O cientista político e diretor do instituto Quaest Pesquisa, Felipe Nunes, disse nesta quinta-feira (25) em entrevista ao quadro “Na Trilha da Política”, na CBN Goiânia, que houve mudança clara na percepção da opinião pública depois do tarifaço imposto ao Brasil pelo presidente americano Donald Trump. Segundo ele, uma parte do Brasil entendeu que a direita, em especial a direita bolsonarista, estava errando, que jogava contra o Brasil.

Essa percepção ajudou a melhorar a avaliação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e, consequentemente, prejudicou os pré-candidatos a presidente da República da direita, como o governador Ronaldo Caiado (UB). “Fora dos seus redutos eleitorais, eles [governadores da direita] acabaram acumulando alguma rejeição”, disse Nunes ao ser questionado sobre uma declaração do governador Caiado (UB) a uma emissora de rádio paulista, na quarta-feira (24), que, se pudesse, pediria a Trump para cancelar a sanção econômica ao Brasil.

<cite>Se eu puder fazer um pedido aqui, pela Rádio Eldorado, ao presidente Trump, eu diria 'oh, por favor, cancele esse tarifaço e deixe com que nós da oposição, com competência e capacidade, ganhemos as eleições. Medidas como essas só fazem nos prejudicar e dar palanque a quem não construiu nada neste mandato. Tenha o Brasil como aliado, como parceiro. Cancela esse tarifaço que, em 2026, vamos derrotar o Lula'”, disse o governador.</cite>

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Felipe Nunes esteve em Goiânia nesta quinta-feira para fazer a palestra “Os desafios enfrentados pelas instituições públicas para se comunicar com efetividade em tempos de polarização e desinformação”, no 1º Encontro Goiano de Comunicação no Setor Público, realizado no auditório do Tribunal de Contas do Estado (TCE), e organizado pela Associação Brasileira de Comunicação (ABC). Confira a entrevista a seguir.

Felipe, o governador deu uma entrevista à Rádio Eldorado, dizendo que se ele pudesse falar com o Trump ele ia pedir para ele revogar o tarifaço (…) para deixar que a oposição, com competência, ganhasse as eleições. O que mudou após o tarifaço que levou o governador a fazer esse apelo? Nas pesquisas que a gente faz na Quaest, ao longo desse ano, deu para ver uma mudança clara na opinião pública. Depois da crise do PIX e depois da crise do INSS, o governo [do presidente Luiz Inácio Lula da Silva] ficou seis meses, basicamente, com uma reprovação em crescimento. Até que os gestos, principalmente da família Bolsonaro, e aí eu estou falando especialmente do próprio deputado federal, Eduardo Bolsonaro, nos Estados Unidos, acabaram deflagrando, num pedaço do Brasil, uma mudança de opinião muito significativa. Classe média, do Sudeste, ensino superior, renda um pouco mais alta, acabou tendo uma visão de que a direita, e aí, nesse caso, a direita bolsonarista, estava errando, estava jogando contra o Brasil.

E esse público, que estava muito insatisfeito com o governo, acabou melhorando a sua aprovação. O Lula recuperou, de julho para agosto, quase sete pontos de diferença na aprovação, e, de agosto para setembro, mais três pontos. Ou seja, dá para dizer com clareza que o tarifaço foi fundamental para a recuperação que o governo Lula vem fazendo nesses últimos dois meses, junto com a inflação de alimentos. Tem muita gente esquecendo desse elemento, mas ele é fundamental. Como a inflação de alimentos ficou baixa, de julho para agosto, agosto para setembro, houve um percentual de brasileiros, principalmente os mais pobres do Nordeste, que passaram a achar que o governo Lula é melhor. Então, acho que dá para dizer com alguma evidência científica que o tarifaço, junto com a inflação, foram dois fenômenos importantes para essa mudança de perspectiva.

