Dois eventos de dias atrás, a morte do CEO da UnitedHealthcare, Brian Thompson, em Nova York, e a prisão do ex-secretário de Saúde de Goiânia, Wilson Pollara, no âmbito da Operação Comorbidade, representam o fim de trajetórias, uma literal e outra simbólica. Thompson foi vítima da violência em uma sociedade que perdeu a confiança nas corporações. Pollara, por sua vez, “morreu” enquanto gestor abatido pela corrosão ética que desviou recursos da saúde pública para interesses próprios. Ambos os casos revelam a mesma crise: a desumanização do cuidado. A saúde, que deveria ser um pacto social para garantir o bem-estar coletivo, foi transformada em um sistema que aliena e exclui. Rousseau já alertava que o rompimento desse pacto tornaria qualquer instituição ilegítima. Em Goiânia, os desvios denunciados resultaram em desassistência, enquanto pacientes morriam sem acesso a leitos de UTI. Nos EUA, a indignação com o sistema corporativo de saúde, que coloca lucros acima de vidas, tornou-se insuportável.