Hoje, ao olhar para trás, 37 anos separam-nos de um dia que jamais será esquecido por Goiânia e pelo mundo: 13 de setembro de 1987. Uma data que ecoa em nossos corações como um lembrete do quão frágeis e imprevisíveis podem ser os acontecimentos. Naquele dia, o inimaginável e inesperado se concretizou.

Um acidente transformou a rotina da nossa cidade. O césio-137, um pó branco que brilhava em azul no escuro, uma substância que nos parecia distante e abstrata invadiu nossas vidas, levando medo, incerteza e dor. Mas, em meio à tragédia, a solidariedade e a força do povo goiano se manifestaram de forma extraordinária.

A união de todos nós, a coragem dos profissionais de saúde e a determinação das autoridades foram fundamentais para minimizar os danos e iniciar um longo processo de recuperação. Desde o início do acidente, foi estabelecida uma rede de apoio para cuidar das pessoas afetadas.

Atualmente, o Centro Estadual de Assistência aos Radioacidentados Leide das Neves (CARA) continua a cumprir esse compromisso, oferecendo serviços essenciais por meio de uma abordagem multidisciplinar. Isso inclui o monitoramento da saúde física e mental dos cadastrados, além de fornecer apoio contínuo às suas famílias com o objetivo de garantir a qualidade de vida. O acompanhamento é realizado tanto por meio de demandas espontâneas quanto programadas, atendimento domiciliar e hospitalar conforme a necessidade de cada caso.

Se necessário, também é disponibilizado transporte para os pacientes. Além deste suporte, ainda contam com a cobertura completa do Ipasgo Saúde que abrange consultas, internações, exames, serviços de emergência e diversos tratamentos às expensas do Governo de Goiás. Os benefícios financeiros para os radioacidentados também estão garantidos por lei, assegurando pensão vitalícia tanto da União como do Estado.

Desde 1987, o acompanhamento e a vigilância da saúde dos radioacidentados têm sido conduzidos de maneira rigorosa e regular. Agora, 37 anos após o acidente, observamos uma evolução favorável entre esses grupos, com a saúde dos indivíduos dentro dos parâmetros esperados para a população em geral.

A unidade também tem a missão de fomentar o ensino e a pesquisa referente aos efeitos tardios da radiação ionizante e, continuamente recebe visitas de instituições de ensino, pesquisadores, jornalistas e de mídia em geral para conhecerem o histórico e os dados científicos. O acidente deixou lições de cuidados que ratificaram o conhecimento mundial sobre os efeitos da exposição radioativa, dos protocolos de descontaminação imediata e do monitoramento a longo prazo, acrescentando importantes conhecimentos profissionais da área de saúde.

Goiânia reergueu-se, aprendeu e se reinventou. Prestamos homenagem aos que foram afetados, que enfrentaram desafios, venceram preconceitos e reconstruíram suas vidas. Eles demonstram que, mesmo diante de adversidades, é possível encontrar a força para seguir em frente. Sua resiliência é um testemunho do poder do espírito humano e da capacidade de adaptação às mais variadas situações.

Glauciene Esteves, diretora geral do Centro Estadual&nbsp;de Assistência aos Radioacidentados Leide das Neves (CARA)

Um dia que marcou a história

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Glauciene Esteves

O Senai Hub Goiás celebra dois anos de atuação como protagonista na conexão entre indústria, tecnologia e inovação. Nesse período, o espaço se consolidou como um ponto estratégico no fortalecimento do ecossistema de inovação no Estado, promovendo soluções tecnológicas e oportunidades de crescimento para empresas de diversos setores.

Com mais de 20 parcerias estratégicas firmadas e a participação ativa em mais de 30 eventos, o Hub, na Faculdade Senai Ítalo Bologna, em Goiânia, promoveu cinco edições do evento Pílulas de Inovação e recebeu mais de 400 visitantes em suas instalações. Esses números refletem o compromisso com o desenvolvimento industrial de Goiás, focando na transformação de desafios em oportunidades concretas.

Entre os destaques, o Edital Regional de Inovação para Micro e Pequena Indústria, realizado em parceria com o Sebrae, já passou por dois ciclos e contemplou os setores de alimentos, bebidas e cosméticos; moda e vestuário; metalmecânica; e construção civil. Foram mobilizados R$ 2,4 milhões, com valores entre R$ 100 mil e R$ 150 mil por projeto, impulsionando soluções reais para demandas do setor produtivo.