Bom, isso me faz pensar que eu ouvi algumas análises que esses governadores da direita deveriam ter se posicionado claramente lá atrás, contra o tarifaço. Isso se confirma agora? A gente, inclusive, perguntou em pesquisa. A gente fez pesquisa em agosto, logo depois do tarifaço, em oito estados: Minas, São Paulo, Rio, Goiás, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Paraná. E uma das perguntas que a gente fez é se o governador teve um desempenho bom ou ruim diante do tarifaço? A gente descobriu duas coisas. Dentro de casa, os governadores foram apoiados. Então, por exemplo, em Goiás, o Caiado foi visto, pelos goianos, como um governador que agiu bem diante da pandemia. O Tarcísio [de Freitas], em São Paulo, também teve apoio. O [Romeu] Zema, em Minas. Mas fora dos seus redutos eleitorais, eles acabaram acumulando alguma rejeição. Para você ter ideia, de julho para agosto, foi a primeira vez que a gente viu aumentar, nacionalmente, a rejeição desses nomes da direita. E a minha avaliação é que, quando a gente olha para qual eleitor está falando isso, é justamente o eleitor que achou, nacionalmente, que esses governadores não foram bem.

Outro fato político novo, que influenciou muito na opinião pública, foi a PEC da blindagem. A votação pela Câmara dos Deputados levou às manifestações da semana passada. Como é que você percebe esse movimento e o reflexo disso na opinião pública? O que a gente tem visto é que, se o Supremo Tribunal Federal está mal avaliado, se o governo federal está mais desaprovado, o Congresso Nacional é o grande vilão

da democracia brasileira. Hoje, na palestra que dei aqui em Goiânia, eu mostrei como a confiança em partidos políticos no Congresso é muito pequena, muito baixa. E quando a gente compara pesquisas feitas antes e depois da PEC da Blindagem, claramente piorou a percepção pública sobre o Congresso, em especial. Então, eu acho que dá para dizer que, se os deputados e senadores já iriam, naturalmente, para um ano eleitoral como o ano que vem, com uma imagem desgastada, depois da PEC da Blindagem, a situação ficou ainda mais desafiadora para eles. A reversão que a gente viu – inclusive da manifestação, esquerda e a sociedade civil, [que] não conseguiam fazer uma manifestação do tamanho que a gente viu na última semana há muito tempo –, para mostrar como o Congresso foi inábil nessa agenda.

Felipe, outra questão a respeito ainda dessas manifestações: o que a gente pode perceber daqui para frente? Porque a gente viva na polarização, você trabalha esse conceito no seu livro [Biografia do Abismo], e parece-me que isso não foi quebrado pelas manifestações. Quer dizer, qual cenário você percebe da opinião pública agora? A gente tem, basicamente, no Brasil, nove identidades que vão à urna. Dessas nove, três estão calcificadas em torno da direita antipetista. Eu estou falando, basicamente, do agro, da direita mais extremada e dos empresários, junto com os conservadores cristãos. Esse público, esses quatro públicos, vão votar contra o PT. Os militantes de esquerda, os progressistas e os dependentes do Estado [pessoas que dependem de programas sociais], vão votar a favor do PT. Isso está calcificado no Brasil. Não à toa as eleições estão cada vez mais competitivas. O que está em jogo? Você tem, basicamente, 10% de eleitores que ainda podem definir seu voto, que estão em dúvida, que é o eleitor pêndulo. Quem são eles? Dois tipos: liberais sociais e empreendedores individuais. Esses dois grupos já votaram no PT, já votaram contra o PT e vão ser decisivos na eleição de 26. É um grupo pequeno, muito difícil de ser convencido, muito crítico, muito exigente, mas é ele que está em disputa.

A direita está num momento difícil, por conta [da condenação] do Bolsonaro, dessa melhora [da avaliação] do Lula. O processo mais definido do candidato [a presidente da República] hoje é impossível? A direita está vivendo aquilo que a gente conhece nos Estados Unidos como as primárias da direita. Ou seja, nos Estados Unidos é muito comum, quando o Partido Democrata está na oposição ou quando o Partido Republicano está na oposição, eles fazem primárias para ver quem é o candidato. É isso que está acontecendo agora. As primárias da direita envolvem Tarcísio, Caiado, Zema, Ratinho [Júnior, governador do Paraná], para falar dos quatro mais importantes. O que eles disputam agora é, primeiro, manter a base firme dentro de casa, então o

Caiado tem que sair bem aprovado de Goiás, Zema tem que sair bem aprovado de Minas, Tarcísio, de São Paulo e Ratinho, do Paraná, para daí começar a conquistar terreno em [eleitores] outros estados. O grande desafio deles qual é? Eles estão disputando o mesmo eleitor. Como eles estão disputando o mesmo eleitor, eles estão, de fato, disputando ali território. O Tarcísio tem uma vantagem, porque o eleitorado de São Paulo é muito maior. O desafio do Caiado, nesse sentido, é um pouco maior, porque Goiás é menor, mas ele tem a possibilidade de ganhar o Centro-Oeste, que, eu acho, tem mais chance de vir com ele do que ir com outros nomes. Então, é uma disputa acirrada, acho que vai ser muito interessante ver as pesquisas e a evolução da opinião pública e, principalmente, como esses governadores vão se comportar diante do aumento da rejeição do bolsonarismo no Brasil.

