Em 23 de abril, menos de 20 dias depois de se lançar pré-candidato a presidente da República em Salvador (BA), o governador Ronaldo Caiado (UB) concordou com a formação da federação entre o União Brasil e o PP. Caiado era o principal obstáculo à aliança, mas selou acordo com o presidente nacional do UB, Antônio Rueda e com o senador Ciro Nogueira (PI), presidente nacional do PP.“O que foi acordado é que serei pré-candidato pela federação”, contou Caiado naquela noite, após os encontros em Brasília. O UB aceitou abrir espaço para Caiado em seus programas partidários e liberar recursos para pesquisas e outras despesas. Em contrapartida, o governador teria de atingir os dois dígitos nas intenções de voto até às vésperas das convenções, em julho de 2026. Nesse domingo (5) o acordo político deu sinal esgarçamento. Ciro Nogueira defendeu ao jornal O Globo as candidaturas do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ou do Paraná, Ratinho Júnior (PSD). Caiado reagiu de forma dura contra um “senador de inexpressiva presença nacional”, que prestava um “desserviço à direita”. Depois confirmou a esta colunista as tratativas com a federação Solidariedade/PRD, para uma possível troca partidária.Vários episódios entre abril e este outubro explicam as mudanças de humor político. O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (P)T) era reprovado por 57% dos entrevistados, em pesquisa Genial/Quaest de maio, e aprovado por 41%, diferença negativa de 16 pontos. Em julho, contudo, começou a fase de erros da direita. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL/SP) abriu a porta do inferno com as sanções dos Estados Unidos às exportações brasileiras. Lula recuperou popularidade (a diferença entre quem desaprova e aprova seu governo na pesquisa de outubro é de apenas 1 ponto porcentual), com repercussão positiva em seus índices de intenção de votos. O STF condenou Jair Bolsonaro a 27 anos de prisão. Seus integrantes registram as mais altas rejeições entre os políticos – Jair, Michele e Eduardo têm 63%, 61% e 68% respectivamente. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, queridinho do mercado financeiro e do Centrão, se revelou politicamente inconsistente ao tentar pular entre dois figurinos, ora de direita bolsonarista ora de direita moderada. Já Caiado não cresce nas pesquisas eleitorais, apesar de ser o único pré-candidato em campanha desde, pelo menos, abril. Interlocutores do governador já ouviram ele dizer que será candidato em qualquer cenário. O que se sabe hoje é que Bolsonaro não será candidato, mas que almeja indicar um familiar como candidato a vice-presidente. A direita não bolsonarista quer uma chapa sem a toxicidade da família presidencial, mas se vê sem alternativa sem Tarcísio de Freitas, quem melhor pontua nas pesquisas contra Lula. A candidatura do governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), não é levada a sério entre os operadores da política, seja porque não é interessante para Gilberto Kassab – o presidente nacional do PSD avesso a entrar na disputa presidencial –, seja por sua necessidade de se dedicar à disputa paranaense e de eleger seu sucessor. Restam as opções de Caiado e do governador de Minas Gerais, Romeu Zema. Ambos não têm muito a perder na disputa presidencial. Em 1989 e um estreante na política, Caiado foi candidato a presidente como um cavaleiro andante em luta incansável por seu idealismo contra a esquerda. Saudado nos comícios como “homem destemido e um homem de coragem”, ele defendia na propaganda eleitoral no rádio e na TV o “combate ao crime organizado que já existe no país” e se dirigia a “bandidos e traficantes”, prometendo que, eleito, “de minha parte será a guerra”. Passados 36 anos, Caiado volta com as mesmas bandeiras (segurança pública, combate ao PT e defesa do produtor rural) e para enfrentar o mesmo antípoda daquela eleição. Resta saber se voltará como o mesmo cavaleiro andante ou se terá estrutura partidária e eleitoral para disputar em melhores condições. Para isso, terá de torcer para uma eleição sem Tarcísio, hipótese que o Centrão desconsidera, por este lhe ser o cenário mais favorável.