Olhar inclusivo Sou psicóloga e trabalho há mais de 30 anos em um hospital psiquiátrico. Em muitos casos a internação é uma medida realmente necessária, que evita o agravamento de um quadro psíquico e protege o paciente de danos maiores. O afastamento de um ambiente cotidiano que pode estar servindo como gatilho ou reforçador, uma boa anamnese e diagnóstico, a implementação de tratamentos específicos indicados a cada caso, assim como a atuação de toda equipe de saúde mental fazem toda a diferença. De início, não é incomum que o ambiente hospitalar seja rechaçado pela maioria dos pacientes, mas com o passar do tempo, supreendentemente, pode vir a ser considerado, pelos próprios pacientes, um local de segurança, acolhimento e proteção durante uma crise. No entanto, para que isso aconteça, dependerá da postura adotada pela equipe para conduzir não só o tratamento, como a simples presença dessas pessoas nesse novo ambiente. Tanto os acometidos por transtornos mentais, quanto os que são dependentes de álcool e outras substâncias, estão acostumados a serem vítimas de preconceito na sociedade como um todo, e por isso frequentemente agem como se estivessem envergonhados e sentissem culpa de sua própria condição. Portanto, é impressionante como um ambiente com suas rotinas e regras definidas pode contribuir para um maior equilíbrio e organização mental. Além disso, quando se consegue criar um espaço livre de julgamento e no qual se consegue desenvolver um olhar e uma escuta mais sensíveis, isso tem o poder de fazer com que essas pessoas percam a invisibilidade corriqueira e sintam-se efetivamente enxergadas, sem se considerarem inadequadas ou insuficientes, trazendo um conforto emocional. A esse olhar diferenciado, imbuído de algo especial, mas que deveria ser o olhar comum, dou o nome de olhar inclusivo. Após o tratamento medicamentoso começar a surtir efeito, e ser dado o direito e o espaço para esse paciente se expressar, percebe-se um desabrochar humano e um resgate da expressão de si mesmo.