Governadores da direita acumulam rejeição com tarifaço, diz diretor da Quaest

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Cileide Alves

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CHEGA PRA CÁ

<img attr-cid="policy:1.3311788" attr-version="policy:1.3311788:1757716085" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3311788/Proporção para foto do site (1).jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
Deputado estadual Rubens Marques (Reprodução / Instagram Rubens Marques)

O deputado estadual Rubens Marques (UB) informou ao jornal O POPULAR neste sábado (13) que desistiu de ser secretário extraordinário da prefeitura de Goiânia e de pedir licença na Assembleia Legislativa para abrir sua vaga ao primeiro suplente, o ex-deputado Álvaro Guimarães (UB). A desistência ocorreu um dia após o próprio deputado confirmar a esta coluna que havia conversas preliminares com o prefeito Sandro Mabel <a href="https://opopular.com.br/opiniao/deputado-estadual-pode-assumir-como-secretario-de-mabel-1.3311785" target="_self">feitas por meio de deputados e confirmar que tinha intenção de assumir o cargo</a>.&nbsp;

Hoje o deputado afirmou que a notícia de sua intenção de se licenciar provocou repercussão em suas bases eleitorais. Ele informou que recebeu telefonemas de prefeitos e de outras lideranças do interior e que entendeu que poderia prevalecer a percepção de que ele desistiria da candidatura à reeleição, com risco de perder apoios em suas bases. O deputado afirmou que vai ser candidato de novo em 2026 e que esse projeto é o mais importante daí a reviravolta. 
 
Marques disse na sexta-feira (12) que não havia conversado pessoalmente com Mabel. Ele disse que a conversa aconteceria ontem, mas que não foi possível porque ele viajou para o interior e se desencontrou. O deputado também disse que não tinha conversado com o governador Ronaldo Caiado (UB) e que pretendia ter essa conversa com os dois na próxima semana.

<div class="p-readmore-box"> 
<a href="https://opopular.com.br/opiniao/base-manobra-para-ajudar-mabel-a-ter-maioria-na-cei-da-limpa-gyn-1.3305137" target="_self">Base manobra para ajudar Mabel a ter maioria na CEI da Limpa Gyn</a> 
<a href="https://opopular.com.br/opiniao/coluna-da-cileide/insatisfac-o-da-populac-o-goiana-com-saude-aparece-em-varias-pesquisas-1.3307088" target="_self">Insatisfação da população goiana com saúde aparece em várias pesquisas</a> 
<a href="https://opopular.com.br/opiniao/coluna-da-cileide/mabel-confirma-novo-lider-e-escala-vice-lideres-para-ajudar-na-camara-1.3309783" target="_self">Mabel confirma novo líder e escala vice-líderes para ajudar na Câmara</a></div>

A articulação para a licença de Rubens Marques começou com o deputado Álvaro Guimarães, primeiro suplente do União Brasil, e pelo ex-deputado Dr. Antônio, de Trindade, que é o segundo suplente. Álvaro foi deputado por sete legislaturas, entre 1989 e 2023, mas ficou na suplência em 2022, assim como Dr. Antônio.&nbsp; 
 
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Para Álvaro assumir, e depois também se licenciar para o segundo suplente, houve tentativa de Rubens Marques ser secretário extraordinário estadual. O projeto esbarrou no temor do governador de despertar interesses de outros suplentes. Por isso, o cargo de secretário municipal entrou nas conversas.&nbsp;

Cileide Alves - Jornalista 
TT: @cileidealves 
Instagran: @cileide.alves

Deputado desiste de ser secretário de Mabel e de abrir vaga a suplente

A pragmática reorganização da centro-direita, elaborada por governadores e presidentes nacionais de seis partidos, busca estruturar um projeto alternativo ao clã de Jair Bolsonaro (PL) ao mesmo tempo em que evita o total descolamento do eleitorado radical. Especialistas avaliam o jogo duplo e apontam o afastamento do ex-presidente como natural, mas a viabilidade eleitoral do movimento depende da unificação do discurso entre as principais lideranças e da coesão do grupo, que ainda analisa estratégias para a disputa presidencial de 2026.

