Experiente político e administrador, o ex-prefeito Iris Rezende se fechava em seu gabinete no primeiro ano de governo. Iris se dedicava a controlar com mão de ferro a receita e a despesa e a esperar, pacientemente, o tempo passar. Ele sabia que o primeiro ano de governo – em especial quando faltam recursos e sobram dívidas – costuma ser o mais difícil. Levam-se meses para organizar a máquina pública, reabastecer o caixa do Tesouro e para os resultados começarem a aparecer. Experiente gestor privado, o empresário Sandro Mabel assumiu seu primeiro mandato no executivo com superexposição nas redes sociais e na mídia. Participa de mais de uma agenda pública por dia para lançar projetos, visitar órgãos ou conferir ações administrativas, no ritmo do ex-prefeito Rogério Cruz. Herdou dele o gosto por aparecer em eventos com uniformes de servidores, jaqueta de agentes de trânsito, coletes da defesa civil, de agentes comunitários, boné de garis, entre outros. Mabel foi às ruas apresentar modificações no trânsito e já diz que a fluidez aumentou 30%, quando a percepção da população continua sendo a do congestionamento nos horários de pico; lançou testagem de semaforização inteligente em 3,1 kms dos 13 kms do Eixo Anhanguera, entre terminal da Praça da Bíblia e o Terminal Jardim Novo Mundo, projeto de metronização do transporte que só deve funcionar a partir de janeiro. Ele surgiu ligando iluminação de LED em ruas da cidade, enquanto boa parte dos bairros, na região central e na periferia, segue com lâmpadas queimadas e no escuro; acompanhou o transporte de mobiliário novo para uma unidade de saúde, quando boa parte delas segue em péssimas condições físicas. Mabel deu inúmeras coletivas para anunciar a reestruturação da Comurg. No início chegou a falar em milhares de demissões de efetivos. Passados mais de quatro meses, ainda não há prazo para essas demissões ocorrerem, porque a Comurg ainda calcula o valor que cada demitido terá direito a receber. Em outra frente, a prefeitura replica ações e programas muito criticadas na gestão anterior. Segundo reportagens deste jornal, já renovou oito contratos iniciados no governo anterior que totalizam R$ 38,9 milhões, seis deles sem licitação. A Secretaria de Engenharia Trânsito (SET), por exemplo, renovou, em um processo que durou apenas 16 dias, o contrato de R$ 167,24 milhões com a Jardiplan Urbanização e Paisagismo, de Itapetinga (SP), para serviços de implantação, ampliação e manutenção da sinalização viária por cinco anos. Essa empresa foi contratada em junho de 2024, sem licitação e por adesão à ata. Em janeiro, Mabel tinha dito que suspenderia todos os contratos feitos por essa modalidade.Entre outras ações polêmicas, e em meio à apreciação pela Assembleia Legislativa do pedido para prorrogar o decreto de calamidade financeira, a prefeitura decidiu gastar mais de R$ 8 milhões com os cachês de cantores famosos (como Amado Batista, Belo e Wesley Safadão) e com a estrutura dos shows da 78ª Exposição Agropecuária de Goiânia. O prefeito disse que receberia emendas individuais de parlamentares para cobrir essas despesas, o que não aconteceu até o momento.Se a régua de 100 dias é insuficiente, e injusta, para avaliar uma gestão, a rota seguida pelo gestor dá uma pista do que pode vir a acontecer. Por enquanto, Mabel tem agenda parecida com a do seu antecessor, muito voltada para os varejinhos, sem visão de médio e longo prazos e sem claras prioridades administrativas. A gestão ainda não se debruçou sobre demandas estruturais, sobre o planejamento da capital dos 100 anos, um futuro bem próximo, pois Goiânia se tornará centenária em 2033. Mabel tem o tempo a seu favor. Tem como definir prioridades, focar em grandes projetos (revitalização do Centro, programa de drenagem, recuperação da saúde municipal, investimentos públicos) e deixar o varejo para os secretários, seus superintendentes e gerentes e para os vereadores, pois isso eles adoram fazer. Esse tempo, contudo, não é o das redes sociais, onde tudo se resolve em um clique.