Robert Darnton é historiador de mentalidades. Norte-americano, é um mestre na cultura cotidiana do século 18 francês. Aos 84 anos, publicou um livro, sem tradução para o português, que é o suco da sua obra: “The Revolutionary Temper: Paris, 1748-1789”. Por “temperamento” entenda-se espírito do tempo, opinião pública, consciência coletiva. O temperamento de uma sociedade depende mais da percepção subjetiva das pessoas acerca do que se lhes ocorre do que dos fatos objetivos propriamente ditos. “Temperamento” é também o aquecimento e esfriamento do aço até adquirir determinada consistência. Assim, 40 anos de sensações confusas se soldaram no 14 de julho de 1789, quando o aço temperado do povo parisiense rasgou a Bastilha, presídio e ícone do despotismo monárquico. Havia rumores que 500 homens estavam presos lá. Eram sete: quatro falsários (um mofava na cela há 32 anos), dois doidos (um pensava que era São Luiz) e um conde (acusado de incesto pela família). O marquês de Sade fora transferido dias antes para um hospício.