O voo solo dos direitistas, sem o apoio direto de Bolsonaro, foi articulado na última semana diante das reações negativas à atuação de Bolsonaro e seu filho Eduardo Bolsonaro (PL/SP), deputado federal licenciado, que fomentam o tarifaço dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros para pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF).

Um jantar na casa do presidente da federação entre União Brasil e PP, Antonio Rueda, deu a largada para a formação do bloco moderado.

Para a doutora em Ciência Política pela Universidade de Brasília (UnB), Marcela Machado, o cenário mostra um inevitável descolamento de parte da direita em relação ao bolsonarismo.

Segundo ela, o movimento é natural e combina o pragmatismo e o distanciamento causado pelos atritos judiciais e familiares de Bolsonaro. “Isso se intensificou principalmente com a exposição recente dessas conversas do Malafaia”, diz.

A Polícia Federal indiciou Bolsonaro e o filho 03 por coação no curso do processo da ação penal por golpe de Estado. Eduardo está nos Estados Unidos desde março, onde articula sanções contra autoridades brasileiras, principalmente o ministro Alexandre de Moraes, do STF, que é o relator da ação penal.

No relatório da PF, constam mensagens trocadas entre Bolsonaro, Eduardo e o pastor Silas Malafaia. Segundo a investigação, as mensagens sugerem uma articulação para vincular o fim das sanções à concessão de anistia a pessoas envolvidas na invasão de Brasília em 8 de janeiro de 2023.

Marcela Machado aponta que as reações públicas aos aspectos políticos do tarifaço foram indicadas pela última pesquisa Genial/Quaest, que mostrou recuperação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), principalmente nos cenários de segundo turno contra nomes da direita. E, segundo ela, o cenário fortalece a elaboração de estratégia alternativa ao bolsonarismo.

“Ao mesmo tempo, há essa mobilização crescente entre as lideranças partidárias e os governadores indicando uma possível viabilidade para uma candidatura de centro-direita, sem precisar do apoio do ex-presidente, que pode não ser um nome competitivo por conta desses fatos que estão respingando nele”, considera.

A especialista, no entanto, diz que a estratégia da centro-direita ainda encontra desafios. “Depende fortemente da capacidade de coordenação entre essas lideranças que estão tentando se unir e da construção de uma narrativa unificada”.

O jantar na casa de Antonio Rueda reuniu 12 governadores de Estado e presidentes nacionais de seis partidos. O grupo debate duas estratégias possíveis. Em uma, cada legenda poderá lançar nome próprio para disputar o Palácio do Planalto e depois todos apoiarão o escolhido para o segundo turno, possivelmente contra Lula.

Na outra, a direita e a centro-direita se uniriam já no primeiro turno para lançar um candidato, que pode ser o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

A primeira tese é defendida desde o início da pré-campanha, ainda em 2024, pelo governador de Goiás, Ronaldo Caiado (UB), que busca efetivar projeto próprio dentro da federação União Progressista. A composição partidária, no entanto, ainda mantém indicações em ministérios no governo Lula e é formada por lideranças e parlamentares governistas, principalmente no nordeste.

Estratégias

Para o cientista político e professor da UnB Murilo Medeiros, o bolsonarismo permanecerá como “força política e social relevante”, mas tende a se fragmentar em diferentes correntes para 2026. “A divisão interna do grupo e a capacidade de Bolsonaro, ou de um herdeiro político, em manter coesa sua base são fatores decisivos”, afirma.

Segundo Murilo, a tendência é que os governadores de oposição busquem se posicionar como “direita responsável” ou “conservadorismo moderado”, com objetivo de captar tanto o eleitorado bolsonarista órfão quanto o voto antipetista.

Sobre o afastamento da extrema-direita, Murilo Medeiros entende que parte das lideranças de centro-direita e da direita conservadora passaram a buscar “voo próprio” por conta da consolidação da inelegibilidade de Bolsonaro e do discurso radicalizado de apoiadores mais fiéis.

