Crime organizado As recentes declarações do ministro da Justiça na CPI do Crime Organizado, ao afirmar que o combate à criminalidade depende sobretudo de “dinheiro, dinheiro, dinheiro”, revelam uma perigosa simplificação de um problema que hoje ameaça a própria soberania do Estado brasileiro. É inegável que segurança pública exige recursos. Contudo, o crime organizado não venceu o Brasil por ter mais dinheiro, mas porque encontrou um Estado historicamente desarticulado, capturável e, em muitos momentos, conivente. Nenhuma organização criminosa se fortalece apenas pela escassez orçamentária. Ela prospera quando domina o sistema prisional, infiltra-se nas instituições públicas, lava dinheiro com relativa facilidade e se beneficia da ausência de uma política nacional consistente de inteligência financeira e repressão patrimonial. O maior erro estratégico do país não foi gastar pouco, mas gastar mal, sustentando um modelo penitenciário que se converteu em centro de comando de facções e tolerando estruturas públicas enfraquecidas pela corrupção. Destinar mais recursos a esse sistema, sem reformá-lo profundamente, tende apenas a ampliar o poder das organizações que se pretende combater.