Outro marco relevante é o Programa de Bolsas de Desenvolvimento Tecnológico e Industrial Fapeg/Senai, que integra pesquisa acadêmica ao ambiente industrial. Ao todo, 15 bolsas foram disponibilizadas para mestres, mestrandos, doutores e doutorandos, incentivando o desenvolvimento de soluções aplicadas e a gestão de projetos no Senai.

No campo da sustentabilidade, a Chamada Carbono Neutro no Setor Sucroenergético reforçou o compromisso com práticas sustentáveis, conectando indústrias de médio e grande porte com startups e empresas de base tecnológica.

A atuação do Hub se estende ainda a iniciativas como o Open Day e o Grand Prix de Inovação, eventos que aproximam empresas das soluções oferecidas pelos Institutos Senai. Como parte das comemorações de aniversário, foi lançado o programa Conexão Senai: Indústria, Inovação e Tecnologia, que inaugura nova etapa de relacionamento com o setor industrial goiano. O programa visa fortalecer o elo entre as indústrias e o Senai, por meio de comunicação integrada, eventos técnicos, oportunidades via editais e ampliação de parcerias estratégicas, promovendo o acesso a mais de 500 serviços tecnológicos e de inovação.

Não há dúvidas de que o Hub é um empreendimento do Sistema Fieg que induz o desenvolvimento científico e tecnológico, mas que acima de tudo promove comunicação integrada, fortalecendo a conexão com as indústrias, por meio da promoção das soluções do Senai Goiás nos diferentes canais de comunicação físico e digital. Que estimula, por meio de eventos e experiências, o engajamento de mais de 250 indústrias atendidas, as quais participaram, em 2024, dos programas Brasil Mais Produtivo, Alimento Confiável e Indústria Mais Competitiva, em painéis, workshops, seminários e encontros de networking.

O Senai Hub Goiás segue empenhado em transformar desafios em oportunidades, conectando empresas, startups, redes de institutos e fomentos financeiros para impulsionar a inovação no Estado.

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André Rocha é presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg) e dos Conselhos Regionais do Sesi e Senai

Dois anos de inovação

André Rocha

Assim começa mais um relato de uma menina, de 12 anos de idade, vítima de violência sexual desde os 8 anos, em Goiânia.

“É pra contar desde o começo? Eu tinha uns 8 anos. Ele ia no meu quarto a noite, quando eu estava dormindo, e passava a mão no meu corpo, dizia que era carinho. Eu não entendia direito. Ele fazia isso quase toda noite. Depois ele passou a tirar a minha roupa e encostar o corpo dele em mim. Ele dizia que não tinha problema fazer aquilo porque ele não era meu pai, só meu padrasto. Ele falava que eu era especial, me dava doces, dinheiro (2 reais, 5 reais), dizia que era um segredo nosso e que eu não podia contar pra ninguém. Quando eu comecei a entender, eu tentava escapar, mas ele me batia e dizia que se eu não deixasse ele fazer o que queria, mataria minha mãe. Minha mãe trabalhava o dia todo, chegava em casa à noite. Até que eu fiquei mocinha, aos 12 anos, e ele não fez mais. Só que aí ele passou a se aproximar da minha irmã, de 6 anos. Foi quando eu decidi que tinha que contar pra alguém, eu não podia deixar ele fazer aquilo com minha irmã.”

O relato dessa menina é o retrato da violência sexual no Brasil. A cada hora mais de 5 meninas (menores de 14 anos) são estupradas no país, dentro de suas residências. Os estupradores são, na maioria, os pais, padrastos ou familiares próximos.

Para muitas meninas brasileiras, a casa é o lugar menos seguro para elas estarem. Aquele conselho repetido por muitas mães aos seus filhos “não falem com estranhos na rua” já não serve como antes, porque não é na rua que ocorrem os estupros.

Outro fato importante: o estuprador não é um monstro. Ele é o cidadão comum, de qualquer cor e classe social, não tem histórico de cometimento de outros delitos, não desperta suspeitas, convive bem em sociedade e com a sua família, leva os filhos para a escola e vai à missa aos domingos. Uma coisa todos os abusadores têm em comum: proximidade e confiança com a criança.

