O relançamento de “Jeanne Dielman”, eleito o melhor filme de todos os tempos em 2022, é uma chance de ver um rito de passagem raro. Assiste-se à morte de uma diva e ao nascimento de uma ativista —e à síntese das duas na arte da atriz Delphine Seyrig. Na última enquete que a Sight and Sound faz a cada década, na qual votaram mais de 1.600 críticos do mundo todo, “Jeanne Dielman” chegou ao primeiro lugar, disse a revista, devido a sua “abordagem consciente e radical do cinema”. Na estreia, em 1975, porém, teve recepção tépida até no circuito de filmes cabeça –menos por durar 3h20 e mais por acompanhar o dia a dia e a insípida vida sexual de uma dona de casa. Atributos que levaram Delphine Seyrig a encarnar Jeanne Dielman. Ela era até ali uma sílfide com o apolíneo perfil de Greta Garbo e a rouquidão lasciva de Marlene Dietrich. Alain Resnais a descobriu em Nova York, onde fazia teatro, e a chamou para interpretar a dama enigmática de “O Ano Passado em Marienbad”.