Jean-Jacques Rousseau era 12 anos mais moço que Donald Trump quando sentou para almoçar com a mulher, Thérèse, depois de um passeio pelo jardim do palácio do marquês onde vivia de favor. Aos 66 anos, estava um caco. Alquebrado, afastara-se dos amigos e tinha mania de perseguição. Já o Nero da nova Roma exalava empáfia ao subir à tribuna do Capitólio, na terça-feira. Trump parecia ter menos que seus 78 anos ao dardejar olhares belicosos à plateia planetária que acompanhava sua arenga interminável, toda ela embasada em mentiras. Com Rousseau ocorreu o contrário. Fora a verdade que norteou seus passos até 2 de julho de 1778, quando uma apoplexia o fulminou. Faltava pouco para pôr o ponto final em seu último livro, “Devaneios do Caminhante Solitário”. Nele, o filósofo se entrega a um frenesi classificatório: “Mentir para vantagem pessoal é impostura, mentir para vantagem de outra pessoa é fraude, mentir para prejudicar é calúnia”. Mais: “Mentir sem proveito ou prejuízo para si ou para outrem não é mentir. É ficção”. Mais: “Não se poderia dizer que mente se dá dinheiro falso a um homem a quem não deve”.