A confiança é um fator que propicia o início do abuso sexual infantil. O estupro não começa com uma violência. No início, é só uma “brincadeira”, não dói, não machuca, não deixa marcas visíveis, pelo contrário, é confundido com um gesto de carinho. Só depois é que os atos vão se intensificando e se agravando.

Muitas vezes a criança ainda não tem discernimento sobre o próprio corpo e, por isso, não consegue identificar que está sendo vítima de violência sexual. O estuprador se aproveita da inocência da criança e consegue praticar o crime de forma continuada, por anos, contra a mesma vítima, em razão, dentre outros fatores, da falta de informação da criança.

E por que a informação é tão importante? Porque ela protege a criança do abuso. No estupro, a cena do crime é o corpo da criança.

A prevenção ao abuso é feita com informação adequada, transmitida à criança pelos pais e pela escola, em linguagem apropriada à idade, com diálogo aberto e respeitoso, que inclua, desde cedo, orientações sobre o seu corpo, como ele se desenvolve, quais são as partes íntimas e quem pode tocá-las.

Informação é proteção!

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Camila Fernandes Mendonça é promotora de justiça em Goiânia

É pra contar desde o começo?

Camila Fernandes Mendonça

Nos últimos anos, temos acompanhado uma transformação importante nas dinâmicas do comércio exterior, com impactos diretos na produção agrícola nacional e, em especial, goiana. A sinalização de que a China pretende ampliar a importação de soja brasileira, diante de um cenário global de tensões comerciais, é mais do que uma notícia interessante: é um indicativo claro de que estamos diante de um momento estratégico que precisa ser compreendido com maturidade e visão de futuro.

O interesse chinês já era esperado. O cenário internacional, marcado por conflitos comerciais entre potências econômicas, naturalmente provoca uma reorganização nas rotas comerciais. Nessa lógica, o Brasil desponta como um dos principais fornecedores mundiais de grãos e proteínas, e Goiás, por sua vez, assume papel de destaque nesse tabuleiro. Produzimos muito, com qualidade e capacidade de expansão. No entanto, para aproveitarmos plenamente essa conjuntura, é fundamental estarmos preparados para os desafios logísticos, diplomáticos e estruturais que acompanham oportunidades dessa magnitude.

A Associação Comercial, Industrial e de Serviços do Estado de Goiás (Acieg) acompanha de perto os movimentos do mercado global e entende que, para além do aumento da demanda, o que está em jogo é a consolidação de parcerias duradouras, baseadas na confiança mútua e na previsibilidade das relações comerciais.

Neste contexto, a própria Feira Internacional de Comércio Exterior do Brasil Central (Ficomex), que neste ano será realizada, em Goiânia, entre 4 e 6 de setembro, entra em cena como um evento estratégico para fortalecer as relações entre empresas e exportadores brasileiros com o mercado internacional. É uma plataforma que oferece oportunidades ao setor empresarial, que entende desafios e potenciais das micro às grandes empresas.

Não se trata apenas de vender mais, mas de construir pontes sólidas, sustentáveis e equilibradas. É nesse ponto que a diplomacia econômica torna-se um pilar estratégico: o diálogo aberto, a clareza nos acordos e a boa relação entre os países são fatores decisivos para o sucesso das negociações.

Também é preciso compreender que o Brasil, mesmo sendo um dos maiores produtores de soja do mundo, não consegue absorver internamente toda a sua produção. Isso exige de nós uma atuação coordenada para ampliação dos mercados internacionais, diversificação dos parceiros comerciais e fortalecimento das cadeias logísticas. Goiás, com sua vocação agrícola e capacidade de articulação, tem condições reais de crescer ainda mais.

Neste cenário, cabe ao setor produtivo goiano unir esforços, investir em infraestrutura, buscar inovação e, sobretudo, manter-se atento às demandas do mercado internacional. A oportunidade está posta. O desafio é responder à altura, com competência, responsabilidade e visão estratégica. O futuro das exportações brasileiras — e goianas — passa, cada vez mais, pela capacidade de dialogar com o mundo.

Rubens Fileti, presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços do Estado de Goiás (Acieg)

Crescem os que estão atentos

Rubens Fileti

Comandante da guerrilha uruguaia, assaltante de bancos, enterrado vivo em masmorras por 13 anos —proibido de ler durante sete—, o “Dom Quixote disfarçado de Sancho” é tema de biografias, ensaios, relatos históricos, dezenas de livros. Ele mesmo não escreveu nenhum.