“O cálculo é pragmático. A radicalização pode garantir certo barulho, mas não maioria eleitoral. O desafio é preservar parte do eleitorado conservador, e ampliar o diálogo com setores moderados, preparando terreno para uma candidatura viável. O resultado provável é uma direita mais plural e menos centralizada em uma figura única”, avalia.

Doutor em filosofia e ciência política, Fábio Gentile ressalta que as pesquisas seguem apontando que o bolsonarismo é “um segmento bastante expressivo da direita brasileira”. Diante disso, diz, a estratégia da direita é acompanhar as evoluções de forma pragmática, mantendo “algum vínculo” com Bolsonaro.

“Até porque deve ser uma disputa acirrada em 2026. Esse grupo mantém discurso racional, ao mesmo tempo em que tentam se distanciar do radicalismo, que afasta setores conservadores e moderados”, diz Gentile, que integra o Observatório da Extrema-Direita no Brasil e é professor do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Já Joscimar Silva, doutor em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), não descarta a possibilidade de centralização de forças em torno de Tarcísio de Freitas, possivelmente com o nome do senador Flávio Bolsonaro na cabeça de chapa. “Tarcísio unifica o interesse máximo do bolsonarismo, que é livrar Bolsonaro da prisão, ao mesmo tempo em que apresenta uma aparência moderada para o eleitorado em geral.”

Joscimar indica que o processo levaria à “desistência de outras candidaturas” e ao lançamento de uma “candidatura figurativa” de direita radical para agregar os eleitores mais radicais no primeiro turno.

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Direita ensaia 'voo solo' em jogo duplo com bolsonarismo

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Eleições 2026

A alta popularidade do governador Ronaldo Caiado em Goiás (88% dos goianos aprovam seu governo), a satisfação com os serviços públicos do Estado, em especial segurança pública (74% de aprovação), educação (71%) e mobilidade e infraestrutura (54%) garantem ao governador prestígio político para eleger seu sucessor, afirma o cientista político e diretor do instituto Quaest, Felipe Nunes, nesta entrevista ao POPULAR e à rádio CBN Goiânia.&nbsp;

A pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta sexta-feira (22), revelou a avaliação dos governos de oito estados (Goiás, São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul), de suas políticas públicas, e apurou o cenário eleitoral para a disputa aos governos em 2026. O empate técnico na margem de erro entre Daniel Vilela (MDB), com 26% das intenções de voto, e Marconi Perillo (PSDB), com 22%, pode ser a disputa entre nome bem conhecido (Marconi) com um menos conhecido (Daniel), diz Felipe Nunes.

O cientista político ainda chama a atenção para outra característica goiana. Goiás é o estado com a maior proporção de bolsonaristas (18%) e o segundo com mais pessoas de direita (26%), o que torna os dois grupos sua principal força política.

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A imagem de alguns governadores permaneceu estável na avaliação de seus governos, outros estão com viés de baixa. 

Você tem um conjunto de governadores, Ronaldo Caiado, Ratinho Júnior, Tarcísio de Freitas, que mantêm uma alta aprovação. Nos últimos, eu diria aí, mais de um ano que a gente vem fazendo essas avaliações, uma série de governadores que começam a sofrer algum tipo de desgaste, como é o caso do Jerônimo, na Bahia, o Eduardo Leite, no Rio Grande do Sul, e acho que o destaque negativo é o governador de Minas Gerais, o Zema, que nesse momento começa a ver sua desaprovação aumentar, embora ainda esteja em um patamar alto.

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A oferta dos serviços públicos se reflete na avaliação.

Isso se confirma no caso de Goiás, porque Caiado continua bem avaliado, variou de 86 para 88 de aprovação, e quando se avaliam os serviços, ele está estável na infraestrutura, estável na segurança pública e na educação. E caiu em transporte público, que é uma área que ele investe muito aqui em Goiás, e caiu também em saúde. A variação significativa do Caiado é a saúde. O transporte é uma oscilação quase próxima da margem de erro. Acho que a saúde acaba apontando aí numa direção mais negativa. O que só reforça a importância dessas três áreas. Quer dizer, o eleitor está cobrando do governador um bom desempenho em segurança, educação e mobilidade. A saúde, ela é vista, no caso de Goiás, até como positiva. Embora esteja aí caindo, como a gente falou, mas não é uma área que o eleitor cobra o governador.

