Causa assombro e perplexidade a constatação de que, conforme dados estatísticos do TJGO, já tenhamos registrado a distribuição de mais de 3 mil processos relacionados à violência doméstica e familiar em Goiás, apenas nos dois primeiros meses deste ano. Os números nos desafiam como magistrados, mas, sobretudo, como sociedade civil. Há algo realmente equivocado em relação ao estabelecimento de marcos civilizatórios, quando o desgaste das relações de afeto é tratado com violência física, emocional ou econômica. O problema está longe de ser apenas estatístico. A violência contra a mulher é um fenômeno que atravessa gerações e persiste em nossa sociedade. Ela não é fruto do acaso, mas sim de uma cultura que normaliza o abuso, relativiza o sofrimento feminino e perpetua relações de poder desiguais. Não se trata de casos isolados ou desvios de comportamento individuais. Trata-se de um modelo social que tolera, minimiza e, muitas vezes, justifica a agressão.