Como 99% dos políticos cucarachas —sobre todo los de acá—, Mujica era loquaz. Com o agravante de ter contraído na cadeia o vício de falar sozinho. Mas, ao ser solto, não soltou a voz nos palanques, como é de praxe com os milongueiros do caudilhismo.

Segue abaixo uma seleta das frases que falou. Elas revolvem a virada de um socialista na virada do século. Ao ascender ao poder, Mujica herdou a Queda do Muro, o féretro da ideia de revolução, a barafunda ideológica, a ruína da perspectiva socialista. Teve vitórias: a legalização do aborto, da maconha e do casamento dos de mesmo sexo.

Contudo, são crescentes as guerras, a deterioração ambiental, as massas miseráveis. Em tempos de capitalismo triunfante, Mujica foi um símbolo da esquerda. Mas símbolo do quê? De pragmatismo, de que outro mundo é possível, de resignação, de que não há mesmo alternativa?

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“O único caminho para a libertação nacional e a revolução socialista é a luta armada” —aos 35 anos, em 1967, quando era Facundo, comandante dos Tupamaros.

“Não seria quem sou se não fosse a solidão da cela. Seria mais fútil, mais frívolo, mais superficial.”

“O problema é que o mundo é dirigido por pessoas velhas que se esquecem de como eram quando jovens.”

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“Aprendemos que a luta do tudo ou nada é o melhor caminho para não mudar nada. A maior parte dos países que estão socialmente à frente tem uma vida política serena, de pouca épica, poucos heróis, poucos vilões” —aos 74 anos, em 2010, no discurso de posse na Presidência.

“Descobrimos que governar é bem mais difícil do que pensávamos. Que os recursos públicos são finitos e as demandas sociais infinitas. Que a burocracia tem vida própria e a economia tem regras ingratas, mas obrigatórias. Tivemos de aprender, com enorme dor e vergonha, que nem todos do nosso lado são imunes à corrupção.”

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“Fui uma vez à Alemanha e me puseram num Mercedes-Benz. Só a porta pesava uns 3.000 quilos. Botaram 40 motocicletas na frente e outras 40 atrás. Fiquei com vergonha. Ficamos na casa para presidentes. Tinha quatro andares. Para tomar um chá você tinha de andar três quarteirões. Era totalmente inútil. Deviam transformá-la numa escola.”

“A sobriedade é uma forma de viver, uma luta para manter a liberdade. Se deixo que as necessidades se multipliquem ao infinito, tenho que viver para cobrir as necessidades e não sobra tempo para fazer o que me motiva. Pobre é quem precisa muito.”

“O homem deve superar o capitalismo, mas os caminhos que tentou foram de uma ingenuidade espantosa.”

“O capitalismo não é a solução, há que se buscar outra coisa. A América Latina não tem soluções, a América Latina procura. Pertencemos a essa busca.”

“Nada de colocar o Estado como patrão, porque já vimos esse filme. E nada de passar para o lado do capitalismo. Temos de achar outro caminho para chegar ao socialismo.”

“A sífilis é evitável; o capitalismo por enquanto não.”

“Confunde-se desenvolvimento com o fetiche de acumular coisas.”

“Não viemos ao mundo para desenvolver a economia, mas para sermos felizes.”

“Os ricos não querem mudar nada, os pobres não podem.”

“O que estou fazendo? Reinventando o capitalismo, mas não renuncio ao socialismo.”

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“A sociedade uruguaia protegeu os funcionários públicos muito mais que os trabalhadores privados. Na crise de 2002-2003, quase 300 mil perderam o emprego e 200 mil tiveram redução de salário. Todos trabalhadores privados, todos.”

“Não quero nos chamar de latino-americanos porque não descendemos só de latinos. Somos descendentes de negros, povos indígenas, asiáticos. Somos descendentes de todos os pobres e perseguidos do mundo que vieram para a América sonhando com um futuro.”

“A religião é uma forma de consolo, não de transformação social.”

“O tango é pura nostalgia; do que se teve e do que não se teve. O tango é para quem aprendeu na vida a perder.”

“Sou um velho meio louco” — aos 89 anos, em novembro, na última entrevista.

Mario Sergio Conti, jornalista, é autor de “Notícias do Planalto”