As pesquisas anteriores, que foram divulgadas quarta e quinta, mostram que esses governadores não conseguem se nacionalizar. É porque não são conhecidos, como diz o Caiado, ou há outros fatores?

É isso mesmo. A política é feita de dois momentos. O momento das escolhas das elites políticas e o momento das escolhas do eleitor. Nesse momento, o que está em jogo é a capacidade destes pré-candidatos construírem credibilidade e confiança na elite política. Por quê? Porque o que está sendo discutido agora são alianças, acordos, que partido vai apoiar que candidato. O eleitor, por enquanto, não entrou no jogo. Ele só vai entrar no meio do ano que vem, quando a campanha começar. E aí as pessoas vão estar mais atentas, com um grau de decisão maior. A única exceção é o Tarcísio, que é um governador que já tem um nível de conhecimento mais alto, embora ainda tenham 30% que não sabe quem ele é.

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Caiado defende que todos os candidatos da direita se lancem candidato, inclusive o candidato do Bolsonaro. É uma boa estratégia essa?

Nesse momento, o que a gente está vendo é uma fragmentação das candidaturas nacionais. Lembrando que o Brasil tem dois turnos. Provavelmente, esses candidatos da direita estarão todos juntos no segundo turno. É muito difícil imaginar que se Zema, Caiado, vamos imaginar que a Michele fosse candidata, pelo lado bolsonarista, o Ratinho, se todos eles se lançarem, é muito difícil imaginar que eles vão apoiar o Lula no segundo turno. Acho que é isso que dá para dizer nesse momento. Se é uma boa estratégia ou não, o tempo é que vai acabar ajudando a entender isso. Hoje, esse volume de candidaturas acaba sendo, para mim, natural no processo, já que os partidos têm que se apresentar, se nacionalizar, mostrar suas forças.

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A segunda parte da pesquisa é sobre a eleição nos estados. 

É isso mesmo. Os governadores mais bem avaliados, como Caiado, Ratinho e Tarcísio merecem ou continuar no governo ou eleger seus sucessores. Governadores que estão ali com uma popularidade mediana, por exemplo, como é o caso na Bahia, começam também a ver dificuldade do eleitor em relação a essa pergunta. E aqueles candidatos, aqueles governadores mal avaliados, como é o caso do Claudio Castro, no Rio de Janeiro, e agora do Zema, que perdeu popularidade, esses começam a ter dúvidas se é bom apoiar os seus sucessores na eleição para governador. Eu queria destacar que a pergunta se merece continuar, seja na sucessão ou na reeleição, apoiando alguém ou sendo ele mesmo, acaba sendo o principal indicador de sucesso eleitoral nos últimos ciclos. Desde que eu comecei a fazer pesquisa na Quaest, a gente usa esse “medidor de merecimento” e ele tem sido muito bom como preditor do sucesso desses governadores ou mesmo de presidentes de conseguirem alavancar suas candidaturas. Primeiro, no caso de São Paulo, que é a candidatura de reeleição concreta, a gente vê Tarcísio como o amplo favorito se ele enfrentasse o Geraldo Alckmin, que é o alguém do PSB, e no caso de Pernambuco, a governadora, se a eleição fosse hoje, perderia para o candidato do PSB, que é o prefeito de Recife, o João Campos. Acho que esses dois casos mostram bem uma certa antítese. Tarcísio, bem avaliado, tende a ganhar a reeleição, se for candidato, e a Raquel Lyra, que não consegue ter um governo tão bem avaliado e que perderia para o João Campos. Outro dado que me chama a atenção é o de Minas. A eleição mais aberta de todas, mais imprevisível nesse momento, é a eleição mineira. Não há muita clareza, não há favorito. O resto segue mais ou menos o que eu imaginava. O Moro é muito conhecido no Paraná e está muito na frente. Acho que o caso eloquente, primeiro do Rio, que o Eduardo Paes aparece como um amplo favorito, muito à frente dos seus adversários. E no caso de Goiás, o ex-governador Marconi Perillo enfrentando o vice-governador do grupo do Caiado. Ali eles estão próximos, não tem uma distância muito clara entre os dois, mas aparentemente, mesmo sendo menos conhecido, o Daniel Villela começa a aparecer como favorito para essa disputa.

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O empate entre os dois (26 a 22 entre Daniel e Marconi Perillo) e Wilder em terceiro, que é a base bolsonarista, com 10%. Isso reflete o maior desconhecimento do Daniel Villela e o maior conhecimento do Marconi?

