particular, o Vale do Araguaia, com um potencial de retorno econômico elevado. Só essa região tem a capacidade de elevar sua produção anual em quase R$ 1,5 bilhão.

O Nordeste goiano também merece atenção especial, além do toda a região sudoeste do Estado. Em resumo, os resultados levantados pelo IMB convidam a sociedade goiana para um debate voltado para o futuro do nosso Estado. A detecção e mensuração do problema constitui o primeiro passo, mas a nossa economia anseia por uma ação concreta no curto prazo.

Erik Figueiredo, diretor executivo&nbsp;do Instituto Mauro Borges (IMB)

Eletricidade x crescimento

Erik Figueiredo

De acordo com os últimos dados do IBGE, 26% da população brasileira tem mais de 50 anos, e estima-se que, em 2070, essa faixa etária representará 40%. Na contramão dessa mudança etária populacional o número de oportunidades de emprego é insuficiente, incapaz de suprir a demanda desse grupo, que será a maioria em breve.

A princípio, uma das causas dessa modificação populacional é que estamos vivendo mais e melhor do que nossos pais e avós. Os novos hábitos de saúde e os avanços da ciência e da tecnologia aumentaram significativamente nossa expectativa de vida. Em 1960, a expectativa de vida média era de 52 anos; em 2020, passou para 73 anos.

Não só vivemos mais, como temos mais vitalidade. Os 50+ quando chegam à aposentadoria ou sofrem uma demissão, não querem ficar no sofá. Querem continuar trabalhando.

Contudo, o mercado de trabalho tem se mostrado ineficiente em acompanhar essa transformação. Há empresas que impõem aos seus recrutadores que selecionem apenas candidatos até os 30 anos, por exemplo, relegando os 50+ à informalidade ou ao ostracismo e invisibilizando aqueles que, muito em breve, serão a maior parte da mão de obra disponível. Esta é a realidade dos que buscam emprego nessa idade: a discriminação cruel e silenciosa do etarismo.

É necessário e urgente a sensibilização da sociedade para essa questão. Ações, projetos e programas de inclusão digital e de requalificação profissional que possibilitem a reinserção deveriam ser públicos e obrigatórios. Um ótimo exemplo vem da UNB, que inseriu em seu programa vestibulares para pessoas acima de 60 anos, garantindo uma condição de acesso real para quem não teve condição na juventude.

A mescla da juventude com a experiência enriquece o ambiente e gera grandes inovações. Uma pesquisa realizada pelo Linkedin junto aos profissionais de RH revelou que “há uma lacuna entre as habilidades dos candidatos e as que as empresas realmente precisam.” Mais especificamente, tem faltado aos candidatos a vagas as Soft Skills, habilidades sociais como: empatia, flexibilidade, saber lidar com frustração, escuta ativa, resiliência.

Capacidades estas, inerentes à geração que nasceu antes do celular e do computador doméstico e que tinha relações sociais de fato, em razão da interação ativa que se estabelecia a partir da convivência social. Enfim, nesse contexto de exclusão, é de bom tom lembrar a fala de Martin Luther King, quando disse que “a injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça em todo lugar.”

Portanto, se a iniciativa privada, o setor público, o Estado e a sociedade de hoje não quiserem ser lembrados como segregadores e discriminatórios pelas futuras gerações, terão de reformular suas políticas empresariais de acesso e de moralidade, respeitando os direitos básicos garantidos pela Constituição Federal. Afinal, se todos somos iguais perante a lei, merecemos oportunidades em igualdade de condições.

Valeska Otto, escritora e bacharel em Direito