Câmara de Goiânia Dias atrás, publiquei neste espaço uma reflexão sobre os desvios éticos que vêm contaminando a política goianiense. Hoje, volto ao tema com ainda mais preocupação, diante das recentes movimentações na Câmara Municipal de Goiânia, onde vereadores da base aliada têm pressionado o prefeito Sandro Mabel por cargos comissionados e liberação de emendas parlamentares. O que deveria ser diálogo institucional virou moeda de troca - e, em certos aspectos, ameaça. Segundo noticiado, há articulações para abertura de uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) com o objetivo de investigar contratos da prefeitura com a empresa Limpa Gyn. Embora o papel fiscalizador da Câmara seja legítimo e necessário, o uso desse instrumento como ferramenta de barganha política representa uma grave distorção ética. Quando a fiscalização se torna chantagem, a democracia perde. O Código Penal Brasileiro é claro: constranger alguém mediante grave ameaça, com o intuito de obter vantagem indevida, configura extorsão (Art. 158). E quando essa prática ocorre dentro das instituições públicas, travestida de negociação política, o dano é ainda maior - porque mina a confiança da população e compromete os pilares da administração pública: impessoalidade, moralidade e eficiência. O poder político não é propriedade privada, tampouco deve servir a interesses pessoais ou partidários. Cargos comissionados existem para atender às necessidades da gestão, não para satisfazer acordos informais. Emendas parlamentares devem ser instrumentos de melhoria para a cidade, não moedas de troca em balcões de influência. A política precisa resgatar sua vocação pública. O cidadão goianiense merece representantes que legislem com responsabilidade, fiscalizem com ética e proponham soluções reais para os desafios da cidade. É hora de reafirmar: cargos públicos não são prêmios, e a democracia não pode ser refém de interesses obscuros. Goiás, em especial a cidade de Goiânia, precisa de políticos que sirvam ao povo - não de políticos que se sirvam do poder.