Com certeza. Acho que esse empate, na margem de erro entre os dois, revela que o ex-governador muito conhecido parece ter um teto e o vice-governador muito pouco conhecido parece ter um piso alto. E é aí que eles se encontram, um com piso alto, outro com teto baixo. Vamos ver se do lado do Marconi Perillo ele consegue diminuir a rejeição até a eleição. E no caso do Daniel, se ao ser mais conhecido, ele consegue ganhar mais visibilidade e potencial de voto e usar todo o prestígio que o Caiado tem hoje no estado para ganhar mais prestígio, aproveitar o capital político que o Caiado desenvolveu no Estado para alavancar sua candidatura.

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Acha que é isso que está em jogo em Goiás nesse momento?

Não dá para a gente considerar que isso indica um cenário. Dá para considerar que isso indica que há um momento de uma longa disputa a ser feita. Daniel, para crescer, vai ter que ser mais conhecido e Marconi, para crescer, vai ter que diminuir a rejeição. Vai depender de como esses dois atores encaminham o processo político. Agora, chama a atenção um candidato tão desconhecido como o Daniel já aparecer numericamente à frente do ex-governador.

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Algum ponto relevante da pesquisa em relação a Goiás?

A Quaest desenvolveu uma forma de estruturar a pesquisa por meio de uma pergunta se o eleitor é de direita, se é bolsonarista, que eu queria destacar. Goiás é o estado que mais tem bolsonaristas de todos que a gente estudou: 18%, e é o segundo estado que mais tem gente de direita, 26%. Fica atrás só do Paraná, que tem 28%. Então, assim, dá para ver com clareza que Goiás é um estado em que a direita e o bolsonarismo têm uma força política, uma pungência eleitoral muito forte e que se destaca em relação aos outros estados do Brasil.

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Já ouvi que em Goiás a polarização não é com a esqueda, mas é entre o caiadismo e o bolsonarismo.

A disputa aí é entre a extrema direita versus a direita moderada, que foi exatamente o que aconteceu na eleição municipal em Goiânia. A gente viu isso, a direita radical, a direita bolsonarista, que foi para o segundo turno contra a direita moderada, apoiada pelo Caiado. E aí, claro, com o apoio da esquerda, essa direita moderada acabou vitoriosa. Acho que o cenário para o governo, parece que vai repetir uma disputa dessa. De alguma maneira, Daniel e Marconi tentando disputar essa direita moderada, enquanto a direita bolsonarista vai estar toda consumida, atraída, mobilizada pelo Wilder, que é o bolsonarista da vez.

&nbsp;Retomando a avaliação positiva e negativa dos governos estaduais, como avalia? 

Cada um dos estados reflete uma dinâmica própria. No caso de São Paulo, Goiás e Paraná, o que a gente percebe é que os governadores desses três estados conseguem ter alta avaliação positiva dos serviços públicos entregues, principalmente o serviço de segurança e o serviço de educação. Nesses três lugares, a educação, segurança e infraestrutura têm níveis acima da média dos outros estados e isso faz muita diferença para colocá-los nessa estabilidade. Nos outros, onde têm oscilações negativas dos governadores, tem pelo menos uma área que não está bem avaliada. Vou dar o exemplo da Bahia. Há uma queda significativa da avaliação dos baianos sobre a educação. Para a gente fazer uma comparação, em julho do ano passado, portanto, pouco mais de um ano, 54% diziam que a educação na Bahia era ótima ou boa, e agora, 41% apenas dizem isso. Então, tem ali uma queda grande. No caso do Rio Grande do Sul, além de uma queda na avaliação da educação, tem no emprego, renda, infraestrutura e mobilidade. No caso de Minas Gerais, também uma queda significativa na percepção sobre a educação, mas também em infraestrutura e mobilidade. Então, o que dá para perceber? A proximidade da eleição, a gente está a pouco mais de um ano do processo eleitoral, faz com que o eleitor desses estados comece a prestar mais atenção no trabalho que é obrigação, responsabilidade dos governadores. Aqueles que conseguem entregar segurança, infraestrutura e educação de qualidade estão sendo premiados.

&nbsp;No geral, além dos serviços públicos, o que mais que a avaliação dos governadores nos revela?

Nós estamos vivendo uma crise internacional. Os americanos sobretaxando o Brasil em relação a uma série de produtos. Nesse último mês, a gente viu um protagonismo grande dos governadores nesta relação. Alguns ficando mais próximos do ex-presidente Bolsonaro, que, como as pesquisas da Quaest estão mostrando, está acumulando rejeição nesses últimos dois meses. Outros ficaram mais neutros. O que essa pesquisa está mostrando, em relação a isso, é que governadores que conseguiram convencer os seus eleitores de que o desempenho deles diante do tarifaço é melhor do que o do Lula e do próprio Bolsonaro, não estão pagando o preço do tarifaço. Governadores que têm um desempenho pior do que o do Lula diante do tarifaço estão pagando o preço de popularidade. Vou dar três exemplos. Em São Paulo, em Goiás e no Paraná, a população desses três estados avalia que os governos tiveram um desempenho melhor diante do tarifaço do que o presidente Lula e do que o presidente Bolsonaro. Ou seja, o tarifaço não impactou a popularidade local deles nesses três estados. Não é o que acontece, por exemplo, com governadores de Minas Gerais, do Rio de Janeiro ou da Bahia. O que acontece nesses lugares? Os governadores, na opinião da população, têm um desempenho pior do que o desempenho do presidente. Então, o que a gente está vendo? Se, por um lado, os serviços públicos e segurança, educação e infraestrutura ajudam a entender as variações de opinião sobre os governos, por outro, governadores que conseguiram ter um desempenho melhor do que o presidente, nos seus estados, não estão pagando com rejeição, pelo menos dentro dos seus estados. Ao contrário, governadores que não foram tão bem diante do tarifaço, acabam vendo ali uma oscilação negativa da sua aprovação nesses últimos meses.

&nbsp;Quer dizer que as populações estaduais acham que as ações dos governadores têm efeito?

Tem, tem efeito. As pessoas estão acompanhando o trabalho dos governadores. Hoje, o protagonismo deles, inclusive vários deles pré-candidatos a presidente, isso está dando mais visibilidade para eles dentro dos seus estados e a população está atenta diante das escolhas, das opções que esses políticos estão tomando, seja em Goiás, seja em Minas, seja no Rio, em São Paulo, na Bahia, quer dizer, a pesquisa revela como o eleitor está atento à ação dos políticos, como eles estão dispostos, inclusive, a cobrar os políticos diante do tarifaço e dos serviços públicos, que são responsabilidade deles.

&nbsp;Os governadores estão convencendo os seus públicos locais, mas o presidente Lula não está convencendo o eleitorado. As pessoas perceberam a responsabilidade do Bolsonaro. Lula está errando na comunicação ou a percepção reflete as ações do governo?

Acho que é bom a gente ir com um pouco de cuidado nessa interpretação. Vou explicar por quê. A melhora na avaliação do governo Lula vem acompanhada de dois fatores explicativos. O primeiro é a queda no preço dos alimentos, que ajudou o Lula, principalmente no eleitorado de renda baixa, no eleitorado do Nordeste. A gente vê isso com clareza quando a gente olha para a avaliação do Lula na Bahia e em Pernambuco, que são os dois estados do Nordeste que a gente estudou com mais cuidado esse mês. Por outro lado, a gente vê um desgaste do Lula no eleitorado do Sudeste, do Sul do Brasil, do Centro-Oeste, que são regiões que não têm votado no Lula nas últimas eleições. E isso parece continuar bem calcificado. No caso de São Paulo, o que a gente está acompanhando? Tem, na opinião dos paulistas, um desempenho pior do que o do Tarcísio e eleitoralmente tem um resultado pior. No caso de Minas, o presidente Lula tem um desempenho melhor do que o do Zema. E é por isso que ele tem um desempenho eleitoral melhor. E no caso de Goiás, as coisas meio que se combinam. Caiado está melhor que o Lula no tarifaço, está entregando serviço público. Caiado ganha do Lula se a eleição fosse hoje, pelo menos no seu estado. Assim, quem conhece o Caiado em Goiás, vota nele. Quem conhece o Ratinho no Paraná, vota nele. Quem conhece o Zema em Minas, vota nele. Quem conhece o Tarcísio em São Paulo, vota nele. O que mostra que, pelo menos dentro dos seus estados, o Lula ainda não conseguiu virar o jogo diante desses governadores.